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Crítica | O Mestre Das Ilusões (1995)

Clive Barker tenta emplacar herói do horror em história Neo-Noir sobre mágicos e cultos demoníacos.

por Rafael Lima
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As franquias de terror, são em geral, construídas em torno de vilões. De Drácula a Sexta Feira 13, de Predador a Jogos Mortais, da Trilogia Zé Do Caixão aos filmes de Hannibal Lecter. Mesmo quando personagens heroicos se destacavam, eles ainda eram menos simbólicos do que os vilões. Claro, existem algumas franquias que se tornaram exceções. Ash Williams segue sendo o personagem símbolo da franquia Evil Dead, enquanto Invocação Do Mal acompanha o seu heroico casal protagonista enfrentando vilões diferentes a cada filme. Mas geralmente, na lógica de franquias cinematográficas de horror, a figura monstruosa recorrente segue sendo uma figura fixa mais presente do que o herói recorrente.

Clive Barker, criador da franquia Hellraiser, acreditava que o fato de sua criação, o sádico demônio cenobita Pinhead retornar várias vezes filme após filme o tornava menos assustador a cada aparição. Esse efeito nem era relacionado à qualidade decrescente dos filmes de Hellraiser, e sim ao fato de que um vilão de horror visto tantas vezes, torna-se familiar para o público, e por consequência, menos assustador. Em resumo, Barker apontou que dentro da lógica de franquia de horror, seria mais interessante ter uma figura heroica enfrentando diferentes monstros em cada produção, do que o mesmo monstro aterrorizando pessoas diferentes filme após filme. Nesse raciocínio Barker planejou lançar uma série de filmes estreladas pelo personagem Harry D’Amour, um detetive particular criado por ele no conto A Última Ilusão, publicada na antologia Livros De Sangue, conto esse que serviu de base para O Mestre Das Ilusões, que é o objeto desta resenha.

Na trama, Harry D’Amour (Scott Bakula) é um detetive ocultista que ao investigar uma fraude de seguros em Los Angeles, acaba sendo testemunha de um violento assassinato. Ele se interessa pelo caso, e suas investigações o levam a travar contato com Philip Swann (Kevin J. O’Connor) um famoso ilusionista cujos truques de mágica são tão convincentes que muitos acreditam tratar-se de magia de verdade. À medida que se aprofunda nos segredos do mágico que envolvem um sombrio e sangrento passado mergulhado em morte e magia negra, D’Amour envolve-se com a esposa de Swann, a bela Dorothea (Famke Janssen).

Escrito e dirigido por Clive Barker, baseado em seu próprio conto, O Mestre Das Ilusões é um divertido Thriller noventista com conceitos bem interessantes, mas que confesso, parece esticar demais uma história que definitivamente não parecia ter escopo para a sua duração, o que acaba tornando a experiência um pouco cansativa, pois a narrativa muitas vezes apenas fica dando voltas em torno de si mesma. Apesar disso, o filme possui todas as características dos filmes de Barker (e das histórias baseadas em sua obra em geral). Ou seja, o prazer e a violência parecem estar bem próximos um do outro, e existe uma criatividade estética digna de nota na hora de conceber as criaturas que cruzam o caminho do protagonista. Como em seus longas-metragens anteriores, o clássico Hellraiser (1987) e o fraquíssimo Raça Das Trevas (1990), Barker valoriza o uso de maquiagem e efeitos práticos na criação de suas criaturas, usando a computação gráfica somente quando necessário.

Clive Barker tenta fazer aqui uma grande homenagem aos filmes Neo-Noir, não apenas em sua narrativa que contém fortes elementos desse estilo de história (com Harry D’Amour sendo uma espécie de Philip Marlowe do sobrenatural) mas também em sua trilha sonora, que evoca melodias do jazz em clara referência ao subgênero. Ao mesmo tempo, o roteiro de Barker cria uma mitologia interessante por trás da seita a qual Swann pertenceu no passado. O bruxo Nix, vivido de forma histriônica por Daniel Von Bargen, é claramente baseado no famoso assassino Charles Manson, sendo capaz de influenciar os seus seguidores a cometer verdadeiras barbáries em seu nome. Entretanto, como dito antes, a história se estica mais do que deveria. O roteiro de Barker faz a investigação do protagonista dar mais voltas do que realmente precisa, inserindo subtramas desnecessárias, como a absolutamente inútil passagem de D’Amour por um clube de mágicos. 

Entretanto, apesar dos problemas de ritmo, e de não ser tão impactante ou atmosférico como Hellraiser, este filme é bem superior ao trabalho anterior de Barker, o esquizofrênico Raça Das Trevas, mostrando um amadurecimento do escritor inglês como diretor. Muitas das sequências conseguem equilibrar bem o crescendo de suspense com o gore proposto. Um ótimo exemplo é uma cena angustiante em que um dos personagens é amarrado a uma roda, e começa a ter o seu corpo perfurado por espadas, enquanto outras passagens conseguem chocar sem ser explicitamente gráficas, como a sequência que mostra os discípulos do diabólico Nix abandonando as vidas que levavam para se unir ao seu mestre, incluindo aí uma mãe que sai de casa após massacrar a própria família, em uma espécie de versão condensada da macabra cena de abertura de O Padrasto (1987).

No geral, apesar de não ter conseguido dar o pontapé inicial em uma franquia de horror focada em uma figura heroica como o seu diretor planejava, O Mestre Das Ilusões é um filme divertido, que é a cara do cinema de terror dos anos 90, com todos os seus defeitos e qualidades. Se fosse um filme fosse um pouco mais enxuto e com um ritmo melhor, poderia ter alcançado um resultado mais satisfatório, mas ainda vale a conferida.

O Mestre Das Ilusões (Lord Of Illusions) – Estados Unidos. 1995
Direção: Clive Barker
Roteiro: Clive Barker (baseado em conto de Clive Barker)
Elenco: Scott Bakula, Kevin J. O’Connor, Famke Janssen Joseph Latimore, Sheila Tousey, Susan Traylor, Ashley Tesoro, Michael Angelo Stuno, Barbara Patrick, J. Trevor Edmond, Wayne Grace, Daniel Von Bargen, Barry Shabaka Henley, Luca Tommassini
Duração: 109 Minutos

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