Depois de escrever e desenhar a graphic novel O Poder de Shazam!, lançada em 1994, Jerry Ordway ficou responsável por trazer à luz um novo título solo do (ainda chamado) Capitão Marvel. O nome da revista se manteve o mesmo que o daquela terceira grande origem do personagem na DC pós-Crise — The Power of Shazam! — e, além de Ordway nos roteiros e nas capas, trouxe Peter Krause e Mike Manley na arte e arte-final deste primeiro bloco do volume, as sete histórias iniciais não oficialmente chamadas de Valores Familiares ou, mais frequentemente, de Equilíbrio de Poder.
Nessas primeiras edições do título, encontramos basicamente a construção da Família Marvel, com a apresentação do Tio Dudley, Mary e Freddy, além de questões familiares bastante curiosas ligadas a Billy Batson (e a seus vilões), cuja origem não é recontada nesse arco. Isso pode ser algo bom para quem, antes, leu a história que dá base a esta saga, mas pode deixar outros leitores um pouco perdidos ou sentindo falta de algo, principalmente pelo fato de o título começar já com Billy vestindo o manto há 4 anos. Ou seja, muita coisa se passou desde o momento em que deixamos o personagem na história de 1994 e agora ele aparece aqui, quatro anos à frente, com uma familiaridade, reconhecimento da população e contatos dos quais a gente não tem ideia de como ocorreram. E o roteiro, como veremos adiante, parece não ter muita vontade de de trabalhar em cima disso não. É uma escolha interessante, mas que o autor não sabe utilizar bem a seu favor, já de demora sete revistas para fazer com que apareçam Mary Marvel e Capitão Marvel Jr..
Uma vez que o roteiro não consegue trabalhar muito bem a relação entre o desconhecimento do público para as atividades de Shazam nos últimos anos e tudo o que acontece em torno dele e de Billy nesse arco, o leitor fica bastante tempo procurando organizar, entender ou adequar aquilo que se vê nas páginas, já que os diálogos, os encontros e a visão do público em relação ao herói parecem destoar imensamente entre si. Como agravante, temos a chegada de Sinclair Batson a Fawcett City, tentando “renovar a cidade e colocá-la no século XX“, e este parece ser o primeiro grande desafio de Billy desde que ganhou os poderes do mago. É frustrante. O garoto parece não conhecer o alcance e as possibilidades de seus poderes — Mary sabe usar e entender muitíssimo mais rápido os poderes do que ele, e a menina acabou de vestir o manto! –, o que por si só já é um incômodo e tanto.
Nesta trajetória, Billy e Cia. encontram, em momentos diferentes, um grupo bem distinto de vilões, dentre os quais podemos destacar os seguintes nomes: Ibac, Arson Fiend, Lady Blaze, Madame Libertine e Capitão Nazi, este último, também ligado a uma questão familiar e histórica, como um tipo invertido de Capitão América, cuja presença serve para dar origem ao Capitão Marvel Jr., algo que o autor faz de maneira bastante fiel à Origem do Capitão Marvel Jr., lá de 1941. Já o drama ligado a Mary eu não gostei muito e penso que houve enrolação demais para que essa questão fosse resolvida, uma vez que todo o contexto familiar e algumas histórias de investigação, especialmente nas primeiras três revistas, trazem pouca coisa de relevante para o Universo do herói, especialmente se a gente considerar que é um enredo que se passa 4 anos após ele ter recebido os poderes.
Mesmo com uma demora maior do que deveria para engatar e com uma organização um tanto falha em relação ao tempo de ação do Shazam nesse Universo, Equilíbrio de Poder é um arco divertido, que captura bem a personalidade de Billy (inclusive com as birras e coisas chatinhas que adolescentes fazem, o que pode irritar o leitor) e que abre uma porção de bons caminhos para o andamento da série. Investindo fortemente em laços e sentimentos familiares ou pessoais, mostrando buscas pelo poder e ações pelo bem de outras pessoas, a saga se vale de uma certa inocência e charme que não é muito comum de se encontrar em publicações do gênero. Decerto vale a leitura.
The Power of Shazam! Vol.1 #1 a 7 (EUA, março a setembro de 1995)
No Brasil: Editora Abril, 1996 – 1997
Roteiro: Jerry Ordway
Arte: Peter Krause
Arte-final: Mike Manley
Cores: Glenn Whitmore
Letras: John Costanza
Capas: Jerry Ordway
Editoria: Mike Carlin
168 páginas