Mesmo provavelmente negando o valor estético de muitas produções do segmento, é bem provável que Freud, o pai da psicanálise, pudesse ficar curiosamente envolvido com as propostas narrativas de muitos dos filmes do subgênero slasher, em especial, aqueles com a temática da sexualidade e dos traumas de infância como direcionamento para o desenvolvimento do comportamento criminoso de seus antagonistas, como é o caso deste O Pesadelo, produção bizarra, parte integrante de uma das fases mais abundantes deste tipo de filme, o Slasher Safra 1981, isto é, ano conhecido pelo lançamento de quase quarenta filmes do estilo nas salas de cinema estadunidenses. Aqui, o que temos desencadeado é o transtorno de uma figura com problemas sociais, marcado por suas memórias frequentes envolvendo uma cena de sexo bastante peculiar quando jovem, um momento marcante que o acompanha através de sua vida e se intensifica depois que acaba de frente a um peep show. É a antecipação para a trilha de corpos que o monstro da narrativa em questão deixará por onde passar ao longo dos 97 minutos de cenas arrastadas, mortes graficamente toscas e muito sangrentas, em suma, uma jornada de tédio mesclada com alguns trechos de “genuína criatividade”.
Vejamos a sua trama. Um paciente psiquiátrico escapa de uma instituição onde tem sido acompanhado. Neste local, ele recebe um tratamento bastante peculiar com uma droga experimental elaborada para seus transtornos, medicação que pode surtir um efeito diferente do esperado pelos responsáveis por este projeto insano. Certo dia, George Tatum (Baird Stafford) consegue fugir da instituição e durante a sua jornada entre Nova Iorque e algum lugar da Flórida, uma trilha de sangue e horror deixa todos os que atravessam o seu caminho apavorados, menos nós, espectadores, um tanto entediados com a maneira na qual a história se desenvolve. Na atmosfera de pesadelo constante, em trechos que mesclam o mundo onírico deste personagem e a realidade por meio de uma perspectiva distorcida, acompanhamos o seu destino final.
George Tatum partiu para o reencontro com a sua ex-esposa, Susan (Sharon Smith), bem como os seus dois filhos. Preso por agredir uma família, o antagonista em questão traz em sua bagagem uma visão terrível sobre a morte de sua mãe, além de outras perturbações responsáveis por deixa-lo sempre com um comportamento inconstante. Ademais, nesta história, temos ainda a inserção da trama com CJ (CJ Cooke), um menino que será uma espécie de final boy da narrativa, num enfrentamento com o adulto que renderá alguns poucos momentos de tensão que logo se dissipam. No desfecho, a paz é reestabelecida para os personagens, restando aos sobreviventes atravessar o luto e buscar a paz interior, após testemunharem tantas mortes violentas e macabras. Para os espectadores, o sossego. O Pesadelo acabou.
Percebemos, ao passo que o filme vai se aproximando de seu desfecho, que os interesses dos realizadores gravitavam em torno da concepção de cenas demasiadamente chocantes. Até então, o cinema já tinha causado bastante reboliço com outras histórias igualmente sangrentas, desta forma, os envolvidos quiseram amplificar o tom bizarrice e criar passagens memoráveis, mas infelizmente, a ideia não funcionou como esperado, haja vista a recepção morna, quase fria, de O Pesadelo, produção que é uma verdadeira tortura psicológica para nós, espectadores, mergulhados num enredo chato, arrastado, repleto de flashbacks com cenas de sexo e personagens desempenhados por um elenco muito abaixo da média. Esteticamente, os realizadores até se empolga, seja na direção de fotografia voyeurista de Giovannu Fiore, ou na trilha esquizofrênica de Jack Erick Williams, elementos que somados aos efeitos de maquiagem supervisionados por Ed French, criam uma história louca, embasada numa proposta inicialmente interessante, mas talvez com alguma possibilidade de ser memorável por seu humor involuntário, isto é, a tosca apresentação dos corpos ceifados de suas vítimas, trechos abundantemente sangrentos e visualmente desconcertantes. Equivocado, este é um daqueles slashers que não divertem o quão esperamos por sua sinopse. Um retumbante vacilo narrativo. Ainda bem que tivemos outros filmes mais intensos na época, tais como Sexta-Feira 13 Parte 2, Dia dos Namorados Macabro, dentre outros, dramaticamente frágeis, mas ao menos, divertidos.
O Pesadelo (Nightmare, EUA – 1981)
Direção: Romano Scavolini
Roteiro: Romano Scavolini
Elenco: Baird Sttaford, Sharon Smith, C J Cooke, Mik Cribben,Bill Milling, Tammy Patterson, Kathleen Ferguson, Kim Patterson, Danny Ronan
Duração: 89 min.