Home FilmesCríticasCatálogos Crítica | O Grande Gatsby (1974)

Crítica | O Grande Gatsby (1974)

O clássico de Fitzgerald adaptado por Coppola.

por Vitória Thomaz
705 views

Baseado no clássico romance de F. Scott Fitzgerald, O Grande Gatsby (1974), dirigido por Jack Clayton e com roteiro de Francis Ford Coppola, é uma adaptação que busca recriar o esplendor e a decadência dos anos 1920 por meio de um olhar crítico sobre riqueza, traição, sonhos e amores impossíveis. Com um elenco liderado por Robert Redford (Gatsby) e Mia Farrow (Daisy), o filme explora a tragédia de um homem movido pela obsessão de conquistar o grande amor de sua vida.

A narrativa de O Grande Gatsby é conduzida pelo ponto de vista de Nick Carraway (Sam Waterston), um escritor aspirante que também é vizinho de Gatsby. Nick assume o papel de uma ponte entre Gatsby e Daisy, sendo o mediador de uma relação carregada de mistérios e expectativas. Inicialmente, Gatsby se revela mais como uma ideia, quase uma figura mítica: um homem rico, envolto em festas e extravagâncias, alguém que parece saber como viver a vida ao máximo. Esse véu de mistério mantém o espectador intrigado, até o momento de sua primeira aparição em cena, quando Robert Redford assume o papel e dá forma a esse enigma, tornando o personagem uma figura ainda mais fascinante e cheia de nuances.

As grandiosas festas de Gatsby são, sem dúvida, o ponto alto do filme, tanto no aspecto visual quanto narrativo. Os cenários exuberantes e as músicas vibrantes evocam a essência dos anos 1920, imergindo o espectador na opulência e no espírito da época. No entanto, por trás desse brilho superficial, a obra revela a decadência moral de uma sociedade marcada pela traição, vaidade e futilidade. Tom Buchanan (Bruce Dern), o marido de Daisy, é o epítome dessa hipocrisia, traindo abertamente sua esposa enquanto prega um falso moralismo. As festas luxuosas, com toda sua ostentação, se tornam um reflexo de uma sociedade moralmente falida, abordando um dos temas centrais do filme: a diferença entre a aparência e a realidade, e como a busca incessante por status e prazer pode corroer a essência humana.

Como uma produção da década de 1970, o filme se dedica com esmero a recriar o glamour dos anos 1920, transportando o espectador para uma era de opulência e excessos. Os figurinos, primorosamente confeccionados, se tornam uma verdadeira celebração da moda da época, com vestidos exuberantes e acessórios de cabelo que capturam de maneira impecável a essência do período. Para os apreciadores de moda, cada detalhe torna-se um deleite visual. Mia Farrow, no papel de Daisy, não brilha apenas por sua atuação excêntrica, mas também pela beleza etérea que imprime a cada cena. Sua presença é inegavelmente cativante, e sua interpretação de Daisy é marcada pela complexidade de uma mulher dividida entre o conforto do presente com Tom e a atração irresistível de um passado idealizado ao lado de um amor perdido. Farrow consegue transmitir a fragilidade e a insegurança de sua personagem com uma sutileza que realça a ambiguidade emocional que a define, tornando-a uma figura fascinante e profundamente humana.

O Grande Gatsby também foi adaptado em 2013, por Baz Luhrmann. Comparado ao filme de 2013, esta versão de 1974 opta por um tom mais contido e realista, enquanto a de Luhrmann é exagerada e estilizada. No filme de 2013, Carey Mulligan representa Daisy, com uma atuação que lembra muito a de Farrow. Ambas trouxeram um toque excêntrico à personagem, com Daisy mostrando um tom de muita futilidade e confusão a todo momento.

Apesar de sua riqueza visual, o longa de 1974 sofre com um ritmo excessivamente lento. Com 2 horas e 20 minutos de duração, a produção adota uma atmosfera quase de novelão, o que, para muitos espectadores, pode resultar em uma experiência cansativa e arrastada. No entanto, a tragédia final de Gatsby, morto injustamente enquanto aguardava o encontro de Daisy, permanece como um dos momentos mais impactantes do filme. Sua morte na piscina, a mando do marido de Myrtle Wilson, é um símbolo potente da tragédia de um homem que, ao longo de toda a obra, luta incansavelmente por um amor que nunca se concretiza, representando a frustração e a futilidade de seus sonhos.

O Grande Gatsby (1974) possui momentos de grande brilho, mas, em termos gerais, é prejudicado por um ritmo arrastado que pode testar a paciência do espectador. A obra oferece reflexões profundas sobre as falhas humanas, revelando a complexidade de um mundo marcado pela decadência e pelo vazio. Embora o filme se arraste em certos momentos, ele sem dúvida deixa o público com um desejo irresistível de imergir naquele universo de luxo e excessos, participando das grandiosas festas de Gatsby. Uma experiência que, ao mesmo tempo, mistura deslumbramento e melancolia, refletindo a vida de seu protagonista, constantemente dilacerado entre a busca pelo impossível e a tragédia que o aguarda.

O Grande Gatsby (The Great Gatsby – EUA, 1974)
Direção: Jack Clayton
Roteiro: Francis Ford Coppola
Elenco: Robert Redford, Mia Farrow, Bruce Dern, Sam Waterston, Karen Black, Scott Wilson, Lois Chiles, Howard Da Silva, Roberts Blossom, Edward Herrmann, Elliott Sullivan, Arthur Hughes, Kathryn Leigh Scott, Beth Porter, Paul Tamarin, John Devlin
Duração: 143 min.

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais