Quando Khonshu, o Deus da Lua, e Galactus, o Devorador de Mundos, entram em choque, o leitor, em tese, deveria ser presenteado com uma epopeia cósmica que equilibrasse mitologia e ficção científica em doses cavalares de criatividade e profundidade narrativa, não é mesmo? Mas o que temos nesta O Que Aconteceria Se… Galactus Transformasse o Cavaleiro da Lua? é algo que, na prática, tropeça em cada passo de sua pretensão. Colocar Moon Knight no papel de arauto de Galactus é uma premissa instigante e carregada de possibilidades, principalmente ao considerar o impacto da múltiplas personalidades aqui ativas (Marc Spector, Steven Grant e Jake Lockley) sobre o Poder Cósmico. Mas o roteiro de Alex Segura ignora tudo isso e se perde em diálogos inertes e num desenvolvimento que carece de propósito e direção.
O maior problema da obra é sua incapacidade de narrar uma história coesa. A luta entre deuses, que deveria ser o ponto alto da trama, é abordada de maneira tão superficial que mal merece o título de embate. Não há o senso de gravidade, perigo ou mesmo fascínio que normalmente acompanha esses confrontos. Em vez disso, vemos uma série de ceninhas previsíveis com muita cor e bolinhas cósmicas, explosões de luz e frases de efeito por parte de Galactus, além de uma narração vergonhosa que nos guia pelas páginas. Mais adiante, a introdução de um time inteiro de ex-arautos — formado por personagens icônicos como Surfista Prateado, Senhor do Fogo, Nova e Terrax — deveria elevar a trama, mas, ao contrário, essas figuras são reduzidas a obstáculos vazios (e chatos), sem qualquer complexidade narrativa. As interações e confrontos que se desenrolam entre eles e o Cavaleiro da Lua são carentes de impacto emocional ou visual, terminando em quadros de briga que não trazem qualquer novidade digna de nota.
A arte de Scot Eaton e Chris Campana, que deveria carregar a narrativa nos momentos em que o roteiro falha, infelizmente também não consegue salvar a história. Apesar de certos quadros exibirem um bom trabalho na construção de cenários cósmicos, a dinâmica de movimentação dos personagens e a coreografia das batalhas são pouco expressivas e repetitivas, deixando a sensação de que algo crucial está constantemente ausente. A combinação disso com o roteiro insosso transforma o quadrinho em uma experiência desinteressante, na qual as páginas se arrastam e o leitor se pergunta por que deveria se importar com tudo aquilo.
No fim das contas, a edição mal justifica sua existência. Se não chega a ter um final tão ofensivo quanto o do famigerado Arauto-Hulk, é apenas porque o resultado, por mais desastroso que seja, não ultrapassa os limites da completa incoerência. Ainda assim, esta história se revela uma perda de tempo para qualquer um que esperava algo minimamente digno da grandiosidade dos personagens envolvidos. Ao falhar em explorar suas temáticas e ao entregar uma execução apática em todos os níveis, O Que Aconteceria Se… Galactus Transformasse o Cavaleiro da Lua? só reforça a sensação de que certas ideias não deveriam sair do papel. Uma leitura que não apenas decepciona, mas também levanta a pergunta: até que ponto estamos dispostos a tolerar narrativas tão desprovidas de ambição e respeito pelo próprio material? Já acabou, Dona Marvel?
O Que Aconteceria Se… Galactus Transformasse o Cavaleiro da Lua? (What If…? Galactus Transformed Moon Knight) — EUA, 15 de janeiro de 2025
Roteiro: Alex Segura
Arte: Scot Eaton, Chris Campana
Arte-final: Cam Smith, Roberto Poggi
Cores: Rachelle Rosenberg
Capa: Ron Lim, Israel Silva
Letras: VC’s Clayton Cowles
Editoria: Martin Biro
25 páginas