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Crítica | O Jogo dos Espíritos

Exorcizando o slasher.

por Felipe Oliveira
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Na esteira da era pós-Pânico, diferente dos filmes que tentaram emular o estilo de clichê autoconsciente do terror (como Lenda Urbana), alguns reproduziram o famigerado slasher misturando a outras categorias, o que passou a surgir o slasher sobrenatural, muito popularizado com Premonição. Sendo que em Sexta-Feira 13 o infame Jason agia como uma alegoria de punição para jovens monitores negligentes, nesta safra derivativa do horror, os adolescentes atraíam sua sentença de morte ao ativarem uma espécie de maldição. E claro, suas ações eram o de praxe: festeiros, consumidores de álcool, viciados em anfetamina e sexualmente ativos, o que excluía o símbolo da virgindade como critério de sobrevivência.

Com o tempo, o slasher sobrenatural foi caindo no gosto do público e se mostrando uma tendência, e ao passo que Premonição ia se fortalecendo, o debut directorial de Marcus Adams, O Jogo dos Espíritos, foi um dos que se tornou memorável, de alguma forma, no início dos anos 2000, principalmente nas videolocadoras. Enquanto em sua essência o slasher trazia a final girl como sobrevivente do vilão mascarado, no campo sobrenatural, vence quem desvendar todos os mistérios e encerrar o ciclo da maldição. Seria injusto dizer que a história e roteiro pensada por seis cabeças não tinha uma ideia interessante ao juntar um grupo de amigos que desperta uma entidade demoníaca ao brincarem com o “jogo do copo” ou tabuleiro ouija, porém, faltou criatividade na execução que se contentou em ser contida.

De início, a direção se concentrava em introduzir os personagens, porém sem buscar qualquer meio de também contextualizar a entrada do jogo. A sequência em si, em que os jovens conjuraram um espírito, parecia se concluir antes mesmo de Adams aproveitar o cenário e investir numa tensão para um filme surfava no auge da tendência desse subgênero de terror adolescente. A falta de inspiração do cineasta ficava mais evidente quando só depois da cena de conjuração é que o protagonista era, então, decidido na trama. Antes, o foco se direcionava para uma mulher ruiva que aos poucos foi diminuindo as falas relevantes, e sua importância era cada vez menor. E bem, esse era um aspecto que não mudava tanto para quem assumia o protagonismo, até ficar claro que simplesmente os personagens não estavam sendo desenvolvidos.

A lógica de mistério que foi aplicada por Adams era de que Djinn, a entidade demoníaca que evocaram, possuiu algum dos integrantes do grupo de amigos; e isso funcionava por um tempo já que a direção apostava numa tomada semelhante a câmera percorrendo por um espaço em A Morte do Demônio (1981), de Sam Raimi, toda vez que o espírito partia em direção a sua vítima. Um bom exemplo desse acerto, foi na sequência de cenas pelo apartamento escuro em que o personagem de Lukas Haas tentava escapar. De longe, foram um dos poucos momentos – e menos óbvio – que Adams conseguiu imprimir uma atmosfera, o que era atrelado à informação descoberta pela vítima sobre quem foi o amigo possuído.

No entanto, essa foi uma sacada que só foi melhor aproveitada no ato final do filme, fazendo parecer que a ideia só foi pensada para aquele momento. Novamente, se não fosse pela direção pouco inspirada de Adams, o mistério teria sido sustentado, mas seguindo um caminho totalmente oposto – o que ia de acordo aos moldes da época – O Jogo dos Espíritos sofria a exaustão com os constantes jumpscares. Certo que há diversos exemplos que a técnica é utilizada de maneira eficiente, e no caso da sombra passando na frente da câmera, foi desperdiçando o efeito de susto repentino para um artifício cômodo diretor, tanto que o roteiro interrompia a lógica para dar susto fáceis em sequências estúpidas entre os personagens.

Mirando estrear com grande estilo ao comandar um terror sobrenatural sobre possessão, traços de slasher e ocultismo – o que na teoria tinha todos os ingredientes para se tornar um clássico -, Adams fazia de O Jogo dos Espíritos um show repletos de excessos do gênero, esquecendo de explorar o potencial de sua premissa. Ao menos, na época dava para o público reproduzir a brincadeira sem se tornar um fenômeno viral, o que atribuiria ao filme a polêmica de influenciar os jovens a invocar demônios.

O Jogo dos Espíritos (Long Time Dead – Reino Unido – França, 2001)
Direção: Marcus Adams
Roteiro: Eitan Arusi, Chris Baker, Dan Bronzite, Andy Day (baseado em história de Marcus Adams, James Gay-Rees, Dan Bronzite)
Elenco: Joe Absolom, Alec Newman, Marsha Thomason, Tom Bell, Lara Belmont, Lukas Haas, Melanie Gutteridge, James Hillier, Mel Raido
Duração: 94 min

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