Home TVTemporadas Crítica | O Príncipe Dragão (O Mistério de Aaravos) – 5ª Temporada

Crítica | O Príncipe Dragão (O Mistério de Aaravos) – 5ª Temporada

Expandindo a mitologia.

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas das demais temporadas.

Sei que afirmar isso é um clichê, mas O Príncipe Dragão é, fundamentalmente, uma série sobre a jornada de seus personagens, sejam protagonistas ou antagonistas, e não sobre o destino deles e isso nunca ficou mais evidente do que quando a criação de Aaron Ehasz e Justin Richmond retornou de um hiato de três anos para o começo do arco O Mistério de Aaravos, na temporada anterior. Aceitar essa característica da animação é fundamental para apreciá-la em toda a sua glória que objetiva criar uma cada vez mais expansiva mitologia própria que bebe sem vergonha alguma de obras clássicas de fantasia ao reunir humanos, elfos, dragões e magia em um universo rico e variado que é ao mesmo tempo reconhecível e novo, familiar e excitante.

Obviamente que eu não elogiaria tanto a jornada se ela não fosse interessante e realmente bem desenvolvida e trabalhada, pois não tem sensação pior do que séries que enrolam o máximo que podem, pegando caminhos tortuosos e cansativos simplesmente para evitar chegar a seu fim. Sim, o tal “mistério de Aaravos” do tão proeminente subtítulo é o objetivo final da história que está sendo contada, com todos, em linhas gerais, dirigindo-se para a prisão onde ele está, ainda que, nesta quinta temporada, ele só seja abordado direta e explicitamente no último episódio. No entanto, qual seria a graça de O Príncipe Dragão se a série pulasse as intrigas fraternais entre a Rainha Janai (Rena Anakwe) e o Príncipe Karim (Luc Roderique) dos Elfos do Sol ou deixasse de introduzir e de explorar em nada menos do que três episódios o fascinante, mas cruel e ditatorial pirata e Elfo da Maré Capitão Finnegrin (Tariq Leslie) e seu braço direito amadeirado Deadwood (Dave “Squatch” Ward) no sensacional navio Pernas do Mar que é, na verdade, um gigantesco caranguejo eremita?

E esses dois exemplos que citei, apesar de mais relevantes dentro da temporada em termos de elementos externos aos núcleos centrais, ainda ficam longe do coração da narrativa que é o relacionamento cada vez mais próximo e maduro do Rei Ezran (Sasha Rojen) com seu meio-irmão Callum (Jack DeSena), o primeiro sempre sábio apesar da tenra idade e o segundo cada vez mais em controle de sua magia primal, mesmo que ainda lutando para evitar o uso da sempre mais fácil, tentadora e poderosa magia sombria e, claro, a conexão de amor e confiança irrestrita entre Callum e a Elfa da Lua Rayla (Paula Burrows), com os demais coadjuvantes – incluindo aí humanos como Soren (Jesse Inocalla) e Amaya (Sheila Ferguson) e animais como o sapo de brilho Isca, que ganha três pequenos companheiros, a macaca-agarradinha Stella e, claro, o Príncipe Dragão Azymondias – sempre presentes para colorir e dar vigor à narrativa.

No entanto, o núcleo antagonista, apesar de seguir um caminho para a prisão de Aaravos menos, digamos, movimentado, continua sendo um destaque e é, para mim, o verdadeiro grande diferencial da série. E a principal razão para isso é que Claudia (Racquel Belmonte), apesar de ser uma filha dedicada capaz de absolutamente qualquer coisa – inclusive e especialmente recorrer à magia sombria, pagando um alto preço e tentar libertar o ardiloso Elfo das Estrelas Aaravos (Erik Todd Dellums) – para salvar seu pai Viren (Jason Simpson) da morte, não é a arquetípica vilã malvadona sem camadas. Muito ao contrário, ela representa justamente a linha tênue entre as escolhas da vida que nos levam a caminhos potencialmente opostos. Para todos os efeitos, ela é o que Callum seria se ele tivesse sucumbido ao caminho da magia sombria, ou seja, uma pessoa em eterna dúvida sobre a escolha que fez e perfeitamente consciente do que está se tornando. É muito interessante, por exemplo, como Claudia apaixona-se por Terry (Benjamin Callins), um Elfo da Terra puro de coração que a ama pelo que ela é e que, para o espectador, torna ainda mais evidente o perigo do que ela faz para salvar seu pai. Igualmente, o caminho oposto que Viren toma, ao finalmente perceber, na véspera do fim da validade da magia de ressurreição oferecida por Aaravos, que suas decisões passadas contaminaram sua filha é muito bem conduzido, nublando ainda mais a linha clássica que separa o bem do mal.

E tudo isso vem embalado na absurda inspiração que é o design de personagens e cenários que encantam imediatamente por sua variedade, cores e originalidade. Como não abrir um sorriso perante os tão diferentes Elfos da Maré Finnegrin, tão alto e bonito quanto mal e Akiyu (Julie Lemieux), tão baixa e feia quanto boa, o navio-caranguejo, Deadwood, a transformação de Claudia em um polvo (que obviamente lembra a Úrsula, de A Pequena Sereia), a “livroteca” de Lux Aurea e a cidade abandonada e destruída, a Elfa da Lua de Sangue Kim’dael (Laara Sadiq) e a Arquidragoa do Oceano Domina Profundis (Jennifer Hale)? E a técnica de animação continua igualmente irretocável e cuidadosa, com riqueza na movimentação e expressão de personagens e criaturas, um excelente trabalho na sempre difícil tarefa de lidar com grandes corpos de água e fluidez em sequências complicadas e repletas de ação.

O único aspecto que reputo negativo na temporada e que não é algo exclusivo dela é a apresentação do que chamo de “personagens de uso único”, como são os casos especialmente de Akiyu e Kim’dael, já que ambas existem para cumprir funções relativamente rápidas, específicas e convenientes, somente para sumir em seguida. Mas essa minha reclamação muito provavelmente tornar-se-á vazia com as vindouras temporadas, já que os showrunners não têm o hábito de se esquecerem de suas criações por muito tempo, como são os casos do Capitão Villads (Peter Kelamis) e da Elfa do Céu Nyx (Rhona Rees) que reaparecem aqui na trinca de episódios dedicada ao vilanesco Finnegrin. Por outro lado, mesmo esses personagens que só aparecem uma vez conseguem ser fascinantes o suficiente para valer a experiência e enriquecer a mitologia da série.

Em sua antepenúltima temporada, O Príncipe Dragão deixa evidente que ainda tem muito a contar e mostrar, mesmo que por vezes possa parecer aos mais afobados que as histórias paralelas vêm abocanhando mais espaço que a principal. A jornada até a prisão de Aaravos oferece muito ao espectador e amplia o escopo de toda essa deliciosa saga que não parece esmorecer nem por um segundo sequer. Que venham as duas temporadas finais!

O Príncipe Dragão (O Mistério de Aaravos) – 5ª Temporada (The Dragon Prince: Mystery of Aaravos, EUA/Canadá – 22 de julho de 2023)
Criação: Aaron Ehasz, Justin Richmond
Direção: George Samilski
Roteiro: Aaron Ehasz, Justin Richmond, Neil Mukhopadbyay, Devon Giehl, Iain Hendry
Elenco (vozes originais): Jack De Sena, Paula Burrows, Sasha Rojen, Jason Simpson, Racquel Belmonte, Jesse Inocalla, Adrian Petriw, Omari Newton, Cole Howard, Rena Anakwe, Luc Roderique, Benjamin Callins, Dylan Schombing, Erik Todd Dellums, Nicole Oliver, Ben Cotton, Tariq Leslie, Dave “Squatch” Ward, Laara Sadiq, Julie Lemieux, Jennifer Hale, Peter Kelamis, Rhona Rees, Sheila Ferguson, Laara Sadiq
Duração: 233 min. (nove episódios no total)

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