Home LiteraturaConto Crítica | O Hóspede de Drácula, de Bram Stoker

Crítica | O Hóspede de Drácula, de Bram Stoker

Drácula num conto sombrio, parte integrante do clássico romance de 1897, extraída de sua versão final.

por Leonardo Campos
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Mesmo que tenha publicado mais de dez livros ao longo de sua trajetória como escritor, Drácula é o ponto alto, isto é, a obra-prima de Bram Stoker, clássico que o legou reconhecimento mundial, releituras cinematográficas, histórias em quadrinhos, séries e novelas televisivas, dentre outros recursos da era da reprodutibilidade técnica que garantira longevidade para o romance de grande impacto cultural. Até mesmo a coletânea de contos com outras temáticas que temos costumeiramente publicada por aqui traz em seu título, um destaque voltado ao famoso vampiro. É o caso de O Hóspede de Drácula e Outros Estranhos, seleção publicada recentemente pelo Grupo Novo Século numa edição luxuosa que traz um pôster e uma caixa acompanhada pelo livro de 1897, conteúdo fascinante para os interessados no tema, material que ainda se preocupa com prefácio e um livreto que analisa em detalhes a trajetória do escritor e de seu mais famoso personagem. No caso do conto que traz o nome do conde, somos informados que o texto foi publicado apenas em 1914, algum tempo após a morte de Stoker.

A sua viúva, responsável por assinar o brevíssimo prefácio da coletânea, deixa a entender que o conto é uma das partes suprimidas da versão final do romance, escrita que, por sua vez, funciona perfeitamente como história isolada, nos dando a dimensão do talento do irlandês para composição de histórias com atmosfera gótica, repleta de mistério, assombro e passagens oníricas assustadoras. Assim, após a abertura de um parágrafo de Florence Stoker, acompanhamos a jornada de um personagem que nos faz imaginar ser Jonathan Harker, uma das figuras masculinas combatentes de Drácula, mas como isso não fica afirmado declaradamente, nós passeamos pela suposição. Ele é um homem inglês que viaja para um vilarejo considerado fantasmagórico. Cético, ele ignora os avisos de todos que atravessam seu caminho numa caminhada considerada corajosa, perigosa e tensa.

Seu destino é uma localidade temida por todos os habitantes da região. Sábio, Stoker descreve as paisagens e insere elementos físicos e humanos de uma geografia gélida e sombria, apta para o desenvolvimento de uma história de horror. O personagem responsável pela carruagem que o leva ao local destinado fala uma língua pouco compreendida pelo protagonista, aumentando ainda mais a tensão por meio deste entrave linguístico. Assim, coisas estranhas acontecem. Numa redoma de granizo, nevasca, uivos e busca por um abrigo num cemitério, a figura ficcional precisa lidar com as adversidades da Noite de Walpurgis (Noite de Santa Valburga), um festejo celebrado por cristãos e não cristãos em países diversos do norte e centro europeu, momento em que fogueiras são acesas para afugentar espíritos malignos e almas penadas que vagueiam entre os vivos.

Por meio de uma escrita devidamente ritmada e com muita fluência, acompanhamos o desinteresse do cocheiro em leva-lo para o local combinado, a parada no tal abrigo nada comum e o olhar assustado do homem cético que começa a se arrepiar diante das coisas ao seu redor: tumbas com descrições misteriosas, trovões e a chegada de um lobo que o ataca. Mais adiante, resgatado da condição de quase morte, o personagem descobre que militares o resgataram e, para sua surpresa, a ajuda veio após a intervenção do próprio Conde Drácula, responsável por alertar as autoridades sobre os perigos vivenciados pelo homem que não compreende exatamente o que foi ilusão e o que foi real nesta experiência gótica surpreendente.

Muito envolvente e dinâmico, O Hóspede de Drácula é acompanhado por outras histórias igualmente interessantes. Na coletânea de nove contos, temos ainda A Casa do Juiz, história sobre um estudante que resolve ir para o interior estudar, mas descobre coisas tenebrosas sobre o local em que se instalou para evitar as distrações da cidade grande, situação que mudará a sua vida para sempre; em A Índia, o responsável pela morte de um gato é perseguido pela mãe furiosa; amor, traição e morte dominam a cena em O Segredo do Ouro Crescente; forças do além assombram A Profecia da Cigana; o transtorno na disputa de dois homens por uma mulher estabelece a tragédia em A Chegada de Abel Behenna; em O Enterro dos Ratos, Stoker traz uma demonstração aberrante de Paris; os segredos de Jacob Settle são desvendados em O Sonho Das Mãos Vermelhas; e um aborrecimento entre membros da família do Sr. Arthur Fernlee Markam causa estragos em Nas Areias de Crooken. Todos interessantes, algumas mais surpreendentes, outros mais banais: eis a escrita de Bram Stoker além de Drácula.

O Hóspede de Drácula (Dracula’s Guest/Inglaterra, 1914)
Autor: Bram Stoker
Tradução: Caio Pereira
Editora: Novo Século Editora
9 páginas

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