Muito pouco tempo após o advento do irregular Frankenstein Tem Que Ser Destruído, os executivos dos estúdios Hammer decidiram que o universo do monstro em questão precisa continuar. Não exatamente por questões criativas, mas pela rentabilidade da palavra-chave oriunda da história criada por Mary Shelley lá no século XIX, ecoante com muitas liberdades e expansões ao longo do século XX e sua cauda longa no âmbito da reprodutibilidade técnica promovida pela linguagem cinematográfica. É diante desse contexto que surge O Horror de Frankenstein, lançado em 1970, narrativa que piora ainda mais o que já não era bom anteriormente. Dessa vez, o cineasta Jimmy Sangster assume a cadeira de diretor, tendo como base, o roteiro de Anthony Hinds, um especialista na arte de delinear os monstros clássicos em historias cada vez mais mirabolantes. Chris Bannes, na direção de fotografia, tem pouco espaço para ousar, mantendo a captação de imagens para disposição dos personagens, noutro exercício de estética dominado pela burocracia, isto é, o padrão, aquele mais do mesmo da Hammer.
Conduzido ao longo de seus 95 minutos pela habitual música de James Bernard, O Horror de Frankenstein nos apresenta a seguinte estrutura dramática: o Dr. Victor Frankenstein, agora interpretado por Ralph Bates, não é apenas um cientista em busca da vida eterna, mas retratado como um anti-herói egocêntrico e manipulador. Ao invés de ser um simples criador, alucinado pela vontade de ter potencial divino, Frankenstein se torna uma representação do homem moderno que ignora as consequências de suas ações. É um elo entre o romance e a base narrativa das traduções livres ou mais exatas do clássico de Mary Shelley. O monstro, interpretado por Dave Prowse, é apresentado como uma vítima da exploração e da crueldade do seu criador, desafiando a ideia de que o verdadeiro monstro reside somente na aparência ou na sua essência, isto é, na dinâmica sobre a concepção social de grotesco. O grande problema, mais uma vez, é a repetição de uma história exaustivamente recontada, bem como o ritmo comprometedor enquanto entretenimento.
Frankenstein, em constante crise existencial, precisa lidar com a postura de seu pai, interpretado por George Belbin, um homem dominador que sufoca os anseios do jovem cientista. Logo após os estudos em medicina, realizados em Viena, o rapaz decide iniciar pesquisas envolvendo experiências com a reanimação de partes mortas de pessoas e animais. Mesmo não assegurado pela aprovação de Wilhelm Kassner (Graham James), seu assistente e colega de faculdade, ele insiste em levar seu projeto adiante, algo que culmina na criação de um monstro concebido por partes de cadáveres, mas que, por conta do cérebro danificado por um considerável corte ocasionado por vidro, se transforma numa criatura violenta e, consequentemente assassina, se posicionando como uma poderosa máquina de matar. Assim, horror e sangue dominam o castelo da família de Frankenstein, com um ser artificial que também traz pânicos nos arredores da habitação. Percebemos, aqui, como Hinds já estava esgotado em seu processo criativo.
As histórias, construídas em torno de uma base exaurida, eram recicladas filme após filme, num exercício cansativo para nós espectadores, curiosos diante da observação: até aonde os estúdios Hammer pretendiam ir com o universo de Frankenstein? Guiado pelo roteiro estabelecido por seu criador, o monstro é colocado para aniquilar todos que estabelecem obstáculos pelos caminhos do cientista. Nessa lista, temos o seu pai, a sua amante, o colega de faculdade, uma governanta do castelo, dentre outros. Sobra até mesmo para o seu fornecedor de cadáveres, o peculiar ladrão de túmulos, interpretado por Dennis Price. Após a onda de crimes, a polícia da região é despertada para os acontecimentos estranhos em torno da habitação do cientista inescrupuloso. Diante das afirmações de especialistas sobre os ecos da narrativa com o primogênito A Maldição de Frankenstein, de 1957, numa abordagem comparativa, esse que é um dos mais fracos do universo parece trabalhar em cima de uma refilmagem, tendo como elementos adicionais, cenas envolvendo maior carga de tensão sexual.
Em linhas gerais, uma sessão de cinema tediosa, com pouquíssimos bons momentos.
O Horror de Frankenstein (The Horror of Frankenstein | Reino Unido e Irlanda do Norte, 1970)
Direção: Jimmy Sangster
Roteiro: Jeremy Burnham, Jimmy Sangster (baseado no romance de Mary Shelley)
Elenco: Ralph Bates, Kate O’Mara, Veronica Carlson, Dennis Price, David Prowse, Jon Finch, Bernard Archard, Graham James, James Hayter, Joan Rice, Stephen Turner, Neil Wilson, James Cossins
Duração: 95 min.