Terceiro filme de Elvis Presley, O Prisioneiro do Rock (também conhecido por aqui como Prisioneiro do Rock ‘n Roll) é curioso por seguir exatamente a mesma estrutura do filme anterior do cantor, A Mulher Que eu Amo, em que um jovem cantor é descoberto por uma agente que o leva ao sucesso, e por consequência, também é uma obra semi-biográfica. A única real diferença é que, para justificar o uso do título do sucesso musical Jailhouse Rock, os 20 e poucos minutos iniciais estabelecem Vince Everett, o personagem de Presley, como um condenado por assassinato involuntário que aprende a tocar violão na penitenciária graças a seu colega de cela Hunk Houghton (Mickey Shaughnessy), que fora cantor profissional e, agora, gerencia um negócio na prisão à base de cigarros.
O longa, filmado em preto e branco como Love Me Tender, o primeiro da carreira do Rei do Rock, tem uma grande desvantagem e uma grande vantagem sobre seu predecessor. A desvantagem é que Everett é um personagem mais complexo, cínico, arrogante e verdadeiramente intragável e Presley simplesmente não tem a latitude dramática para interpretá-lo. O cantor transformado em ator tenta se esforçar, mas tudo o que ele consegue é fazer suas caras e bocas que, quando não estão à serviço de seus números musicais, simplesmente não funcionam e quase fazem o longa naufragar completamente, sendo mais uma vez salvo por seus coadjuvantes principais, notadamente Shaughnessy no primeiro e terceiro terços e a bela Peggy Van Alden (Judy Tyler que, tragicamente, morreu juntamente com seu marido em um acidente automobilístico, apenas dias antes da produção acabar), que descobre o talento do protagonista e investe nele, também, claro, envolvendo-se romanticamente com ele.
Por outro lado, a vantagem é Jailhouse Rock, a música e Jailhouse Rock, o videoclipe dentro do filme. Sim, tenho plena consciência de que são dois ou três minutos em um longa de 96, mas a canção é simplesmente espetacular e a sequência criada para inseri-la na narrativa – como parte de um programa televisivo a que Everett é convidado – é sublime, um dos grandes momentos audiovisuais da carreira de Elvis Presley e, arriscaria dizer, um dos momentos musicais mais empolgantes da Sétima Arte. Claro que isso não transforma um filme mediano em um filme maravilhoso, mas o momento é marcante e inesquecível que eleva a experiência e entrega “o Elvis Presley” em um de seus mais clássicos momentos, mesmo que ele não use, aqui, o tipo de figurino espalhafatoso que o marcaria (e que ele usa na obra anterior).
De resto, o filme segue o padrão de ascensão e quase queda de um astro, com toda a tensão do final causada por uma briga (ecoando a que começa a fita) sendo destruída pelo simplesmente fato de tudo ser espremido em pouquíssimos minutos com elipses temporais para acelerar tudo e retirar todo e qualquer impressão de tensão ou suspense sobre o destino do protagonista. Até entendo que o foco de um filme estrelado por Elvis Presley deva ser a música, mas isso não é desculpa para esquecer do roteiro e isso é exatamente o que acontece aqui. Na verdade, esquecer talvez não seja a palavra, mas sim não dividir o longa de maneira mais parcimoniosa, já que Richard Thorpe, na direção, faz uma decupagem que desequilibra a narrativa, inclusive permitindo a criação de barrigas que sequer contam com canções por Presley, algo que A Mulher que Eu Amo conseguiu evitar.
O Prisioneiro do Rock é, no final das contas, uma repetição temática seguida na carreira cinematográfica de Elvis Presley que tem a vantagem de contar com uma inesquecível canção-título usada em um inesquecível videoclipe. É uma pena que toda a inspiração usada em sua composição e na produção do clipe não esteja presente na minutagem restante.
O Prisioneiro do Rock (Jailhouse Rock – EUA, 1957)
Direção: Richard Thorpe
Roteiro: Guy Trosper (baseado em história de Nedrick Young)
Elenco: Elvis Presley, Judy Tyler, Mickey Shaughnessy, Vaughn Taylor, William Forrest, Jennifer Holden, Dean Jones, Mike Stoller, Scotty Moore, Bill Black, D. J. Fontana
Duração: 96 min.