- Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas das demais temporadas.
Em outubro de 2019, terminei minha crítica da 2ª temporada de O Método Kominsky com a seguinte frase: “Mal posso esperar pelas novas rabugices desses dois velhos amigos”. Como eu estava enganado! Quase um ano depois, Alan Arkin anunciaria que não voltaria para a 3ª e última temporada e que esse jamais tinha sido o plano, o que é para lá de estranho, mas tudo bem. Mas o ponto é que isso foi um banho de água fria, já que estamos falando de ninguém menos do que o co-protagonista de uma série em que a interação entre seu personagem, o agente artístico milionário Norman Newlander, com Sandy Kominsky, o professor de dramaturgia quebrado vivido por Michael Douglas, é o coração pulsante da história, bem na linha do clássico Dois Velhos Rabugentos.
No entanto, para minha surpresa completa, a derradeira temporada da série, encurtada em dois episódios, acerta em quase tudo que tenta fazer, seja pelo uso orgânico da saída de Arkin – transformada na morte de Norman – como elemento irrigador da trama macro que gravita ao redor do dinheiro e seus efeitos nefastos, e também com a intensificação do uso dos coadjuvantes Paul Reiser como Martin Schneider, namorado de 67 anos de Mindy, filha de Sandy, e Kathleen Turner como a Dra. Roz Volander, primeira esposa de Sandy e mãe de Mindy. No caso de Turner, mesmo ela já tendo aparecido antes na série, esta é a primeira vez em décadas que ela volta a dividir tela com Douglas, tendo inclusive ficado fora dos holofotes por muito tempo em razão de sua artrite reumatoide.
O que realmente importa na temporada é que, apesar de ausente, Norman é constantemente lembrado, não sendo varrido para debaixo do tapete nem por um segundo, inclusive tendo algumas cenas das temporadas anteriores – não tenho certeza se os mesmos takes, porém – usadas para salientar a dor de Sandy pela perda do amigo. E isso é importante, pois, com isso, há um respeito ao legado e ao ator que é usado para impulsionar a trama, algo especialmente representado pela herança de 10 milhões de dólares que Norman deixa para Sandy e por colocar Sandy como curador do restante da fortuna no que se refere a Phoebe e Robby, filha e neto de Norman, a primeira com sérios problemas crônicos com droga e o segundo um completo idiota membro da Igreja da Cientologia.
O dinheiro que Sandy recebe ele entrega completamente para a filha, sugerindo que ela não conte a Martin, o que, lógico deflagra uma sucessão de situações que estremecem os relacionamentos envolvidos. No lado de Phoebe e Robby, a dupla tenta desesperadamente tirar mais dinheiro de Sandy que somente lhes dá uma mesada proporcionalmente pequena. Ao longo dos roteiros, são essas situações e o que decorre delas que ganham constante destaque, com Roz entrando para fazer uma gostosa dupla com Sandy que lembra os espectadores da excelente conexão entre os atores em Tudo por uma Esmeralda e sua continuação, além de A Guerra dos Roses, formando a célebre estirada de longas oitentistas com a dupla.
Como deveria mesmo ser, é no elenco já na terceira idade que está o grande sabor da temporada, com Reiser e, mais tarde, Christine Ebersole envelhecida por meio de maquiagem pesada para viver Estelle, mãe de Martin, juntando-se aos inspiradíssimos Douglas e Turner para formar uma quadra de ases para lá de divertida, mas que mantêm o gosto agridoce com que a série aborda a vida e as escolhas feitas ao longo dela. Com isso, quase que naturalmente, Sarah Baker, que vive Mindy, filha de Sandy, é empurrada para escanteio, tornando-se uma personagem de um tom só que cansa nas poucas vezes em que aparece de maneira significativa. Mas faz parte do jogo e não tinha como a atriz se sobressair diante de seus colegas de série com muitos anos de experiência de vantagem e isso sem contar com duas ilustres participações especiais que não revelarei para não dar spoilers desnecessários.
Claro que Alan Arkin fez falta, mas Chuck Lorre conseguiu lidar sóbria e elegantemente com a saída do ator, dando um encerramento mais do que digno a O Método Kominsky que se despede no momento certo, sem se estender indefinidamente, com qualidade e relevância. Nada como saber acabar o que começou, mesmo tendo que lidar com uma reviravolta na vida real que, em mãos menos hábeis, teria feito a temporada afundar.
O Método Kominsky – 3ª Temporada (The Kominsky Method, EUA – 28 de maio de 2021)
Criação: Chuck Lorre
Direção: Chuck Lorre, Andy Tennant, Beth McCarthy-Miller
Roteiro: Chuck Lorre
Elenco: Michael Douglas, Alan Arkin, Sarah Baker, Paul Reiser, Kathleen Turner, Haley Joel Osment, Lisa Edelstein, Morgan Freeman, Barry Levinson, Christine Ebersole
Duração: 166 min. (seis episódios)