Nesta segunda edição de Um Homem/Uma Aventura, escrita e desenhada de maneira soberba por Gino D’Antonio, estamos mais uma vez no continente africano, precisamente nos momentos anteriores e durante a Batalha de Rorke’s Drift (22 e 23 de janeiro de 1879). O roteiro explora com bastante competência o andamento da Guerra Anglo-Zulu e com a mesma rapidez destaca o protagonista da história, um contrabandista alemão chamado Reich, que até aquele momento seguia vendendo rifles aos zulus, pouco antes de iniciarem o conflito às margens do Rio Buffalo. O alemão é ordenado pelo chefe Zulu a escapar o mais rápido possível e é durante essa fuga que ele ganha ares de anti-herói “intocável”, sempre com a sorte e o azar ao seu lado, o tempo inteiro em perigo mas evitando ao máximo ser enforcado pelos europeus (bôeres e britânicos) ou transpassado por uma lança zulu.
O roteiro segue todo o trajeto de Reich em fuga, da cidade dos zulus — primeiro com carroça, depois a pé — até ser confinado na Companhia B do 24° Regimento de Infantaria onde o ápice da história acontece. A derradeira luta é muito boa, com a arte sólida, dinâmica, fantásticas representações dos zulus e uma belíssima aplicação de cores feita por D’Antonio, que nos entrega muito mais do que o calor e o horror da batalha. O único problema que atrapalha a história se encontra na passagem do primeiro ato para o segundo, onde o roteiro se dedica a construir a camada de infalibilidade para Reich, algo que parece bem estranho no começo, mas depois, mesmo com certa resistência, conseguimos nos acostumar e entender a proposta.
Durante a luta final dos europeus contra os zulus, Reich se engaja heroicamente na batalha, tendo aí a sua transformação de um contrabandista, fugitivo e provavelmente condenado à morte para um bravo guerreiro com direito a elogios dos casacos-vermelhos e um acordo final. A batalha avança noite e madrugada adentro, sempre com um grande número de mortes e interessante forma do roteiro colocar as táticas de guerra de cada um dos povos.
A campanha é quase milagrosa para os britânicos, que vencem os zulus, a primeira vitória de um povo branco sobre nativos em muito tempo. Daí para frente, em apenas alguns meses, a nação zulu seria abocanhada pelos colonos e deixaria de existir de forma independente, além de ser subtraída de sua glória militar e do temor que imprimia nos povos ao redor. Um interessante e muito bem abordado momento da História das campanhas europeias na África do Sul. Mais uma aventura de coragem, sangue, morte e conquista.
Un Uomo Un’avventura #2: L’uomo dello Zululand (Itália, dezembro de 1976)
Editora original: CEPIM (Sergio Bonelli Editore)
No Brasil: Ebal, 1978
Roteiro: Gino D’Antonio
Arte: Gino D’Antonio
60 páginas