O Jornalismo, por muitas vezes, é uma profissão ingrata. E seus profissionais, também por muitas vezes, são ilustres desconhecidos que raramente recebem a consideração que merecem. Principalmente no meio investigativo. Sabe-se muito pouco a respeito das coisas que essas pessoas precisaram fazer para garantir que o público tivesse conhecimento sobre algo que era mantido em sigilo.
E por mais que possa parecer simples, até a matéria se tornar concreta e ser publicada existe centenas de pequenas questões envolvidas, especialmente se houver menções a grandes corporações, figuras públicas, políticos, isso sem mencionar o governo e filiados. O Jornalista, por exemplo, precisa se assegurar que terá o apoio do veículo no qual trabalha caso apareça qualquer problema, como processos e dentre outras acusações. Infelizmente, não foi o que aconteceu com Gary Webb.
Ele não estava em busca da matéria perfeita, aquela que o faria famoso. Queria mesmo era ser útil e escrever uma história que causasse impacto. E ela acabou caindo bem no seu colo ao pegar dezenas de recados telefônicos de uma mesma pessoa, Coral Baca. Gary já estava trabalhando em uma matéria envolvendo drogas, mas ele não podia sequer imaginar o tamanho da bomba que Coral lhe traria. Coral que é noiva de um suposto traficante que está preso lhe entrega a transcrição de uma audiência, um documento sigiloso, e que por qualquer razão caiu nas mãos dela. Após ler o documento e seguir algumas pistas Gary acaba descobrindo o envolvimento da CIA com traficantes que contrabandeavam drogas para dentro dos Estados Unidos a fim de financiar os armamentos para a guerra civil da Nicarágua na década de 90. O jornalista tem em mãos a matéria que tanto procurava, mas ela lhe trará bem mais decepções do que alegrias, colocando-o em uma posição bastante delicada, tanto na vida pessoal quanto profissional.
O Mensageiro é baseado na história real do jornalista americano Gary Webb e teve seu roteiro inspirado no livro Kill The Messenger – o título original do filme – escrito por Nick Shou, como também em Dark Alliance, o livro escrito pelo próprio Webb e que ganhou alguns prêmios literários.
A trama é deveras envolvente e prende a atenção do espectador do primeiro ao último minuto do filme. O fato de misturar cenas de arquivos de imagem e reportagens da época facilita para que haja uma imersão mais rápida na história e também contribua para o ritmo da mesma.
Jeremy Renner desempenha um ótimo trabalho na pele do repórter meio arrogante, seguro de si, mas um homem de família acima de tudo. Aliás, O Mensageiro possui um elenco excelente que conta com nomes como Oliver Platt, Tim Blake Nelson, Robert Patrick e até Andy Garcia.
No entanto, existem alguns problemas técnicos em relação à cenografia e fotografia que saltam aos olhos e podem confundir um pouco o espectador quanto à época em que o filme se passa, pois devido a alguns objetos em cena, como também a coloração meio alaranjada da fotografia fica parecendo que a trama acontece na década de 70 e não nos anos 90 (mais precisamente em 1996) como realmente foi. Claro que não é nada que atrapalhe a experiência ou mesmo o conteúdo do filme, mas é um erro bobo para uma produção desse porte.
Agora, difícil mesmo é não se indignar com a história em si e na maneira como a mídia consegue facilmente manipular informações ainda mais quando possuem a ajuda do governo. Que força teria o Gary Webb que escrevia para um jornal pequeno contra o Washington Post que tinha na presidência alguém que já havia trabalhado para a CIA? Complicado.
Por isso é preciso repetir: o Jornalismo é uma profissão ingrata. Muitas vezes nobre, porém, ingrata.
O Mensageiro (Kill The Messenger, EUA – 2014)
Direção: Michael Cuesta
Roteiro: Peter Landesman
Elenco: Jeremy Renner, Robert Patrick, Oliver Platt, Mary Elizabeth Winstead, Lucas Hedges, Rosemarie DeWitt, Matthew Lintz, Parker Douglas, Kai Schmoll, Paz Vega, Josh Close, Barry Pepper, Yul Vazquez, Tim Blake Nelson, Michael Kenneth Williams, Andy Garcia, Brett Rice, Michael Sheen, Richard Schiff, Ray Liotta
Duração: 112 min.