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Crítica | O Provocador (Mistérios do 87º Distrito #12), de Ed McBain

Quando o 1º de abril sai do controle.

por Luiz Santiago
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Uma hora tinha que acontecer… Desde que eu comecei a ler os livros da série Mistérios do 87º Distrito, ainda não tinha me deparado com uma aventura que classificasse como inferior a uma “boa história“, tal qual esta aqui, o décimo segundo livro da saga, intitulado O Provocador. O livro é particularmente relevante para esse Universo de Ed McBain, pois faz a introdução de um personagem que voltaria a aparecer na série e daria muita dor de cabeça para os policiais do 87º Distrito: o chamado “Homem Surdo” (“Deaf Man“), ou, como é nomeado de brincadeira no meio da narrativa, “L. Sordo”. Pois bem, a despeito desse ponto importante, eu não consegui gostar tanto do livro, que achei relativamente confuso, com cenas familiares desnecessárias e uma abordagem erótica que em nada combina com a obra e nem com esta série de McBain (o nível de erotismo aqui é mais comum nas obras que o autor escreveu como Evan Hunter).

A trama começa no dia 1º de abril, e essa atmosfera contribui para o clima de brincadeiras e trotes telefônicos que diversos proprietários de lojas próximas a bancos e joalherias estão recebendo na cidade. Um desses proprietários, David Raskin, foi amigo do pai do detetive Meyer Meyer, e como um favor ao conhecido da família, o policial acaba se responsabilizando pelo “caso”, que inicialmente é visto apenas como uma brincadeira de mal gosto, mas após alguns eventos tensos é elevado oficialmente ao patamar de investigação. Paralelamente, Carella (que termina o livro gravemente ferido, chegando a ficar em coma) investiga o assassinato de um homem cujo corpo foi encontrado nu em um parque. Tudo nesse caso é complexo: as pistas são enigmáticas, levam o detetive para lugares que não dão em nada e fazem com que se encontre personagens obscuros e cômicos no caminho. É um bloco inicialmente bem escrito, mas que a partir de determinado momento deixa de ser interessante e começa a repetir padrões.

O Homem Surdo, aqui, surge como um vilão planejador, alguém com muita inteligência que consegue se livrar das forças da lei e dar cabo dos planos que organiza. Seu profundo desprezo pela vida humana é demonstrado algumas vezes no livro, e o leitor sente imensa raiva quando se depara com esses momentos. O personagem é realmente muito bom, e basicamente toda a parte cômica e toda a atmosfera de suspense que o envolve são as melhores coisas do livro. Já as passagens como a cena de sexo de Carella com Teddy e a nojenta cena de abuso/assédio do Homem Surdo com uma garçonete, mais a enrolação que o autor faz na busca pelo misterioso “John Smith” encontrado no parque e por fim, toda a parte da explosão das bombas na cidade não condizem com a organicidade a que estávamos acostumados nas obras McBain até aqui.

O final de O Provocador tem uma ambientação cinematográfica, move muita gente e expõe uma grande tragédia para a cidade de Isola, mas eu só consegui ver um drama bagunçado, muito mais preocupado com a grandeza de si mesmo do que com a conclusão da história de fato. Pelo menos o Homem Surdo ganhou uma daquelas saídas indefinidas e bem instigantes, onde o leitor não tem certeza se o vilão realmente morreu, mas imagina que, de alguma forma, ele conseguiu se livrar — daquele jeito sem explicação que os grandes vilões conseguem. E isso de fato iria acabar se confirmando na série. Apesar de o livro ser apenas regular, seu personagem notável recebeu uma marcante entrada e uma bombástica saída.

Mistérios do 87º Distrito – Livro 12: O Provocador (87th Precinct #12: The Heckler) — EUA, 1960
Autor: Ed McBain
Edição lida para esta crítica: Thomas & Mercer, 2012
288 páginas (edição digital)

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