Lançado em 2019 pelo serviço de streaming Netflix, O Natal Está no Ar é um filme que tenta debater com humor, a situação da cultura negra estadunidense contemporânea, e, ao mesmo tempo, apresentar ao público mais uma comédia romântica apaixonante de natal. Falha, no entanto, na boa representação pelas duas vias. No final das contas, é apenas uma narrativa protocolar sobre os valores natalinos em perspectiva, repensados depois que uma família precisa reorganizar a sua estrutura e compreender quais são as coisas mais importantes para uma vida plena. É aquela mensagem edificante, simpática e politicamente correta do período, argumento básico de Sean Dwyer e Greg Cop White, responsáveis pelo roteiro, material sem a mesma desenvoltura que a sua ideia principal. A impressão que se tem ao assistir é que muitas ideias pulularam nos rascunhos, mas o produto final, dirigido por Leslie Small, se perdeu diante das ansiedades da dupla no desenvolvimento dos atos e dos diálogos. Diverte, por sua vez, e funciona como um passatempo agradável se não formos demasiadamente exigentes.
Como dito, é uma trama protocolar. Na esteira dos temas natalinos de renovação e reflexão sobre os modos de vida, o DJ Rush Williams (Romany Malco) é um pai questionável. Não há dúvida alguma em relação ao amor por seus quatro filhos mimados, Jamal (Amarr W. Wooten), Mya (Deysha Nelson) e as gêmeas Evie (Andrea Marie Alphonse) e Gabby (Selena Marie Alphonse). A Tia Jo (Darlene Love) é quem o ajuda a criar os adolescentes e crianças cheios de vícios, principalmente pela condição de luto que vivem, haja vista a morte da matriarca há algum tempo, situação que deixou o DJ desnorteado e sem a devida medida para educar seus filhos consumistas. Jamal é o recém-aprovado no vestibular, pronto para mudar de cidade. Mya é a mais mimada, viciada em roupas caras e outros utensílios de luxo. As gêmeas também não são fáceis, interessadas em coisas caras e supérfluas. Tudo vai mudar para Rush quando a rádio onde trabalha é comprada por um conglomerado de mídia maior. Seus projetos se diluem.
Não apenas os seus, mas a sua parceria com Roxy (Soneqa Martin-Green), sua editora e candidata a par romântico. Eles perdem os seus empregos e entram em um espiral de inconsistências com as ideias para avançar nos próximos projetos. É quando a moça, juntamente com a Tia Jo, decide investir na antiga rádio e reestabelecer a imagem do DJ e de seu programa para o público. É a chance que eles têm de resgatar a vivacidade anterior da parceria e até mesmo deixar fluir os desejos e sentimentos que gravitam em torno de suas respectivas existências. Inicialmente, há alguma resistência de Jamal, o mais velho, enciumado com a possibilidade de Roxy ocupar o lugar de sua mãe. Os demais simpatizam com a ideia e todos se unem para apoiar o pai em sua mais recente trajetória de vida. O tal espírito natalino exala por todos os poros de O Natal Está no Ar, comédia dramática romântica que investe na mensagem de reflexão sobre os valores materialistas que regem as nossas relações cotidianas.
O filme consegue se sair dramaticamente melhor que as produções hollywoodianas de grande porte sobre o tema, tais como O Natal dos Coopers e Um Natal Muito, Muito Louco, exemplares colocados aqui como material de comparação apenas por serem também protocolares, isto é, oferecem conteúdos substancialmente ineficazes para se tornarem um grandes filmes, ou ao menos, um pouco memoráveis. Parte integrante do ciclo natalino da Netflix em 2019, O Natal Está no Ar nos faz atravessar 94 minutos de situações engraçadas, corriqueiras, algumas forçadas demais, outras um pouco cativante. Visualmente agradável, a produção conta com a direção de fotografia de Keith L. Smith, luminosamente adequada, eficiente para a imersão na atmosfera natalina do design de produção de Timothy Whidbee. Na trilha sonora, Kathryn Bostec também ajuda no estabelecimento do clima propício ao período, mas tudo isso junto não é suficiente para organizar a narrativa, em forte desnível dramático, com personagens em situações limitadas, presos pelas amarras do roteiro que pode, mas não ousa nunca. Ao preferir sem padrão de linha de produção, a comédia diverte, mas mesmo tendo tudo pra ser revigorante para o segmento, prefere ser apenas um passatempo trivial.
Roteiro: Greg Cope White, Sean Dwyer
Elenco: Stormi Maya, Sonequa Martin Green, La La Anthony, Tamala Jones, Romany MalcoDeon Cole, Darlene Love, Roscoe Orman, Amarr M. Wooten, Jimmy Palumbo
Duração: 90 minutos