No presente compilado trago cinco histórias de diferentes personagens da Turminha, em diferentes revistas, com diferentes datas. A trama mais antiga aqui analisada é de 1974 e a mais recente é de 1997. Duas histórias bem marcantes estão presentes nesse quinteto (a do pintinho que mia e a das balas bilula), e há também a primeiríssima aventura em que a Legião dos Leitões Alados aparecem! Você já leu essas histórias? Qual é a sua favorita? Qual a que menos gostou? Deixe o seu comentário ao final da postagem!
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Miau?
Cebolinha #18 — (Editora Abril, junho de 1974). Quem nunca se deparou com a história do pintinho Felício que mia, em vez de piar, não sabe o que está perdendo. Um misto de inocência infantil, teimosia e imprevisibilidade do roteiro tornam essa aventura muito gostosa de acompanhar, começando com o Cebolinha pedindo para a mãe adiantar a mesada para comprar um pintinho e desenvolvendo-se com ele e o Cascão tentando educar o bicho, fazendo-o piar a todo custo. O longo processo de educação do pintinho é hilário, e como não existe uma explicação lógica para a miadeira do animal, a coisa fica ainda mais engraçada (nesse aspecto, ao menos para leitores adultos, embora eu acredite que crianças também se divertirão muito com essa premissa). As tentativas frustradas para ensinar o idioma correto ao pintinho e a maneira seca com que o roteirista termina a história, mostram uma abordagem sacana do autor, como se estivesse tentando irritar o Cebolinha com essa compra que acabou se tornando um grande problema. Fiquei até surpreso que não tenha tido um coadjuvante aqui para alguma trapalhada envolvendo o pintinho que mia, ou uma explosão de raiva por parte do troca-letras.
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O Grande Concurso das Balas Bilula
Cebolinha #29 — (Editora Globo, maio de 1989). “O gato mia, o cachorro late, o macaco pula! Vivam as balas bilula!“. É com essa frase que temos a piada central do concurso de balas que o Cebolinha e o Cascão participam, ansiosos para ganhar uma bicicleta (e, por tabela, centenas e centenas de balas). Esta é uma aventura bastante conhecida e muito engraçada, porque joga com a impossibilidade de uma frase considerada absurda, criada pelo Cascão, acabar vencendo o disputadíssimo concurso. E o problema nisso tudo é que a dupla dinâmica sugere a frase para a Mônica, que envia a frase pelos Correios e se sagra a grande vencedora. Gosto bastante do início da trama, quando o Cebolinha começa a avaliar as frases criadas pelo amigo e descarta cada uma delas com bastante indignação. Também vale citar o “Lixeiro Prateado”, super-herói que o Cascão cria enquanto a inspiração para novas frases não vem. Existem diversos pontos cômicos espalhados por esse roteiro, que brinca com o conceito de que às vezes, uma má ideia… não é uma ideia tão ruim assim! Há também uma breve participação da Magali, meio chorosa, que lamenta só ter tido tempo de chupar 100 pacotes de balas. Imagina os dentes e o sangue dessa menina — aliás, por conta dessas questões, uma história assim não seria publicada nos anos 2020 sem adendos dentro do enredo sobre os impactos na saúde ligados ao excesso de doces, não é mesmo?
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Povo Sem Memória Também Tem História
Cebolinha #29 — (Editora Globo, maio de 1989). Há um pensamento muito famoso da historiadora Emília Viotti da Costa (1928 – 2017), que fala diretamente sobre a relação entre História, memória e a capacidade de ação de um grupo de pessoas em sociedade: “Um povo sem memória é um povo sem história. E um povo sem história está fadado a cometer, no presente e no futuro, os mesmos erros do passado“. O roteirista desta aventura do Astronauta pegou carona nesse pensamento e expandiu a possibilidade de interpretação para ele, colocando o protagonista num planeta com um povo que não se lembrava de nada, mas que claramente tinha uma História, tinha um passado. Toda essa vivência planetária anterior, porém, foi retirada dos habitantes do planeta pela ânsia de poder de um Primeiro-Ministro. É uma história curta, mas capaz de trazer uma excelente reflexão sobre as armas que a memória histórica fornece para uma população e o que é capaz de fazer com elas. Que tipos de lutas sociais podem ser iniciadas? Que direitos podem ser cobrados? Tudo isso é discutido aqui, e a trama ainda termina com uma boa piscadela sobre o roteirista ter esquecido a piada final. No fim, o esquecimento sempre vem, não é mesmo? Daí a necessidade de ter sempre algo para nos lembrar, principalmente das ações políticas que interferem em nossas vidas diariamente.
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Quase Irmãs
Mônica #115 — (Editora Globo, julho de 1996). Quem tem irmãos ou irmãs, sejam mais velhos ou mais novos, sabe o tanto de luta que existe nesse tipo de relação, mesmo que tudo termine em amor e compartilhamento. Essa historinha de 1996 procura brincar com o lado mais briguento das relações fraternas, começando com Denise e sua irmã Soninha brigando por causa de uns lápis de cor, o que deixa Magali e Mônica cogitado que, se elas fossem irmãs, nunca iriam brigar. E para fazer um teste, as meninas combinam que vão ser “irmãs para sempre” e combinam de uma ir dormir na casa da outra, após essa fixação de compromisso. É claro que na primeira noite de convivência após o pacto, as coisas começam a azedar. Mônica acaba sendo provada de algumas coisas em sua rotina, para dar lugar aos gosto da Magali, e essa inicial jogada de dar o braço a torcer acumula irritabilidade e traz a briga para o centro da relação. No geral, o enredo é interessante e a proposta tem muita coisa para oferecer, mas eu não gostei da forma como o roteirista desenvolveu e guiou a trama para o seu desfecho.
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Espírito de Porco
Cascão #275 — (Editora Globo, julho de 1997). Cascão está triste, no começo dessa história de Emerson B. Abreu, porque não pode levar o Chovinista com ele para uma viagem. Quem fica responsável pelo porquinho é o Cebolinha, que até ganha um pirulito do amigo como forma de agradecimento. Logo, porém, o troca-letras vai se mostrar um péssimo cuidador, e o Chovinista irá escapar e se perder pelas ruas, até encontrar-se com o seu leitãozinho Anjo da Guarda. E é nesse ponto que a aventura realmente começa. Aqui temos a primeiríssima aparição da LELEALA (Legião dos Leitões Alados), um grupo de porquinhos angelicais que vivem no Paraíso e são responsáveis por proteger qualquer suíno que esteja em perigo. A parte inicial da narrativa, com a introdução do primeiro porquinho angelical e o drama da viagem, acaba tomando tempo daquilo que realmente importa, e o leitor sente a necessidade de uma maior amplitude para o que vem depois, o mistério envolvendo os porquinhos alados. Como é algo novo e meio absurdo a se considerar, a LELEALA acaba fazendo com que a gente nem se importe mais com o dilema do Cascão e do Chovinista (bem… na verdade, dá uma dozinha dos dois), mas infelizmente o roteiro não dá informações profundas a respeito do grupo. Pelo menos não nessa história, mas a LELEALA voltaria outras vezes, em diferentes aventuras, com os personagens da Turminha no futuro.