- Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.
In the Name of Honor é a prova cabal de que todo Return of the Mandalorian e pelo menos 80% de From the Desert Comes a Stranger não serviram para absolutamente nada dentro de O Livro de Boba Fett. Foram episódios que se preocuparam em contar outra história, uma espécie de prévia da próxima temporada de The Mandalorian (e nem nisso foram tão bons assim, aliás…), que não ganharam convergência alguma no final da série em que foram inseridos. Sei que muita gente vai dizer que eles “explicam” a presença do Baby Yoda por ali, mas, por favor, isso é, sob qualquer ponto de vista de técnica narrativa, forçar a barra para encaixar o quadrado no triângulo, já que o “fofo” do bichinho não faz absolutamente nada de diferente do que já fez antes na outra série.
E o mais frustrante é que Jon Favreau tinha uma tábula rasa com Boba Fett. Personagem icônico, mas que apareceu pouquíssimo na Trilogia Original e ganhou um passado também breve na Trilogia Prelúdio, Favreau podia fazer o que quisesse com ele, mas ele sequer conseguiu escrever sete míseros episódios com foco principal no personagem e, ainda por cima, escolheu transformá-lo em um sujeito sem graça, tirando todo seu ar de mistério e, pior ainda, criando uma história em que sua presença e função lá dentro são insignificantes. No lugar de usar o que o personagem tinha de forte – sua presença em tela, seu estoicismo e sua armadura – e construir em cima disso, Favreau faz o contrário e destroi o que ele tinha, convertendo-o em um bobo da corte que acredita em todo mundo, aceita tudo o que todos falam e não sabe sequer criar um plano minimamente razoável para se defender.
O final é, basicamente, um show de horrores em todos os sentidos, com Robert Rodriguez de novo achando que está no set de filmagens de Pequenos Espiões. Peguem o cerco à boate explodida. Qual é o senso de ameaça que aquela meia dúzia de Pykes criam? Comparem essa cena com a cena em que Moff Gideon cerca o bar em The Mandalorian. O contraste entre os dois momentos é gigantesco, literalmente da água para o vinho. E não fica melhor quando os dois mandalorianos chegam voando e começam a trucidar os peixes mascarados a torto e a direito e menos ainda quando entram os robôs protegidos por escudos de força impenetráveis. Aliás, esses dois bicharocos gigantes representam a epítome da preguiça de roteiro. Favreau cansou de escrever e resolveu seu dilema em uma página só datilografando “entram robôs gigantes que permanecem em tela durante 20 minutos”. Pronto. Economia de papel, de diálogos, de extras e de qualquer resquício de inteligência, ou seja, a receita do que é necessário para fazer uma série ter sucesso. E Rodriguez manteve aquela sua pegada limpa, clara e, portanto, completamente inconsistente com tudo o que Star Wars sempre foi só para ser aquela cereja no topo do bolo estragado.
Mesmo quando Fett chega cavalgando o rancor com sela e tudo – custava terem investido mais nessa ligação entre mandaloriano e fera no lugar de ficar mostrando cena de montagem de Kit Revell de nave espacial entre Mando e Peli Motto? – Rodriguez mete os pés pelas mãos ao ser subserviente ao “roteiro” de Favreau que ordenava a manutenção dos dois robôs em cena por mais 10 ou 15 minutos, pois os 20 anteriores, aparentemente, foram poucos demais. E a missão stealth de Fennec Shand – que desparece do episódio todo, temos que lembrar! – ao finalzinho? Para que aquilo? Ficou parecendo um trecho filmado quando o roteiro era diferente do que acabou vendo a luz do dia, mas que resolveram aproveitar mesmo assim, com Rodriguez de novo não conseguindo passar um décimo de segundo de tensão, medo ou mesmo técnica da assassina.
Aliás, deixe-me colocar as cartas na mesa aqui: mesmo que haja lógica em se pedir ajuda a Mando, a presença dele, na série, foi injustificada. Nada que ele fez nessa luta final realmente mudou seu rumo e o pedido de ajuda a Cobb Vanth (que, como eu disse, não morreu…) poderia ter sido feito de outra forma. Shand poderia ter ocupado o papel de Mando com a maior facilidade, o que teria aberto mais espaço para a personagem. Mas não. Era essencial que houvesse esse crossover já, imediatamente, porque os fãs coitadinhos precisam ver seu personagem preferido da vida em todos os frames da série. E a coisa vai a tal ponto que a última tomada da série do Boba Fett não é do Boba Fett e sim do Mando, terminando de enterrar qualquer credibilidade que em algum momento Fett talvez tenha tido.
Mas calma que eu não acabei. Vamos falar de Cad Bane? O “magnífico” caçador de recompensas que os fãs surtaram quando apareceu no estilo Sergio Leone ao final do episódio anterior pela primeira vez em live-action. Toda aquela fanfarra, todo aquele estilo foi mais do que completamente desperdiçado aqui. Primeiro, ele chega para bater um papinho com Boba e sai tristinho. Durante a pancadaria, nem sinal do sujeito, que devia estar tomando uns goles no saloon mais próximo. E eis que, com o Sindicato Pyke derrotado por causa do rancor, ele retorna para não-sei-bem-o-que e, surpresa, surpresa, é derrotado com uma rasteira e uma espetada do cajado Gaffi de Fett, no único momento de ação exclusivo dele (todos os 10 segundos que isso dura). Ou seja, ao que tudo indica, Favreau tem implicância com todo e qualquer caçador de recompensa que ele próprio não tenha criado…
Eu gostaria que O Livro de Boba Fett tivesse acabado pelo menos da forma como começou, ou seja, medíocre. Mas nem isso Favreau foi capaz de fazer e entregou um final fraquíssimo que consegue terminar de estragar Boba Fett e me deixar temeroso pelo futuro da franquia Star Wars em suas mãos. Mas, fazer o que? Agora é esperar para descobrir o que Obi-Wan Kenobi andou fazendo em seu exílio em Tatooine enquanto esperava o pod de fuga da Tantive IV cair no planeta carregando dois droids. Até lá, tenho certeza que conseguirei esquecer a nota de pé de página que foi esse suposto livro de Boba Fett…
O Livro de Boba Fett – 1X07: In the Name of Honor (The Book of Boba Fett – EUA, 09 de fevereiro de 2022)
Criação: Jon Favreau
Direção: Robert Rodriguez
Roteiro: Jon Favreau
Elenco: Temuera Morrison, Ming-Na Wen, Matt Berry, David Pasquesi, Jennifer Beals, Mandy Kowalski, Skyler Bible,
Frank Trigg, Collin Hymes, Stephen Root, Sophie Thatcher, Carey Jones, Pedro Pascal, Timothy Olyphant
Duração: 60 min.
