Sabe quando você se depara com um filme que tem sinais aparentes de potencial, mas que não o realiza e que, pior ainda, nem consegue ser tão ruim ao ponto de o classificarmos como trash ou como “tão ruim que é bom”? Um filme que não diz nada a ninguém, que não traz nada de novo, que não tenta ser mais do que bobagem rasteira que não serve nem como entretenimento? Bem, assim é O Planeta Vermelho, produção britânico-irlandesa de 2013 que foi exibida (não sei como!) no Festival de Cannes do mesmo ano.
E o pior de tudo é notar que o astro é Liev Schreiber, normalmente um bom ator, que se esforça em seus papéis. Chega a ser um desperdício de celuloide (ou de espaço em HD, depende do caso) e de tempo do espectador que não consegue nem apontar para tela e dizer, entre risadas, coisas como “que filme ridículo, que coisa horrorosa”.
Afinal, O Planeta Vermelho, se pararmos friamente para pensar, não é uma tragédia cinematográfica. Ele fica naquela ingrata “meiúca” completamente sem graça, que ninguém presta atenção. A produção – de algo como 7 milhões de libras!!! – é até cuidadosa em seus detalhes, recriando uma base terrestre em Marte de maneira eficiente, com veículos convincentes e trajes espaciais lógicos e bem estruturados. As tomadas exteriores, feitas na Jordânia, são eficientes para dar magnitude e escopo à expedição multi-nacional que enfrenta, em seu último dia, um vírus mortal que transforma um a um de seus membros em zumbis espaciais.
O diretor, Ruairi Robinson, que debuta em longa-metragem aqui, quis, segundo ele próprio, fazer um suspense espacial na linha de Alien. Quando li essa frase, revirei os olhos e lembrei que tinha acabado de assistir a um dos filmes mais meia-boca dos últimos tempos, um que me gerou apenas uma sensação: apatia. Então Robinson queria fazer algo que lembrasse Alien, não é? Bem, ou ele não viu a obra seminal de Ridley Scott ou o sujeito é um piadista. A maior tensão que esse filme passa é no momento em que… Não, esquece. Não consigo pensar em um momento sequer que sequer resvale no conceito de tensão aqui se o espectador for maior do que sete ou oito anos de idade.
E o coitado do Liev Schreiber, que passa o filme quase todo dentro do traje espacial, não tem material para atuar. Ele está completamente no automático, como o único astronauta do grupo que aparentemente serve para alguma coisa que não seja simplesmente morrer por burrice extrema. Afinal, o roteiro de Clive Dawson é uma lição de como não lidar com o perigo. Uma espécie de manual às avessas que poderia muito bem servir de base para alguma comédia de Mel Brooks. Humm, aquele monstro horroroso lá fora mordeu o Capitão Charles Brunel (Elias Koteas, outro ator bom que caiu nessa armadilha!) e ele está morrendo. Será que meu capitão está infectado? Deixe-me aproximar dele, mas bem de pertinho para ver se ele está bem… É basicamente isso o tempo todo, mas dentro de uma produção que, de novo, merece comendas pela qualidade dos cenários e da fotografia e que não perde muitos pontos nem mesmo o quesito efeitos visuais. Eles são poucos e simplistas, mas cumprem seu papel.
O que realmente incomoda é a incapacidade de Robinson de elevar sua obra a mais do que um pastiche de Alien ou ao menos de abraçar o tom de pastiche e seguir em frente dessa forma. É um filme genérico, que reúne o máximo de clichês do gênero possível e que não se conecta vez alguma com o espectador, não traz nada que não seja uma coleção de imagens que já fazem parte do inconsciente coletivo sobre obras assim. Se ao menos fosse uma trasheira sanguinolenta, haveria diversão, mas nem isso ele se propõe a ser. É o ponto alto do que o americano muito bem classifica como plain vanilla.
O Planeta Vermelho está longe de ser tão ruim que é bom. Ele é algo pior. É “tão mais ou menos que é péssimo”.
O Planeta Vermelho (The Last Days on Mars, Reino Unido/Irlanda – 2013)
Direção: Ruairi Robinson
Roteiro: Clive Dawson (baseado em conto de Sydney J. Bounds)
Elenco: Liev Schreiber, Elias Koteas, Romola Garai, Olivia Williams, Johnny Harris, Goran Kostic, Tom Cullen, Yusra Warsama, Patrick Joseph Byrnes
Duração: 98 min.