O ciberespaço é um lugar de vantagens e desvantagens, como todos nós usuários e consumidores, sabemos. Há a rede de hackers que utilizam o espaço para colocar em práticas crimes hediondos que vão desde assassinatos e despejo de dados confidenciais para o grande público aos idealistas que utilizam os seus conhecimentos de informática para reagir aos ditames de nossa sociedade de controle. Tópico temático conhecido por gerar muitos debates, a invasão de sistemas para descobertas de segredos de grandes corporações e também de setores governamentais em ações escusas é algo considerado crime, pois fere a legislação vigente, mas coloca em pauta a importância de uma juventude que não pode se abster de questionar, balançar as estruturas dos padrões estabelecidos, criando canais que popularizam aquilo cifrado apenas para uma pequena camada dos cidadãos. Até parece um pouco, salvaguardas as devidas proporções, um processo de alienação semelhante ao que se desenvolve no clássico O Nome da Rosa. Conhecimento é poder, e, quando colocado como mercadoria, pode ser algo acirrado.
No documentário O Menino da Internet: A História de Aaron Swartz, somos apresentados a uma história de santos e pecadores do ciberespaço. Aaron Swartz, a figura biografada, foi um ativista pioneiro no campo de determinados esquemas de programação, um idealista criador da RSS, da Fundação Reddit e propagador da ideia de cultura livre, isto é, uma linha de pensamento que apregoa a distribuição e modificação de obras livres, desde softwares e músicas, aos demais suportes narrativos, o que inclui a liberdade de executar o conteúdo para qualquer propósito, copia-lo para permitir que outras pessoas tenham acesso e se beneficiem democraticamente do material, além da ousada estratégia de melhorar o que se tem em propostas de aperfeiçoamento. Em linhas gerais, um conteúdo livre para uso de qualquer um, em qualquer lugar, para qualquer propósito, tema acirrado que gera muitas discussões e está longe de alcançar um consenso.
Ao longo de seus 105 minutos, a produção faz uma travessia uma panorâmica pela trajetória de Aaron Swartz, contemplando a sua prisão, as táticas da acusação para o processo judicial, numa trajetória repleta de entrevistas que analisam a situação deste jovem que realizou o download massivo de artigos acadêmicos premiados de uma instituição, colocando em voga debates fervorosos sobre direito intelectual na esfera virtual. Privados, os documentos não podiam ganhar camadas mais amplas da população leitora, mas Swartz coloca em prática o seu projeto e causa alguns transtornos, além da polêmica em torno da insegurança virtual. Familiares, amigos, pessoas que estiveram ao seu lado em dinâmicas de trabalho, dentre outros, depõem sobre o assunto, numa exposição orgânica bem concebida pela direção de Brian Knappenberger, também responsável pelo roteiro deste documentário lançado em 2014.
Acompanhamos esta análise dos caminhos pavimentados pelo jovem através da direção de fotografia burocrática de Scott Sinkler e Lincoln Else, imagens adornadas pela composição musical de John Dragonetti, responsáveis por dinamizar o conteúdo que funciona como entretenimento para curiosos, mas provavelmente atrai os interessados em Direito e Informática. Dividido em duas partes, uma sua sobre vida, a outra sobre o processo judicial, a narrativa também coloca em debate os interesses de jovens como Aaron Swartz, figuras que não tem exatamente como propósito, criar produtos de inovação, mas contribuir significativa para a democracia, um conceito que se perdeu ao longo de nossa história, fundamento básico para uma sociedade mais igualitária. Financiado coletivamente, O Menino da Internet: A História de Aaron Swartz reflete a pirataria e seus desdobramentos, um tema bastante recorrente na contemporaneidade, expondo também o desfecho da trajetória deste garoto que não conseguiu resistir aos pressionamentos exercidos em seu processo e se suicidou em 2013, encerrando a saga de uma vida iniciada em 1986. Morreu jovem, mas deixou como marca um longo debate.
O Menino da Internet: A História de Aaron Swartz (The Internet’s Own Boy:The Story of Aaron Swartz – EUA, 2014)
Direção: Brian Knappenberger
Roteiro: Brian Knappenberger
Elenco: Tim Berners-Lee, Cory Doctorow, Peter Eckersley, Lawrence Lessig
Duração: 105 min