Home TVEpisódio Crítica | O Livro de Boba Fett – 1X03: The Streets of Mos Espa

Crítica | O Livro de Boba Fett – 1X03: The Streets of Mos Espa

Fett emprega os Power Rangers.

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.

Logo antes de assistir The Streets of Mos Espa, passei por minha filha mais nova assistindo um daqueles telefilmes live-action do Disney Channel que estão reunidos no Disney+ e fiquei com aquilo na cabeça, como uma mensagem subliminar. E, ao final do terceiro episódio de O Livro de Boba Fett, entendi o porquê de a série definitivamente não estar funcionando para mim: ela parece, em todos os seus aspectos, um desses telefilmes como Descendentes, em que tudo parece falso, dos cenários aos figurinos, passando pelas criaturas, com atuações de medianas para baixo e ninguém sendo realmente malvado. Em outras palavras, apesar de eu desgostar dessas afirmações genéricas, “disneyficaram” completamente o Boba Fett.

O estranho, porém, é que The Mandalorian não tem nada disso. Sim, a fofura do Baby Yoda estava lá o tempo todo para extrair suspiros e sorrisos de todos, mas havia, na série – e espero que continue tendo – uma qualidade sensivelmente maior em tudo o que falta no spin-off. Apesar do uso da tecnologia StageCraft, O Livro de Boba Fett usa muitos cenários físicos, o que acaba diminuindo sua aplicabilidade, muito mais voltada a substituir as antigas (e, para mim, ainda imbatíveis) pinturas matte. Isso é particularmente visível neste terceiro capítulo, com a cidade de Mos Espa, como aconteceu em Stranger in a Strange Land, não parecendo real e vivida, uma das mais impressionantes características da franquia. Ao contrário, o que ela parece é Galaxy’s Edge, aquela área temática inspirada em Star Wars dos parques de diversão da Disney na Flórida e na Califórnia, ou seja, bacana, bem feita, mas que nós sabemos que é falsa, o que impede a tão importante imersão na proposta.

A perseguição dos ciborguescentes em motos coloridas (mais sobre eles adiante) ao assistente/mordomo de Mok Shaiz é o ponto alto da ruindade, já que a “cidade falsa” é unida a efeitos especiais inacreditavelmente fracos e artificiais que espantam de tão descolados da qualidade técnica usual que vemos nas obras deste universo. A própria perseguição em si é tão “emocionante” quanto a célebre perseguição da polícia atrás de OJ Simpson pelas rodovias de Los Angeles (quem não viu, vale procurar no Youtube), com a única diferença sendo a alteração no ângulo das filmagens. Já que mencionei parques de diversão, os passeios clássicos da DisneyWorld (aqueles que ainda usam tecnologia antiga, só de animatrônicos) conseguem ser muito melhores do que o que Robert Rodriguez faz aqui.

Essa baixa qualidade em algo que é da infraestrutura básica de tudo o que é Star Wars é surpreendente e decepcionante. O que não é tão surpreendente assim é a tal “disneyficação” das situações e personagens. Os adolescentes ciborgues que não têm dinheiro para comprar água, mas têm para fazer as modificações em seus corpos, por mais que contem com Sophie Thatcher entre eles, simplesmente não funcionam como guarda-costas de Boba Fett. Eu já vinha reclamando que o novo “poderoso chefão” de Tatooine só tinha dois porcos verdes e barrigudos, além de Fennec Shand, como seguranças, mas a adição do grupinho de motoqueiros Power Rangers não melhora em nada essa situação. Aliás, só piora, pois é mais um passo na transformação de Boba Fett no “amigão da garotada”…

Aliás, nessa toada, nem mesmo o rancor presenteado a ele pelos gêmeos Hutts (um parênteses: sou só eu que morro de rir com o gêmeo que usa um bicho vivo como lenço para enxugar seu suor?), com ninguém menos do que Danny Trejo como seu treinador, se salva desse processo de disneyficação. A criatura feroz que almoçou um guarda gamorreano e que fez Luke Skywalker cortar um dobrado sofre um retcon e se transforma em uma fofura dócil, fiel, que pode ser cavalgada e que provavelmente será batizada de Margarida, Lulu ou algo do gênero. Confesso que teria mais medo de ficar trancado em uma jaula com Trejo do que com esse rancor transformado em coelhinho (e não o de Caerbannog, claro…).

E olha que o roteiro do episódio nem é ruim. Longe de ser uma maravilha, claro, mas pelo menos há uma boa construção que faz com que Boba Fett a conheça a verdadeira ameaça ao seu reinado em Tatooine, o que pode levar a interessantes conflitos futuros se os efeitos especiais deixarem e se houver mesmo pancadaria entre eles e não uma troca de ramalhetes de flores ou uma dança ritualística regada a alucinógenos e bebida ao redor de uma fogueira. O problema é que esse roteiro básico, mesmo sendo capaz de inserir uma boa pancadaria com o imponente Krrsantan Negro (Carey Jones), que provavelmente se tornará outro aliado de Fett, é insuficiente para segurar as pontas de uma série que vem sofrendo tremendamente do lado técnico, algo que eu jamais imaginaria dizer de um produto Star Wars que não fosse, claro, o inesquecível Holiday Special.

The Streets of Mos Espa é um episódio feio, no pior sentido da palavra mesmo e, mais ainda, mortalmente mal feito. Sua produção sofre com o que parece ser o mais completo descaso em se criar cenários, cenas de ação e situações que permitam que o espectador realmente invista no drama do protagonista (que drama, não é mesmo?), seja no passado ou no presente, preocupando-se muito mais em transformar a série em um telefilme digno dos primórdios do Disney Channel de forma a atrair o maior número possível de pe$$oas que aceitam qualquer coisa que tiver a marca Star Wars estampada no começo. A julgar apenas por esses três episódios – e espero muito que melhore nos próximos quatro – era melhor que Fett tivesse permanecido como coadjuvante em The Mandalorian

O Livro de Boba Fett – 1X03: The Streets of Mos Espa (The Book of Boba Fett – EUA, 12 de janeiro de 2022)
Criação: Jon Favreau
Direção: Robert Rodriguez
Roteiro: Jon Favreau
Elenco: Temuera Morrison, Ming-Na Wen, Matt Berry, David Pasquesi, Jennifer Beals, Mandy Kowalski, Skyler Bible,
Frank Trigg, Collin Hymes, Stephen Root, Sophie Thatcher, Sophie Thatcher, Carey Jones, Danny Trejo
Duração: 39 min.

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