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Crítica | O Macaco (2025)

A comédia na tragédia.

por Felipe Oliveira
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Conhecido por trazer uma narrativa pouco usual em sua filmografia, era interessante imaginar o que Oz Perkins faria ao adaptar um conto de Stephen King para os cinemas. Depois do remake de It – A Coisa, é difícil lembrar de uma adaptação do autor que tenha agradado recentemente, e ao ser anunciado como o nome responsável para levar O Macaco para as telonas, o cineasta americano parecia a oportunidade perfeita para a retratar a história de uma família marcada por caos e tragédia quando resgatam um macaco de brinquedo de um sótão, principalmente quando Perkins se destacou no horror por imprimir em seus filmes algo embebido numa melancolia densa e sombria, características que alcançaram o status de reconhecimento através de Longlegs. Indo na contramão do seu estilo, The Monkey pode ser considerado o primeiro filme com uma pegada voltada para agradar o grande público ao fazer do traumático conto uma comédia de terror que faz do gore sua maior diversão.

Por a história se passar nos anos 90, entende-se aqui que Perkins pega emprestado o famoso subgênero trash para justificar o humor cínico que se revela na adaptação. Não demora para muito para ficar claro como o cineasta se baseia no conto, mas também criou toda uma lógica própria que faz o personagem título do filme funcionar como um mecanismo que espalha um caos incontrolável, algo semelhante com a tradicional maldição que persegue uma família, no entanto, fazendo da sua principal ferramenta uma experiência visual estética. E embora Perkins tenha espalhados referências sobre nomes icônicos das obras de King, é inegável não pensar que há uma influência de filmes de tragédia clássicos no tom do filme, mas que também esbarra no memorável maneirismo do slasher sobrenatural que Premonição criou no imaginário da cultura pop. Em termos de comparação, é como se O Macaco fosse o Final Destination 4 que deu certo: um terror que abusa de efeitos visuais e tenta extrair das situações e mortes mirabolantes um humor desconcertante, a diferença é que a adaptação consegue aproveitar o máximo da fórmula que insere ao nunca levar a sério o cerne do conto que se baseia.

Isso fica evidente na maneira como a abertura insere uma espécie de releitura ao conto, introduzindo o macaco que vai ser o objeto de maldição que espalha um caos geracional na família Shelburn. Convenhamos que, embora a história trate o brinquedo como receptáculo para o mal, acompanhar Theo James interpretando dois irmãos fugindo de um antigo macaco – numa clara alegoria a Caim e Abel – não é como se fosse Andy tentando sobreviver a Chucky. A todo tempo a versão de Perkins remete a algo visto no terror cinematográfico, e na escolha de colocar um humor irreverente em meio a contagem de corpos com mortes absurdas soa mais como uma paródia de filmes de terror que não se assume pegando o velho horror de uma maldição que é desencadeada, mas que se desdobra para um nível ininterrupto acidentes numa comédia caótica.

É ótimo como Perkins se diverte ao pegar um drama familiar que aborda a repentinidade da morte como uma maldição elaborada numa narrativa descomprometida que trata o caos como um mecanismo imbatível, uma bomba-relógio toda vez que o macaco toca seu tambor. Mas assim como o conto, a adaptação soa superficial ao lidar com os arcos e personagens. Quem poderia imaginar que Perkins trabalharia com um terror familiar – repleto de jumpscares – em um filme sem ritmo e narrativamente trivial, depois de se destacar pela forma que montava os mistérios de suas criações? Enquanto Longlegs e February tiveram sua maneira de fazer um terror psicológico, The Monkey chega ao público como um terror pop paródia que a Blumhouse faria numa tentativa de contrariar as convenções do gênero.

Claro que dá para se divertir com a proposta e como Perkins brinca com os absurdos criados, mas é interessante observar como o cineasta vai contra as expectativas de fazer mais um terror denso para sua coleção, trazendo uma suposta origem demoníaca para o macaco, mas optando por pegar a parte mais atraente do conto e transformar numa sacada mirabolante com gore e explosões. Se Todo Mundo em Pânico 5 e Premonição 4 tivesse um filho, certamente seria algo parecido com O Macaco, que é salvo por Perkins compor um visual interessante mesmo para um filme que só quer explodir corpos e ser divertido, sem querer criar algo memorável para isso, mas para uma adaptação de um conto de Stephen King, tem o mérito de ser umas das melhores depois que Pennywise deixou de ser assustador.

O Macaco (The Monkey – EUA, 2025)
Direção: Oz Perkins
Roteiro: Oz Perkins
Elenco: Theo James, Tatiana Maslany, Ed Wood, Colin O’Brien, Christian Convery, Sarah Levy, Oz Perkins
Duração: 98 min

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