Home FilmesCríticas Crítica | O Outro Pai (A Pesar de Todo)

Crítica | O Outro Pai (A Pesar de Todo)

por Luiz Santiago
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Existe algo no cinema espanhol que é difícil de resistir, mesmo quando o resultado final da obra, tal qual vemos aqui em O Outro Pai (A Pesar de Todo), seja apenas mediano. Comédia dramática e familiar dirigida por Gabriela Tagliavini, a obra estreou na Netflix em 3 de maio de 2019 e chama a atenção por trazer um elenco feminino muitíssimo bem conectado, o que torna a película deliciosa de se ver, ao menos quando destacamos o relacionamento entre as irmãs, ou seja, a melhor coisa que temos na fita.

No roteiro, escrito a oito mãos, quatro irmãs relativamente distantes se veem em uma situação bastante complicada depois da morte de sua mãe. Em um vídeo deixado como prévia do testamento, a falecida dá uma informação e uma série de tarefas para as filhas, fazendo com que passem mais tempo juntas e procurem algo que, mesmo sem saberem, pode lhes trazer felicidade. A confusão gerada pelo texto já é bastante conhecida das comédias, mas a roupagem nova funciona bem aqui, até certo ponto, e como já disse anteriormente, tudo o que envolve o quarteto principal formado por Sara (Blanca Suárez), Lucia (Macarena García), Sofia (Amaia Salamanca) e Claudia (Belén Cuesta) é engraçado e nos prende ao filme.

O princípio básico da briga entre irmãos e das desavenças familiares ganham em O Outro Pai uma particularidade que o público pode reconhecer em suas próprias vidas ou mesmo ao seu redor. Parentes que escondem determinadas condições para não “chocar” ou “dar o que falar” aos outros são algumas dessas particularidades e, em torno delas, o roteiro vai desenrolando a busca das irmãs e dando algum espaço para que o espectador conheça rapidamente cada uma. É uma pena que nem todas recebam um bom desenvolvimento por parte do texto, mas como os pares ou o grupo são a verdadeira atenção da narrativa, acabamos por pegar bastante coisa de cada uma a partir da boa dinâmica de grupo.

O problema é quando a gente sai do núcleo das irmãs e mergulhamos em qualquer outra coisa do filme, seja nas cenas com o pai doente; com o ex-noivo meio stalker que não superou o passado (a pior coisa de todo o longa, a despeito da beleza de Maxi Iglesias) ou até mesmo uma parte considerável da “jornada de caça” que as irmãs empreendem, já que nem todo o processo e os contatos obtidos nesses momentos são bem escritos ou mesmo bem dirigidos. O fato é que o espectador se apega demais às protagonistas (não sem motivo) e independente de maiores conquistas técnicas — existem poucas na obra — essas mulheres continuam nos enchendo os olhos e nos fazendo rir. Pena que elenco principal carregando o filme nas costas não basta para torná-lo bom, apenas divertido em algumas partes.

Há um enorme exagero no uso e certa dissociação da trilha sonora aqui, que ora parece intrusiva demais, ora incoerente com o que está acontecendo, problema que se torna mais evidente à medida que o filme avança e alcança seu ápice no açucarado e horrendo final ultrarromântico (à la conto de fadas dos confins mais batidos de Hollywood), momento que quebra uma toada narrativa ao menos divertida e tem como sequência uma das cenas de festa mais mal filmadas que eu já vi em um filme da Netflix (e olha, exemplo é o que não falta…).

Sem ajuda nenhuma da montagem e com um roteiro que parece não ter coragem de abraçar de verdade a comédia familiar absurda e meio dramática, O Outro Pai tenta misturar, para seu azar, coisas nada convencionais com o pior dos clichês de um romance, colocando muito da qualidade do filme a perder, especialmente no final. O ponto positivo da obra é que o elenco feminino está um desbunde e é muito prazeroso ver a interação entre essas personagens. Se fosse uma história só sobre as irmãs, seus problemas, suas dificuldades pessoais e tentativas de se relacionarem, a coisa se sairia bem melhor. Infelizmente, não é o caso. Mas ainda assim, há um charme irresistível aqui que acaba valendo a experiência.

O Outro Pai (A Pesar de Todo) — Espanha, 2019
Direção: Gabriela Tagliavini
Roteiro: Eugene B. Rhee, Helena Rhee, Gabriela Tagliavini, Eric Charles Wilkinson
Elenco: Blanca Suárez, Macarena García, Amaia Salamanca, Belén Cuesta, Maxi Iglesias, Carlos Bardem, Emilio Gutiérrez Caba, Tito Valverde, Teresa Rabal, Alex Hafner, Rossy de Palma, Marisa Paredes, Ariana Martínez, José Bustos, Franciska Ródenas
Duração: 78 min.

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