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Crítica | O Jogo do Assassino

Um jogo que não vale ser jogado.

por Ritter Fan
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Quando O Jogo do Assassino começou, apareceu, como de praxe, a classificação etária no canto superior esquerdo da TV e lá era mencionado que havia “violência extrema”, algo que duvidei imediatamente. Alguns segundos depois, quando vemos o assassino profissional Joe Flood matar um dos seguranças de sua vítima, o que jorra da ferida é, apenas, sangue digital do tipo bem vagabundo, feito às pressas, que imediatamente me tira a concentração e que, pelo visto, nos olhos dos censores, parece justificar a tal classificação que citei, enquanto que, para mim, seria o caso de indicar “comédia involuntária”. E olha que eu raramente reclamo da qualidade do CGI, mas sangue digital é, para mim, a xepa da feira, o ponto alto (ou baixo, dependendo do ponto de vista) da preguiça em uma produção audiovisual e os subsequentes jorros de bits e bytes vermelhos já me deixaram com muita má vontade para o segundo longa dirigido pelo coordenador de dublês alçado a diretor J.J. Perry, depois de Dupla Jornada.

No entanto, apesar desse prólogo e de maneira semelhante ao filme de vampiros estrelado por Jamie Foxx, o começo de O Jogo do Assassino promete bem mais do que o longa acaba entregando, com Dave Bautista revelando-se um assassino cheio de amor para dar que se apaixona pela dançarina Maize Arnaud (Sofia Boutella) e que ganha boas sequências de “amorzinho” intercaladas com “morticínio”, com direito a Ben Kingsley como Zvi Rabinowitz, o chefe e mentor de Joe Flood, que realmente gosta de seu pupilo. Mas essa tentativa de fazer do protagonista grandalhão um ser humano como qualquer um de nós, algo ajudado pelo carisma de Bautista (é só o que ele tem gente, pois, em termos dramáticos, ele e também Boutella são sofríveis, sendo que Boutella nem carisma tem), logo é deixado de lado para que a premissa real do filme apareça para atropelar tudo como um trem desgovernado. Nela, Joe é diagnosticado com uma doença neurodegenerativa fatal e incurável, o que o leva a organizar com Zvi a transferência de todo o seu dinheiro para Maize e a contratação, via Antoinette (Pom Klementieff, antes colega de Bautista em Guardiões da Galáxia, agora rival), de seu próprio assassinato. Mas, claro, uma reviravolta faz com que tudo não passe de um mal-entendido e uma bela desculpa para, à la John Wick, todos os mais espalhafatos assassinos de aluguel do mundo corram atrás da cabeça de Joe Flood, que, claro, não tem lá muita dificuldade em despachá-los.

Ou seja, o pouco que havia de diferencial em O Jogo do Assassino é trocado por tudo o que há de mais genérico em filmes de ação modernos, em que o que vale é escolher a locação que dá mais vantagens financeiras (no caso a Hungria), reunir uma meia dúzia (ou menos) de atores razoavelmente conhecidos (além dos quatro citados há Terry Crews e Scott Adkins, esse último impossível de, com cara lavada, chamar de ator) e talvez um medalhão que tenha contas a pagar ou nenhum pudor em aceitar papéis em porcarias (caso de Kingsley, obviamente), tudo debaixo de um diretor iniciante que faz o que a produtora mandar sem discutir e uma dupla de roteiristas que faz o bom e velho “copia e cola”. Perry, aliás, não se faz de rogado e não tem dúvida alguma em fazer de seu longa uma sucessão de sequências que introduzem os vilões, todos eles mais parecidos com os piores supervilões da Marvel e DC, com direito a armas espalhafatosas e, em alguns casos, completamente imbecis, que são seguidas de uma sucessão de sequências em que eles são exterminados por Joe Flood sem que o protagonista sequer saia machucado ou até mesmo deixe uma gota de suor escorrer por seu rosto. Chega a ser engraçado se não fosse tão completamente vazio e repetitivo, tudo na base de cortes rápidos, decupagem não muito preocupada com continuidade e coreografias que deixam muito a desejar.

É provável que os fãs do tal divertimento descerebrado apreciem O Jogo do Assassino e eu sou o primeiro a admitir que, em comparação com algumas pérolas tenebrosas que vêm sendo oferecidas por aí, o filme não é de todo imprestável e acaba oferecendo o básico do básico que só consegue talvez chegar a esse nível em razão da simpática interação de Bautista e Boutella e das aparições pontuais de Kingsley e talvez de Crews aqui e ali. Com doses cavalares de polimento no roteiro e na direção e, possivelmente, com menos maneirismos de câmera e um cuidado maior com o sangue de desenho animado, talvez o filme até conseguisse ser bom e esse é o máximo de elogio sincero que consigo tecer.

O Jogo do Assassino (The Killer’s Game – Espanha/EUA/Reino Unido/Hungria, 2024)
Lançamento no Brasil: 23 de janeiro de 2025
Direção: J.J. Perry
Roteiro: Rand Ravich, James Coyne (baseado em romance de Jay Bonansinga)
Elenco: Dave Bautista, Sofia Boutella, Terry Crews, Scott Adkins, Pom Klementieff, Ben Kingsley, Marko Zaror, Alex Kingston, Drew Galloway, Shaina West, Lucy Cork, Daniel Bernhardt, Lee Hoon, Dylan Moran, Raffaello Degruttola
Duração: 104 min.

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