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Crítica | O Grande Fosso (Asterix)

por Ritter Fan
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René Goscinny co-criador de Asterix e dos demais irredutíveis gauleses, infelizmente faleceu em 05 de novembro de 1977, com apenas 51 anos de idade, em razão de um ataque cardíaco durante um teste de esforço no consultório de seu médico. Asterix entre os Belgas, que ele já havia escrito quase que completamente, foi publicado postumamente em 1979 e, partir desse ponto, Albert Uderzo, o desenhista da dupla, recusando-se a escolher um terceiro, passou a também assumir os roteiros. Diferentemente, porém, Uderzo passou a trabalhar em um passo bem mais lento, com apenas quatro álbuns canônicos lançados na década de 80, o primeiro deles sendo O Grande Fosso, sua estreia no roteiro.

Para conseguir minimamente apreciar o 25º álbum da série, é importante primeiro não esperar algo que seja sequer próximo da costumeira qualidade de Goscinny que, mesmo em seus (raros) piores trabalhos sobre Asterix, criou obras sólidas e muito divertidas. Além disso, temos que lembrar também que Uderzo era marinheiro de primeira viagem em roteiros. O Grande Fosso é, portanto, seu primeiro grande teste. E, mesmo com boa vontade, mesmo levando em conta os aspectos que abordei, é inegável que ele falha.

A história do álbum é uma versão política de Romeu e Julieta, com uma aldeia gaulesa dividida ao meio por um fosso, com cada um dos lados comandado por um chefe diferente: Enroladix no lado esquerdo e Segregacionix no lado direito. Seus filhos, Comix e Fanzina são apaixonados, mas são mantidos separados em razão da divisão da aldeia que é alimentada também pelos esquemas traiçoeiros de Acidenitrix, que fica como aquele diabinho no ombro de Segregacionix, em uma relação que parece ser inspirada na de Gríma com Théoden, rei de Rohan, em O Senhor dos Anéis. É, aliás, Acidenitrix que sugere envolver os romanos nessa disputa local, o que leva Enroladix a enviar seu filho para pedir ajuda a Abracurcix, já que eles lutaram juntos na batalha de Gergóvia. E, com isso, Panoramix, Asterix e Obelix partem para a aldeia separada e começam a lidar com o problema da maneira usual.

O problema principal da história é que ela é rasa, simplória e vazia das belíssimas e variadas referências a eventos históricos (de várias épocas) que recheavam os textos de Goscinny. Sei que eu comecei dizendo que não devemos esperar a mesma coisa do trabalho do roteirista original, mas é que Uderzo sequer consegue imprimir seu próprio estilo, sequer consegue estabelecer um ritmo suave que mantenha o interesse do leitor ao longo das normalmente breves 48 páginas, mas que, aqui, parecem bem mais. Uderzo não consegue contar uma história só e a narrativa vai e volta com uma certa frequência sem trazer nada que crie uma efetiva ponte.

E, pior ainda, a arte de Uderzo, justamente seu forte, é pouquíssimo inspirada. Não só os dois jovens apaixonados são cópias quase que completamente idênticas de Tragicomix e Falbalá de Asterix Legionário, como os demais personagens são pouquíssimos inspirados. Há bons momentos, claro, quando ele faz sua própria versão da “cena da sacada” de Romeu e Julieta, mas não muito mais do que isso. Era a perfeita oportunidade para que o artista fizesse algo fora do comum para que pelo menos um dos sustentáculos do álbum chamasse a atenção positivamente, mas acontece justamente o contrário e tudo é muito banal e repetitivo, quase como se seu tempo para escrever o roteiro tivesse gerado um bloqueio criativo no lado da arte, o que é realmente possível, mas que não posso levar em consideração para uma crítica.

O Grande Fosso, porém, apesar de ser o pior álbum canônico até o momento da série, não é o fim do mundo. Uderzo tentou e até que conseguiu colocar nas páginas uma historinha básica, mas não terrível. No entanto, ao não se esforçar em sua própria especialidade, ele acaba retirando o que de especial a obra poderia ter.

O Grande Fosso (Le Grand Fossé, França – 1980)
Roteiro: Albert Uderzo (baseado em criação de René Goscinny e Albert Uderzo)
Arte: Albert Uderzo
Editora original: Dargaud
Editora no Brasil: Editora Record
Páginas: 48

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