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Crítica | O Lobo de Snow Hollow

por Iann Jeliel
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O Lobo de Snow Hollow é o terceiro longa de Jim Cummings, ator, diretor e roteirista independente, que ganhou holofotes com a comédia tragicômica Thunder Road em 2018. A história é típica de um suspense de assassinato passado em regiões gélidas, onde um policial, John Marshall (Cummings), investiga uma série de mortes ocorrendo na sua pequena cidade de interior, denominada Snow Hollow, que se torna o seu maior caso. A diferença primordial é que essa matança pode ou não estar ocorrendo por conta de um Lobisomem, mas o filme se volta muito mais para uma comédia dramática do absurdo do que necessariamente para um suspense policial ou terror, dado a criatura mitológica que antagoniza.

Confesso que não vi o famoso longa de Cummings antes de me aventurar neste, e talvez isso faça alguma diferença para a experiência, pois dado os comentários da ótima crítica do meu companheiro Luiz Santiago à época do lançamento, trata-se de uma mesma forma aplicada para a filmes diferentes. O policial condutor da história é a mesma representação satirizada do homem da lei buscada naquele filme, um personagem problemático, com histórico de dependência alcoólica e difíceis relacionamentos com a família que, pela sua personalidade impulsiva e berrante, torna-se estranhamente carismático. Julgo que o grande mérito aqui é como o diretor consegue comportar todos esses tons no personagem de modo a adequá-los no mesmo filme de maneira que um não anule o outro.

Simpatizamos com John por rimos das suas epifanias e ficamos tensos com elas porque a montagem trabalha em paralelo às suas reações as cenas dos assassinatos. Essas que possuem aquele sangue bem cartunesco e artificial, com música gritante de fundo, se englobando ao overacting da encenação teatral. Não é uma linguagem de assimilação imediata, mas depois de um tempo o espectador se acostuma, quando vai encaixando o estudo de personagem na narrativa de investigação. Há dois efeitos possíveis de se extrair a partir disso. O que se busca é a antipatia do policial se converter a uma humanização própria, que nos faz investir no restante da história conduzida por ele. A outra é a sua antipatia no tratamento do humor se mostrar cansativa depois de tantos gritos desesperados.

Sinto um pouco de cada, mas vejo que o roteiro vai se tornando mais interessante na abordagem cômica próximo à resolução, justamente para se alinhar à plausibilidade da reviravolta, considerando uma leve escalada de absurdo. O mais engraçado é que isso é feito em contraposição à orquestração da racionalização do mito do Lobisomem, que também, vai sendo mais acreditado em repercussão local à medida que o caso demora a se resolver. Essa e outras sacadinhas favorecem a atmosfera híbrida de O Lobo de Snow Hollow, inevitavelmente lembrando Fargo no tom tragicômico do crime em ambientação nevada, mas com a linha original do acréscimo ao terror.

A criatura, diante da objetividade do filme – dado a sua curta duração –, relativamente demora de aparecer uma primeira vez, e quando aparece, no uso de efeitos digitais mesclados com efeitos práticos de maneira bem calculada, deixa a dúvida de ser real ou não, reforçada pelas pistas da investigação que apontam às vezes para um lado, às vezes para o outro – geralmente o reforço da fantasia vem das várias inserções de belíssimos planos da lua cheia. Se for destacar algo negativamente, seria a pouca importância dos personagens secundários para aumentar a tensão sobre algum deles virar vítima. Todos ficam mais como utensílios do desenvolvimento do protagonista do que particularmente relevantes, ou seja, se existe o suspense de alguma perda, tememos mais por como John irá lidar com a perda – exemplificando: a filha dele (Chloe East) corre risco em determinado momento – do que pela vida da pessoa realmente em risco.

O Lobo de Snow Hollow pode até ser um repeteco do estilo de Cummings em outra roupagem – como dito, no momento de publicação desse texto, ainda não vi Thunder Road –, mas por proposta em isolado, a mistura de um derivado de investigação com comédia tragicômica dos Irmãos Coen com um trash de Lobisomem, é inegavelmente engraçada e peculiar.

O Lobo de Snow Hollow (The Wolf of Snow Hollow | EUA, 2020)
Direção: Jim Cummings
Roteiro: Jim Cummings
Elenco: Jim Cummings, Riki Lindhome, Robert Forster, Chloe East, Will Madden, Annie Hamilton, Jimmy Tatro, Hannah Elder, Kelsey Edwards, Skyler Bible, Anne Sward, Demetrius Daniels, Kevin Changaris, Chase Palmer, Daniel Fenton Anderson, Rachel Jane Day, Marshall Allman
Duração: 83 minutos

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