Tendo iniciado sua carreira como compositor de trilhas sonoras em 1953, Jerry Goldsmith eventualmente se tornaria famoso, principalmente, pelos seus trabalhos em filmes de ficção científica, como Alien, O Oitavo Passageiro, Jornada nas Estrelas: O Filme, dentre muitos outros. Antes de nos entregar tais obras, porém, Goldsmith já havia se firmado na indústria cinematográfica e foi contratado para compor a música de O Planeta dos Macacos. Nessa sua obra, o compositor decidiu fugir do estilo utilizado em suas obras anteriores, entregando uma trilha verdadeiramente vanguardista, focada na atmosfera a ser estabelecida durante a projeção.
O que escutamos nas faixas do álbum demonstra forte similaridade com o recente trabalho de Hans Zimmer em Dunkirk. Não pela sonoridade em si, mas pelo conceito das melodias em si. Goldsmith mistura o som diegético com o não-diegético, emulando efeitos sonoros através de instrumentos e outros objetos utilizados a fim de produzir determinados sons. Trata-se de uma obra impossível de ser separada do longa-metragem – escutar a trilha de O Planeta dos Macacos por si só é uma experiência, no mínimo, desconfortante, mas, quando atrelada à imagem, ela ganha sua verdadeira potência. Não que Goldsmith necessite do apoio do que vemos em tela, é justamente o contrário, a projeção requer o trabalho do compositor para se fazer plena, de tal forma que uma não pode viver sem a outra.
A ousadia do maestro já pode ser escutada na faixa de abertura, Main Title (desconsiderando, claro, a fanfarra da 20th Century Fox). Goldsmith se apoia muito no silêncio, o pontuando com o som de cordas e constante percussão, acompanhadas pela flauta, com ocasionais interrupções de sons em um volume maior, já transmitindo o nítido desconforto que acompanharia o ouvinte/ espectador do início ao fim. Desconforto esse, aliás, que ganha força total em The Hunt, música mais agitada que representa perfeitamente o encontro da melodia com os efeitos de som, especialmente através do som de trompas, tocadas sem o bocal e, claro, de toda a orquestra imitando os sons produzidos pelos símios.
Diferente de Zimmer em sua obra já citada, porém, Goldsmith não abandona por completo sua formação clássica e de fundo, trabalha com instrumentos utilizados de maneira mais tradicional – algo bem marcado pelo piano e flauta transversa, que se fazem notavelmente presentes em determinados pontos – ouvimos isso com clareza em No Escape. Mesmo tais melodias, porém, são arranjadas de maneira a criar o desconforto no espectador, ampliar o suspense transmitido pela imagem. Há de se notar, também, o constante uso do echoplex, colocando os tambores em constante repetição, além de outros efeitos que nos remetem à ficção científica diretamente.
Um dos aspectos mais interessantes de se escutar tais composições é notar como Goldsmith elabora um misto de sons tribais, bem marcados pela percussão, com a típica linguagem sonora dos filmes da época, manipulando bem a tensão através do volume mais elevado, que quebra todo o silêncio, como já falado, bastante presente no álbum. Outro ponto importante a ser observado é a ausência de qualquer melodia durante o inesquecível plot-twist do longa-metragem – o compositor considerava a cena impactante o suficiente somente através do trabalho de Charlton Heston e, claro, do diretor Franklin J. Schaffner, não necessitando sua intervenção.
Essencial como elemento de construção atmosférica do icônico longa-metragem de 1968, a trilha sonora de O Planeta dos Macacos se configura como um trabalho praticamente experimental de Jerry Goldsmith e que deu completamente certo. Embora não possam ser escutadas fora de seu contexto, tais composições demonstram todo o talento do maestro, possibilitando que o icônico filme de ficção científica seja tão impactante hoje em dia quanto fora na época de seu lançamento.
O Planeta dos Macacos (Trilha Sonora Original)
Compositor: Jerry Goldsmith
País: Estados Unidos
Lançamento: 1968
Gravadora: Project 3 Records
Estilo: Trilha sonora