Home TVTelefilmes Crítica | O Legado de O Poderoso Chefão (The Godfather Legacy)

Crítica | O Legado de O Poderoso Chefão (The Godfather Legacy)

Simplificando demais a lenda.

por Ritter Fan
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Dirigido por Kevin Burns – não confundir com o grande documentarista Ken Burns – O Legado de O Poderoso Chefão, minha tradução direta de The Godfather Legacy, é um documentário de quase 90 minutos que tenta lidar com toda a trilogia de Francis Ford Coppola, mas, previsivelmente, não consegue. É sem dúvida uma boa obra – talvez a melhor disponível em audiovisual – para se ter uma ideia mais detalhada dos temas, significados e importância dos longas para quem porventura tenha pouca intimidade com eles, mas o filme é um esforço que pende mais para o burocrático, do que algo que realmente vá a fundo em qualquer um dos assuntos que aborda, especialmente, por mais irônico que possa parecer, o legado da trilogia.

Estruturalmente, o documentário é consideravelmente mal dividido, dedicando apenas seus 15 minutos iniciais à produção do primeiro filme, aludindo ao caos que foi, mas sem jamais, por um segundo sequer, conseguindo efetivamente evocar os problemas porque Coppola e outros passaram, inclusive glosando momentos importantes como a tentativa da Máfia novayorkina de sabotar as filmagens e suavizando tremendamente o conflito gigantesco entre o diretor e Robert “Bob” Evans, o lendário chefão da Paramount na época. Os 40 minutos seguintes mergulham então em O Poderoso Chefão, lidando com seus temas mais importantes e trazendo todo um contexto sociopolítico que é sem dúvida alguma interessante, mas pouco explorado. Em seguida, são breves 13 minutos para o segundo filme, com a proeza de sequer mencionar o nome de Robert De Niro e, finalmente, parcos nove minutos para o encerramento da trilogia, mesmo considerando a má recepção que o filme teve, que poderia ter ganhado um olhar mais detalhado.

Em resumo, o documentário de Kevin Burns teria se beneficiado de mais foco, ou seja, ser menos ambicioso e, no lugar de tratar dos três filmes, discutir apenas o primeiro com mais profundidade. Do jeito que sua obra acabou ficando, temos muito, mas ainda assim não o suficiente de O Poderoso Chefão e quase nada de O Poderoso Chefão II e O Poderoso Chefão III, o que acaba gerando um grau razoável de decepção se o espectador tiver mais do que um conhecimento perfunctório sobre os bastidores e as temáticas das obras. Para quem conhece bem pouco, certamente o documentário oferece mais, só que também não o suficiente para realmente elevar o conhecimento a mais do que algumas anedotas que sem dúvida prendem a atenção. Levando-se em consideração a importância cultura desses longas, é frustrante ver que eles ganharam nem bem 90 minutos de historietas.

Claro que há real valor no documentário, pois Burns foi capaz de entrevistar não só Coppola, como também os produtores Peter Bart, Albert S. “Al” Rudy, essenciais para que o filme fosse possível, mas infelizmente subaproveitados aqui, além de Al Pacino, Talia Shire, James Caan, Gianni Russo e Alex Rocco, do elenco estelar, com pitacos de alguns estudiosos variados aqui e ali, além da narração de Michael Imperioli, o Christopher Moltisanti de Família Soprano. Há até entrevistas com dois ex-mafiosos e com a filha de um mafioso para tornar tudo um pouco mais pitoresco. Essa riqueza de nomes empresta vigor à fita que, com isso, ganha um ritmo rápido e constante que torna a experiência bastante palatável se aceitarmos os atalhos que o diretor tomou para condensar tanta coisa em tão pouco tempo e oportunidades perdidas de se lidar mais com os bastidores da produção e até mesmo de falar do pouco lembrado, mas muito cobiçado O Poderoso Chefão: O Épico, a costura dos dois primeiros filmes em uma saga de pouco mais de sete horas e até mesmo mais detalhes sobre a visão original de Coppola para o terceiro filme que só viria à tona em 2020 como O Poderoso Chefão – Desfecho: A Morte de Michael Corleone.

The Godfather Legacy, portanto, apesar de ser um bom esforço, é inegavelmente um esforço acanhado diante da grandeza e importância da Trilogia O Poderoso Chefão, que merecia – e ainda merece – um tratamento documental VIP no audiovisual (no lado literário, pelo menos o primeiro filme está muito bem servido). Funciona de maneira limitada para principiantes e, mesmo com a riqueza de entrevistados, frustra quem procura algo mais do que o apenas básico. Quem sabe o outro Burns, um dia, não resolve fazer seu próprio documentário sobre os filmes?

O Legado de O Poderoso Chefão (The Godfather Legacy – EUA, 2012)
Direção: Kevin Burns
Roteiro: Kevin Burns, Brian Coughlin
Com: Peter Bart, Albert S. “Al” Rudy, Al Pacino, Talia Shire, James Caan, Gianni Russo, Alex Rocco, Michael Imperioli, Todd Boyd, Robert Viscusi, Tom Guglielmo, George De Stefano
Duração: 95 min.

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