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Crítica | O Hotel às Margens do Rio

por Bruno dos Reis Lisboa Pires
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Mal começa a história e já sabemos que O Hotel às Margens do Rio é um filme sobre a aceitação da morte. Aceitá-la não da maneira fúnebre estabelecida no cânone cinematográfico, e sim de maneira lúcida e serena, engendrando os elementos característicos de Hong Sang-soo e propondo um respiro final de um artista mirando o próprio abismo. Nunca caímos num terreno pessimista, já que a principal vontade do autor é a de encontrar em nossos piores momentos algum motivo para sorrir, mesmo que inevitavelmente tudo venha a perecer.

Hong como de costume estabelece em seu protagonista um artista em crise, dessa vez a de um poeta de idade avançada cujo isolamento em um hotel provocou a certeza da morte. Com isso, sua única possível redenção seria a de propor uma última conversa com os filhos afastados, e como suspiro final oferece a eles a verdade, um acerto de contas. A morte é trazida à tona diversas vezes, uma certeza manifestada não só pelo protagonista como pelo próprio texto, que em seu tom sombrio não esconde que esses são os instantes finais de um artista corrompido que precisa mostrar ao mundo o mínimo de humanidade. O pessimismo do pai declara a aceitação enquanto os filhos custam à enfrentar esse momento de mudança e de realizar que aquele pode ser o último instante dos três. Para isso, Sang-soo traz de volta as habituais conversas de bar, que são sempre capazes de trazer o riso ao público, por maior que sejam as tragédias. O grau etílico é de fundamental importância pois é a única maneira de trazer a verdade tão essencial para o diretor, e consequentemente balancear o tom do filme trazendo humor.

Outro importante ponto do filme é a trama paralela estreando a diva de Sang-soo, Kim Min-hee, que busca superar uma traição indo passar tempo com uma amiga no hotel. Elas estão lá mais como observadoras da situação do que agentes ativas, mas acidentalmente ganham a empatia do velho após o encherem de inspiração com suas belezas. Ao vê-las às margens do rio numa tarde nevada, o poeta enche-se de inspiração e decide enfrentar os filhos, um momento de transição no filme, que antes era voltado ao padrão evasivo tanto do pai quanto dos filhos, que se desencontravam no hotel com medo do confronto. O sentimento no ar até então era o da obrigação em resolver as desavenças do passado, mas como bom reflexo da vida pessoal de Hong dentro do filme, as mulheres sempre são ignição para ação.

O ato final é mais uma das diversas discussões de relacionamento dentro da filmografia do diretor, mas é exaustivo ao nível físico, lembrando apenas o recente Na Praia à Noite Sozinha, última obra-prima de Sang-soo. Há espaço de sobra para os eventuais instantes de amargor na briga familiar dos três, uma discussão crua só podendo vir de alguém com a certeza da morte e que precisa ouvir dos filhos aquilo que jamais tinha se tocado. Os sentimentos são os piores, é doloroso ver como o afastamento do pai que resolveu exilar-se em um hotel pouco mudou na vida dos filhos, que sentiam já a dor da distância, mas há esse outro lado da felicidade em saber que no final de tudo foi bom ouvir a verdade e saber que eles se importam contigo. Não há mais dúvidas em voga, e as cortinas vão ao chão.

O Hotel às Margens do Rio (강변 호텔) – Coreia do Sul, 2018
Direção: Hong Sang-soo
Roteiro: Hong Sang-soo
Elenco: Ki Joo-bong, Kim Min-hee, Song Seon-mi, Kwon Hae-hyo, Yu Jun-sang
Duração: 96 min.

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