Home TVTemporadas Crítica | O Príncipe Dragão (O Mistério de Aaravos) – 6ª Temporada

Crítica | O Príncipe Dragão (O Mistério de Aaravos) – 6ª Temporada

A preparação para o encerramento.

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas das demais temporadas.

Uma das mais melhores e mais consistentes animações de tempos recentes, O Príncipe Dragão chega à sua sexta e penúltima temporada fazendo o que precisa fazer para não deixar as linhas narrativas se enrolarem na última, evitando potenciais atropelamentos e correrias. Trata-se, portanto, de um ano que foca mais nos personagens do que exatamente em desenvolvimento de mitologia, até porque não há mais muito o que fazer nesse quesito e do que na ação, o que, tenho certeza, pode fazer com que muitos se frustrem ao longo dos nove episódios. Tenho para mim, porém, que Aaron Ehasz e Justin Richmond continuam em absoluto controle de sua criação, levando-a fluida e certeiramente ao ponto climático em que, finalmente, Aaravos (Erik Todd Dellums), o manipulador Elfo das Estrelas, sai de sua prisão.

Duas duplas de personagens naturalmente ganharam mais atenção da temporada, com seus arcos narrativos também chegando ao ponto mais alto antes da inevitável tempestade que se aproxima. A primeira dupla, claro, é a formada pelo mago Callum (Jack DeSena) e a Elfa da Lua Rayla (Paula Burrows). Os dois partem em uma missão para destruir a pérola que abriga a prisão de Aaravos para dar cabo da ameaça que os leva até Star Scraper, lar dos Elfos do Céu que vivem suas vidas inteiras de olhos vendados, só podendo retirá-las em noites em que apenas a luz das estrelas pode ser vista no céu, em uma construção narrativa que chega a ser poética de tão bonita e que, claro, complica a aventura dos heróis, mas com o objetivo maior de finalmente uni-los como um casal que se ama. Pode parecer algo até brega, mas eu gostei muito que os roteiros não correram em nada com isso e tornaram o momento em que Callum revela seu amor por Rayla algo realmente especial.

A outra dupla de destaque não está junta, porém. Falo dos irmãos Claudia (Racquel Belmonte), maga que sucumbiu ao uso de magia sombria, e Soren (Jesse Inocalla), cavaleiro valente, mas não muito brilhante que, agora, é fiel ao Rei Ezran (Sasha Rojen). Os dois personagens, que começaram na série como um misto de vilões hesitantes e alívios cômicos, sob a sombra de seu pai Viren (Jason Simpson) tiveram, em retrospecto, belíssimos e completos arcos de desenvolvimento, com o começo da temporada sob discussão focando nos sacrifícios de Claudia para salvar seu pai e em Viren finalmente acordando para seus erros e deixando a filha corrompida para trás, apenas com o sempre simpático e compreensivo Elfo da Terra Terry (Benjamin Callins), com quem tem um relacionamento. A decepção de Claudia, seu retorno momentâneo para o lado da luz, Terry construindo uma perna prostética para ela e a jornada dos dois para Katolis para falar mais uma última vez com Viren somente para encontrá-lo morto depois que ele mesmo se sacrificara pelos habitantes do castelo a pedido de ninguém menos do que Soren em um belíssimo momento de sobriedade dramática funciona como o perfeito estopim para ela redobrar os esforços para libertar Aaravos. E, como já dito, vemos um Soren maduro, consciente do que sofreu a vida toda pelo distanciamento do pai que agora entendemos, tornando-se um verdadeiro líder e herói.

Subsidiariamente, vemos Ezran novamente mostrar maturidade ao tentar negociar paz entre os irmãos Elfos do Sol Príncipe Karim (Luc Roderique) e Rainha Janai (Rena Anakwe) e, também, a bela, mas continuamente interrompida e atrasada cerimônia de casamento entre Janai e Amaya (Sheila Ferguson) que sela o destino de mais um casal. A forma como Karim funciona também como peão de Aaravos ao curar as asas do dragão Sol Regem, somente para este também seja manipulado pelo diabólico elfo e destruir Katolis, deflagrando sua libertação é a culminação de uma longa e complexa cadeia de eventos que vêm desde o primeiro episódio da primeira temporada, com Aaravos jogando um paciente jogo de xadrez repleto de peças móveis que sua magia e seu conhecimento da natureza humana e élfica encaixam perfeitamente. Entenderei se algumas pessoas torcerem o nariz justamente para esse jogo repleto de situações que não poderiam estar sob controle do Elfo das Estrelas, mas é ele que é toda a razão da existência da série. O Príncipe Dragão é um enorme e belíssimo tabuleiro em que Aaravos coloca suas peças e joga com elas, nem sempre alcançando seus objetivos diretamente, mas sempre chegando a eles por vias transversas, planos B e, como já disse, contando com a força da tentação e a corrupção de corações outrora puros. Pode ser que nem tudo se encaixe matematicamente, mas diria que chega a ser criminoso focar no que eventualmente não seja perfeito, perdendo de vista o fantasticamente harmonioso conjunto narrativo e visual que é essa série.

Mas, claro, nem tudo é perfeito na temporada. Enquanto que os flashbacks de Viren sobre seu passado e sua obsessão em salvar Soren na base do custe o que custar funcionam muito bem especialmente porque a história é contada somente para nós, espectadores, jamais chegando aos ouvidos – ou olhos – de Soren, não consigo dizer o mesmo do passado de Aaravos e sua motivação semelhante, primeiro para salvar sua filha Leola (Ridley Simpson), acusada de ser o equivalente ao Prometeu da Mitologia Grega e, depois, para vingá-la. Meu primeiro problema com isso é que, agora, o grande vilão da série passou a ter uma justificativa para seus atos, ou, pelo menos, uma explicação para sua vilania. Tenho reservas sempre que isso acontece nos mais variados tipos de obras, pois a tendência é a de relativização do mal, algo que é conveniente demais e, vamos ser sinceros, fácil demais para que aceitemos muitas coisas. Além disso, diferente da fluidez com que vemos o passado de Viren ser remexido, a desculpa para a revelação do de Aaravos pareceu-me forçada, pouco integrando a narrativa.

A história paralela a essa de Aaravos, envolvendo de outra maneira o passado, lida com Rayla e sua tentativa de ressuscitar seus pais e o líder de sua tribo, cujos fragmentos das almas estão encarcerados em moedas por ação de Viren. O problema para mim, nesse lado, foi que toda essa mitologia extra me pareceu corrida e, de certa forma, jogada nos 45 minutos do segundo tempo, por assim dizer, com o mergulho da personagem no “limbo” resultando em sequências estranhas e confusas que não exatamente fazem todo o sentido do mundo, já que é difícil aceitar que, em algo como um minuto, seus pais aceitem morrer em definitivo por razões “porque sim” e que ela só retorne com Runaan (Jonathan Holmes). Se houve toda a calma do mundo no restante da temporada para trabalhar o que precisava ser trabalhado, aqui a velocidade acabou afetando o resultado final.

Mas, mesmo com percalços que, no conjunto, não são problemas enormes, O Príncipe Dragão entregou mais uma temporada de altíssima qualidade que deixa tudo preparado para um encerramento potencialmente épico de uma rica história repleta de personagens fascinantes e visuais de tirar o fôlego. Que venha a última temporada!

O Príncipe Dragão (O Mistério de Aaravos) – 6ª Temporada (The Dragon Prince: Mystery of Aaravos, EUA/Canadá – 22 de julho de 2023)
Criação: Aaron Ehasz, Justin Richmond
Direção: George Samilski
Roteiro: Aaron Ehasz, Justin Richmond, Paige VanTassell, Joe Corcoran, Eugene Ramos, Devon Giehl, Iain Hendry, Michal Schick
Elenco (vozes originais): Jack De Sena, Paula Burrows, Sasha Rojen, Jason Simpson, Racquel Belmonte, Jesse Inocalla, Sheila Ferguson, Rena Anakwe, Erik Todd Dellums, Benjamin Callins, Luc Roderique, Omari Newton, Zelda Ehasz, Greg Rogers, Laara Sadiq, Deven Mack, Nicole Oliver, Adrian Hough, Mark Gibbon, Boone Williams, Ethan Farrell, Ridley Simpson, Jonathan Holmes, Ely Jackson, Tyrone Savage, Ellie King
Duração: 249 min. (nove episódios no total)

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