Home QuadrinhosOne-Shot Crítica | O Que Aconteceria Se… Galactus Transformasse a Spider-Gwen?

Crítica | O Que Aconteceria Se… Galactus Transformasse a Spider-Gwen?

Gwen e os dragões.

por Luiz Santiago
25 views

A decisão da Marvel em explorar Galactus em busca de novos arautos foi uma promessa grandiosa, mas esbarrou numa desconexão estrutural que minou sua própria concepção. A premissa — repleta de potencial — desdobrou-se em narrativas que oscilaram entre a inspiração e a improvisação, revelando uma equipe criativa e uma editoria mais interessada em surpreender a curto prazo do que em construir algo que fosse digno de uma série do multiverso, com personagens que poderiam entregar muito mais. O contraste entre a ambição cósmica do Devorador de Mundos e a superficialidade das histórias é sintomático: um gigante que devora planetas é servido por roteiros que consomem sua grandeza, deixando o leitor jogado a um turbilhão de decisões questionáveis e conclusões apressadas. Se Galactus personifica a fome infinita que controla a dinâmica de vida e morte em nível galáctico, a série parece satisfeita com migalhas de originalidade; e a Marvel, ao que tudo indica, está tranquila com isso.

Em O Que Aconteceria Se… Galactus Transformasse a Spider-Gwen?, a segunda melhor revista da série, temos uma ambientação sugestivamente medieval, muito bem ilustrada por Daniel Picciotto, evocando um universo de fantasia digno de Dungeons & Dragons. O cenário é povoado por dragões imponentes, aliens simpáticos e uma feiticeira durona e engraçada que captura o leitor e garante, ao menos nesse aspecto e recorte, uma boa leitura. Contudo, as lacunas do roteiro falam mais alto. A feiticeira enigmática, por exemplo, não tem muita explicação de existência, assim como não vemos explicadas as coisas em torno da presença da Spider-Gwen no local onde a história começa, e onde, numa sequência bem chatinha, ela recebe o manto de arauta do Devorador de Planetas.

Essa aleatoriedade reduz Gwen a uma peça num jogo mal explicado, que parece que vai dar bons frutos a qualquer momento. Enquanto a melhor revista da série (com o Gambit) explorou nuances morais com mais paciência e melhor caminho de desenvolvimento, aqui, a heroína foi conduzida aos trancos para sua função, e o roteiro, embora seja muito bacana na toada de RPG, basicamente não mostra o trabalho de arauta da protagonista, focando mais na sua permanência num planeta cheio de gente legal que ela acaba querendo salvar da fome do chefe. 

Há, por trás dessa inconsistência, uma crise maior. A Marvel, em sua ânsia de experimentar com o multiverso, trata personagens como a Spider-Gwen como avatares descartáveis, desprovidos de raízes e da capacidade de guiar uma narrativa verdadeiramente diferentona, seguindo a lógica de uma criação que jamais poderia aparecer nas HQs regulares da editora. Então, por que não aproveitar essa oportunidade e fazer algo ousado e diferente? Transpor uma heroína marcada por dualidades (vida/morte, humano/aranha) para um contexto feudal-cósmico exigia um diálogo entre seu passado traumático e seu novo papel como mensageira da destruição, vocês não acham? Em vez disso, a obra se contenta em colocá-lo como “amigona dos aliens legais”, ignorando o novo poder, a nova função (que já começa confusa) e as consequências disso. Ao cabo, temos uma batalha reticente, interrompida de maneira patética numa única página onde se lê… “fim”. Pelo menos, acabou. Estamos livres dessas pataquadas.

O Que Aconteceria Se… Galactus Transformasse Spider-Gwen? (What If…? Galactus Transformed Spider-Gwen) — EUA, 29 de janeiro de 2025
Roteiro: Kalinda Vazquez
Arte: Daniel Picciotto
Arte-final: Daniel Picciotto
Cores: Rain Beredo
Letras: VC’s Clayton Cowles
Editoria: Martin Biro
Capa: Ron Lim, Israel Silva
25 páginas

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais