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Crítica | O Mundo dos Pequeninos

por Luiz Santiago
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A saga Os Pequeninos Borrowers (composta por cinco livros), foi escrita pela britânica Mary Norton entre os anos de 1952 e 1982, e teve algumas adaptações para o cinema e para a TV antes de chegar às mãos do Estúdio Ghibli. A primeira dessas versões aconteceu em uma série televisiva de 1967, vindo depois o telefilme O Homenzinho (1973) e a minissérie The Borrowers (1992). No cinema, o filme Os Pequeninos (1997), com John Goodman, Celia Imrie e Hugh Laurie no elenco, foi a versão que verdadeiramente popularizou essa história para o grande público. E justamente por essa época foi que os chefões do Ghibli passaram a se movimentar para adquirir os direitos do livro a fim de fazerem a sua própria versão, embora Takahata e Miyazaki (que coescreveu o roteiro) já pensassem em adaptar a obra desde os anos 1970.

Entregue a Hiromasa Yonebayashi, em seu primeiro longa-metragem, O Mundo dos Pequeninos começa com um menino chamado Shō (Ryûnosuke Kamiki) chegando à cada de infância de sua mãe. Ele está acompanhado de sua tia-avó materna, Sadako, e tem ali também a empregada da família. Essa chegada brevemente irá se revelar como necessária para a saúde do garoto, que tem sérios problemas de coração e está prestes a fazer uma cirurgia. É nesse contexto que o encontro com os pequenos coletores, mais especificamente com Arrietty (Mirai Shida), vem como um presente para o menino, que tão cedo já havia perdido um dos maiores dons que a gente pode ter (a vontade de viver) e que só após essa jornada é que consegue reencontrar essa vontade.

Num primeiro olhar, o filme é uma forma muito interessante de mostrar a convivência entre diferentes. Todo o desenho de produção foca bastante na perspectiva dos dois mundos e o roteiro explora o modelo de vida de cada um deles, as necessidades de cada um, as coisas que recebem maior ou menor importância e os medos e anseios de cada espécie. É, a princípio, um estudo sobre o modo de vida de seres diferentes. Levando por esse olhar, o filme até demora um pouco para realmente abraçar algum tipo de evento dramático mais intenso, focando incialmente na observação leve de ambos lados e lançando pistas dos problemas que veríamos mais adiante.

Já um seguindo olhar nos faz enxergar uma história de amizade e sobrevivência. Nesse lado da história, tanto Shō quanto Arrietty enfrentam problemas sozinhos para, a partir de um determinado momento, perceberem a verdade existente em sua amizade, confiarem um no outro e passarem a enfrentar os problemas juntos. Nesse processo, o leitor até percebe alguns elementos demasiadamente clichês atrapalhando o núcleo duro da história, a sua parte mais séria (uma certa dubiedade de sentimentos não necessariamente fraternos a uma certa dubiedade sobre a permanência dos pequeninos ali nas redondezas), mas ambos os atalhos são apagados com o caminho que a obra toma ao final, infelizmente, após perder considerável força com insinuações demais apenas para frustrá-las depois e parecer “inovador”.

O Mundo dos Pequeninos é uma belíssima animação (a construção da cada dos pequeninos e as cenas com a casa de bonecas + toda a exploração da natureza são visualmente deslumbrantes) que traz à tona a importância da amizade, principalmente entre pessoas tão diferentes e de almas tão belas, que conseguem integrar-se, fazer viver (ou reviver) o que há de melhor em si e, por fim, perceber que é o tempo da partida do outro, deixando que este se vá. Do encontro ao amor fraterno e ao desapego: uma jornada para entender que algumas coisas, só porque nos fazem muito bem, não necessariamente devem, querem ou até mesmo podem ficar na nossa vida para sempre. Ao menos fisicamente falando.

O Mundo dos Pequeninos (Kari-gurashi no Arietti) — Japão, EUA, 2010
Direção: Hiromasa Yonebayashi
Roteiro: Hayao Miyazaki, Keiko Niwa (baseado na obra de Mary Norton)
Elenco: Mirai Shida, Ryûnosuke Kamiki, Tatsuya Fujiwara, Tomokazu Miura, Shinobu Ôtake, Keiko Takeshita, Kirin Kiki, Shin’ichi Hatori
Duração: 94 min.

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