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Crítica | O Menino na Caixa de Ferro, de Guillermo del Toro e Chuck Hogan

Não abram a caixa...

por Ritter Fan
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Tenho visto a Amazon fortalecer seu catálogo de obras literárias exclusivas ou, pelo menos, exclusivas inicialmente, por meio do lançamento especialmente de contos e novelas de autores famosos por preços módicos ou incluídos na assinatura do Kindle Unlimited já há algum tempo. Há desde contos soltos, como foi o caso de Minha Mãe Malvada, de Margaret Atwood, até coletâneas temáticas de contos, como a coleção Creature Feature, por autores como Joe Hill, Grady Hendrix, Josh Malerman e outros, muitos deles – ou quase todos – oferecidos também em áudio via Audible, empresa do grupo. Mas, para mim, a mais curiosa iniciativa recente do conglomerado de Jeff Bezos foi a que envolveu o lançamento de O Menino na Caixa de Ferro, uma nova parceria entre Guillermo del Toro e Chuck Hogan, dupla responsável pela Trilogia da Escuridão.

Enquanto que a obra em si não tem nada de especial, a forma como ela foi lançada é no mínimo peculiar. Procurando-a no site da empresa, percebe-se que são seis partes, ou melhor, seis “livros”, cada um com um título – Falling Down (Caindo), The Pit and the Box (O Poço e a Caixa), The Hunted (Os Caçados), Risen (Ressuscitado), Siege (Cerco) e Encounter (Encontro) – que foram lançados simultaneamente, no dia 1º de julho de 2024, como se fosse uma série do Netflix. Além disso, diferente do que pode parecer, não são seis contos amarrados tematicamente ou mesmo meros contos conectados ou não. Tratam-se de verdadeiros capítulos de uma única história. A razão de se dar ao trabalho de separar a novela em seis capítulos somente para lançá-los no mesmo dia é, para mim, um mistério, mas tenho certeza de que mentes marketeiras criaram toda uma estratégia para isso.

E, se a estratégia era gerar curiosidade, não tenho vergonha em dizer que ela funcionou comigo e que eu caí na armadilha.

A dupla escritora conta uma história que é uma sucessão de clichês do gênero em que um avião levando um grupo de mercenários russos cai nas montanhas geladas da China e eles, então, partem para abrigar-se em uma misteriosa estrutura cuja existência seu experiente líder Liev percebera durante a pane. Depois de lutar contra lobos, a equipe chega nesse lugar labiríntico de paredes altas em que nem mesmo os animais que os perseguiram têm coragem de entrar e o mais ambicioso e descuidado deles, durante uma patrulha noturna, encontra e abre a tal caixa de ferro do título, encontrando o que parece ser a estátua de um menino. Mas, claro, de estátua e de menino a criatura que sai de lá não tem nada e os mercenários passam a ser caçados e precisam montar uma estratégia de contra-ataque contra um inimigo que não entendem.

Como disse, é clichê do começo ao fim, com os autores, em momento algum, tentando entregar mais do que o básico. E isso não seria um grande problema se Del Toro e Hogan tivessem trabalhado seus personagens com mais cuidado, sem transformá-los em meros recortes de cartolina que existem como meros arquétipos rasos de soldados de forças especiais ou coisas do gênero. Há o soldado irresponsável, o que quer vingança a todo custo, o especialista em bombas, o que parece ser sempre o culpado de tudo, o segundo em comando absolutamente fiel, e, claro, o líder inconteste e sempre sem que o texto tente ir além dessas características absolutamente comuns e genéricas que basicamente povoa todo tipo de obra literária ou audiovisual que resvale em premissa parecida. Com isso, Liev e seus colegas são os durões de sempre que precisam lidar com uma ameaça obviamente sobrenatural e tudo o que eles sabem fazer é dar mais tiros e explodir mais bombas em um crescendo constante.

Confesso que a criatura em si, apesar de também ser um clichê ambulante em suas habilidades e estratégias, foi alvo de um certo carinho pelos autores que acabaram criando algo que parece ser mais do que a soma de suas características batidas. No entanto, pelo fato de a história ser narrada a partir do ponto de vista dos mercenários, naturalmente não há espaço para o “menino” ser abordado com mais detalhes, ainda que, mais para o final, sua natureza seja um pouco desenvolvida, mesmo que na forma de um mero tira-gosto.

A vantagem é que, por outro lado, Del Toro e Hogan não exigem muito do leitor. Ou seja, se eles entregam pouco, pelo menos eles também não cobram muito, já que todo e qualquer semblante de complexidade narrativa é defenestrado em prol da pura pancadaria em bases mais do que conhecidas por qualquer um que leia o mínimo ou veja o mínimo de filmes. O resultado é uma leitura fácil, rasteira e tão básica quanto sua premissa que serve de intervalo para respirar entre livros maiores e mais sérios, ou seja, até existe um “espaço” para O Menino na Caixa de Ferro ocupar na prateleira virtual daqueles que gostam de uma pitada descompromissada de horror militarístico. Agora é esperar para descobrir que outra estratégia de marketing o pessoal da Amazon usará para fisgar mais leitores…

Obs: Todos os títulos em português são traduções livres e diretas feitas por mim, já que a obra, no momento da publicação da presente crítica, não está disponível em português.

O Menino na Caixa de Ferro (The Boy in the Iron Box – EUA, 2024)
Contendo: Falling Down (Caindo), The Pit and the Box (O Poço e a Caixa), The Hunted (Os Caçados), Risen (Ressuscitado), Siege (Cerco) e Encounter (Encontro)
Autoria: Guillermo del Toro, Chuck Hogan
Editora: Amazon Original Stories
Data original de publicação: 1º de julho de 2024
Páginas: 157

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