Como abordado em outras análises sobre o império do personagem fincado na cultura por Bram Stoker lá em 1897, na ocasião de publicação do romance Drácula, os anos 1970 demarcaram uma extensa presença para o vampiro deste vampiro definidor da mitologia sobre as criaturas da noite, sugadores do sangue alheio, amaldiçoados pela eternidade. Depois do longevo primeiro ciclo de monstros da Universal, ele esteve em um amontoado de produções mais independentes, em filmes luxuosos de grandes orçamentos, atravessou o multicolorido universo de empreendimentos da Hammer, além de ser presença garantida em narrativas desenvolvidas em ambientes culturais diversos do esquema estadunidense e britânico. É o caso deste O Grande Amor do Conde Drácula, uma mixagem de tipos narrativos que traz em seu título, possíveis associações mais próximas do romance e do drama, o que de fato está instalado no roteiro de Alberto S. Insuá, Javier Aguirre e Paul Naschy, entretanto, é vendido como filme de terror, afinal, abordar o conde mais temido da literatura requer algumas doses de arrepios e sangue.
Aguirre, também na posição de diretor, nos entrega, ao longo dos 85 minutos de trama, uma narrativa intensamente colorida, muito parecida com os filmes do estúdio britânico que eternizaram Christopher Lee como o vampiro da noite. Produzido num contexto de repressão social na Espanha, algo que pode ser contemplado em seu subtexto fílmico, O Grande Amor do Conde Drácula traz Paul Naschy, intérprete de outros monstros clássicos, como a figura centralizadora do horror. Como a maioria das histórias deste segmento, temos em sua abertura uma série de planos gerais de uma região montanhosa. É nesta geografia longínqua que os personagens serão inseridos em momentos de tensão e medo, afrontados pelo desconhecido. Numa carruagem, podemos observar quatro mulheres e um homem que buscam ajuda durante uma viagem, indo parar direto num local bastante peculiar: um sanatório.
Conectado com o histórico do vampiro, isto é, a linhagem com Vlad, O Empalador, o roteiro nos leva a acompanhar a estadia destes personagens, figuras que recebem tratamento de luxo, pobres coitados que sequer imaginam ser o Dr. Wendell Marlow (Paul Naschy), um vampiro interessado em se nutrir de suas energias. Apesar das desconfianças, afinal, o local parece muito sombrio e assustador para as mulheres do grupo, todos entram no clima e começam a se sentir confortáveis com a hospedagem. Karen (Hayden Politoff), a única virgem do grupo, é uma das que percebe que há algo de muito estranho. Não só com o espaço, contemplado assertivamente pela direção de fotografia de Raul Perez Cubero, mas pelo sumiço diário do conde, homem que só reaparece durante o período noturno. Após encontrar o diário de Van Helsing e descobrir as reais intenções do homem que os hospedam, um surto vai se estabelecer, com todos em luta constante por suas respectivas sobrevivências.
Aqui, temos Drácula como um amaldiçoado pela vida eterna, situação que culmina em sua solidão constante. Ele precisa de romance, sentir a vibração do amor, para que assim, possa trazer mais significados para a sua existência lúgubre. Apesar de não ser uma tradução cinematográfica do livro de Stoker que alcance algo próximo da “perfeição”, O Grande Amor do Conde Drácula tem muitos valores para se posicionar como uma boa adaptação. O clima de horror é menos intenso que aquilo encontrado noutras versões, mas há sangue suficiente para classificarmos a narrativa como um terror, de nível mais leve que os demais. Com design de produção assinado por Jose Luiz Galiza, o filme tem visual caprichado, uma trilha sonora comum, mas envolvente, composta por Carmelo A. Bernaola, tendo o seu desenvolvimento, segundo relato de outras análises, sido a base para Francis Ford Coppola direcionar o eloquente Drácula de Bram Stoker, lançado em 1992, considerado um dos grandes filmes sobre o personagem.
O Grande Amor do Conde Drácula (El Gran Amor Del Conde Dracula, Espanha – 1973)
Direção: Javier Aguirre
Roteiro: Javier Aguirre, Paul Naschy, Alberto S. Insuá
Elenco: Paul Naschy, Mirta Miller, Haydee Politoff, Rossana Yanni, Victor Barrera, Alvaro De Luna, José Manuel Martin
Duração: 85 min.