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Crítica | O Gabinete de Curiosidades de Guillermo Del Toro – 1ª Temporada

O terror da ganância.

por Kevin Rick
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Avaliação geral
(não é uma média)

  • Há spoilers.

Pensando em redefinir e desafiar a convencionalidade nas histórias de terror que conhecemos, a nova criação da mente fabulosa de Guillermo Del Toro, O Gabinete de Curiosidades, parte de um simples questionamento: o que há de assustador longe do lugar comum? Lançada em formato de antologia e composto de oito episódios, cada capítulo traz um olhar peculiar, explorando as bizarrices e o que há mais de terrível e macabro em nossos comportamentos, ou, que monstros podemos encontrar em meio as fragilidades?

Com o horror ganhando cada vez mais espaço nas telonas e nas telinhas, se tornando o único gênero que parece respirar frente à febre de super-heróis, uma antologia de terror com produção de um diretor de primeira linha na veia de Alfred Hitchcock Presents é uma ideia fantástica. E Del Toro é a personalidade certa para suceder Hitchcock, com seu estilo carismático e convidativo, mas misterioso e elusivo. Também é bacana como sua personalidade cinematográfica é vista nos episódios, mesmo que ele não os tenha dirigido, com muito foco na estética e na construção de atmosferas fantasiosas.

Dito isso, vamos às críticas por episódio, divididas entre mim, dos episódios 5 ao 8, e meu colega Felipe Oliveira, que escreveu dos episódios 1 ao 4, ranqueados do “pior” ao melhor. Digam o que acharam da temporada e deixem seus rankings!

8º Lugar:
Sonhos na Casa da Bruxa
(Dreams in the Witch House)

Em Sonhos na Casa das Bruxas, episódio dirigido por Catherine Hardwicke, acompanhamos a trajetória de Walter Gilman (Rupert Grint), um homem dos anos 1930 que procura resgatar sua irmã gêmea Epperley, anos depois que ela morreu e teve seu espírito arrastado para uma floresta. O roteiro fica por conta de Mika Watkins, que adapta o conto original homônimo de ninguém menos que o mestre H.P. Lovecraft.

É complicado adaptar as histórias de Lovecraft para o audiovisual, uma vez que o escritor tinha uma habilidade especial com imaginário e na criação de atmosferas com seus leitores, sem falar em seus temas cínicos e pessimistas em relação à humanidade que às vezes aterrorizam mais do que suas criaturas. Felizmente, estamos falando de um seriado com a mão de Guillermo Del Toro, um cara que sempre prezou design de produção e efeitos práticos/especiais como elementos essenciais para compor seus universos cinematográficos. Podemos ver sua influência estética e o cuidado com cenografias, figurinos e direção de arte geral em todos os episódios, incluindo Sonhos na Casa das Bruxas.

Os cenários do episódio até podem parecer “sujos” demais, mas é um contexto visual muito bacana para o período e para a sensação geral de imoralidade da história. Também é de se elogiar o design da bruxa, mesmo que simples, e a criação de um rato falante inesquecivelmente horripilante e asqueroso. A única parte estética do episódio que me decepciona é a floresta dos mortos, que acaba sendo bastante genérica e inexpressiva.

Essa opinião sobre a floresta acaba sendo o problema que vejo em outros aspectos do episódio, principalmente a direção e o caminho da adaptação, executados de maneiras meio medíocres. Watkins não consegue capturar a essência do material de origem, como os elementos cósmicos ou a qualidade mitológica de Lovecraft, desenhando uma narrativa comum de histórias de fantasmas e seus dramas cotidianos sobre a dificuldade de luto e a punição de cutucar o além-vida (conceito que Lovecraft também não gostava). Hardwicke segue a mesma direção, numa dieta ordinária de espaços assombrados sem muita personalidade. Ainda há o bastante para entreter, porém, mas nada memorável ou minimamente tenso, bem aquém do material lovecraftiano.

Sonhos na Casa da Bruxa (Dreams in the Witch House) – EUA, 2022
Direção:
Catherine Hardwicke
Roteiro:
Mika Watkins (baseado no conto de H. P. Lovecraft)
Elenco:
Rupert Grint, Ismael Cruz Cordova, DJ Qualls, Nia Vardalos, Tenika Davis, Daphne Hoskins, Lize Johnston
Duração:
61 min.

7º Lugar:
Por Fora
(The Outside)

O que importa é que o vem de dentro, certo? Ao menos é o que parece mais justo quando falamos de preservar as melhores as coisas, uma vez que externamente é tudo sobre aparências. Fazendo uma crítica clara à cultura do padrão de beleza feminino, The Outside também fala sobre toxicidade entre mulheres, sobre influência e autoestima. Comandado por Ana Lily Amirpour, um nome que vem se destacando no cargo, diria que a direção é um dos pontos mais interessantes aqui, ao buscar por demonstrações criativas para uma trama óbvia e narrativamente cansativa.

Para ilustrar a forma que a protagonista Stacey (Kate Micucci) se sente excluída e inferior às colegas de trabalho, temos o uso de lentes em 360º (a exemplo da cena do amigo secreto, o que permite visualizarmos Stacey numa perspectiva distante, o que sintetiza não só a ideia de ser ignorada, mas também como sua personalidade é completamente oposta à realidade esnobe e fútil daquelas mulheres. Em outros momentos, pode-se perceber a construção de planos que mostram Stacey como mera observadora dos gestos e comportamento das supostas amigas, e ouvinte das conversas mesquinhas e agressivas. A filmagem em 360º volta a ser utilizada quando a protagonista sofre uma transformação, o que temos então uma mudança de perspectiva com Stacey sendo vista como numa vitrine e rodeada por pessoas que contemplam a notória remodelagem.

Escrito por Haley Z. Boston, boa parte do episódio se concentra em apresentar como acontece essa mudança radical em Stacey, uma mulher insegura e que tem toda sua autoestima afetada pelo bullying e excesso de negatividade em relação a estética. O curioso é que The Outside não é tão previsível em traçar uma crítica a indústria de cosméticos e processos estéticos, mas incrementa a temática ao falar de como isso influencia a um estilo de vida obsessivo e infeliz. Uma boa exemplificação é na irônica cena em que as colegas de Stacey aplicam o creme “milagroso” do Alo Glo como se isso conduzisse a um imenso prazer, o que faz uma clara alusão às prometidas sensações e modificações que um produto pode oferecer.

Em alegoria, o trabalho de taxidermia de Stacey entra não só em representação a busca pela aparência perfeita promovida pelas indústria, mas também ao que a protagonista se transforma: para alcançar a beleza “ideal”, vale tudo, até perder sua personalidade. A fala da propaganda de TV de que Stacey “deixaria de ser um patinho feio para se tornar um lindo cisne” surge em alusão a quando ela mata um pato, tira seus órgãos, substitui o que parecia vivo (dentro se tem um isopor), põe olhos de vidro e o deixa em perfeito estado para ornamentação. E também, é no que resume sua metamorfose: por fora, uma vitrine sublime e realizada a ser observada, por dentro, o vazio pela busca de ser impecável.

Mesmo se estendendo com a narrativa, Por Fora se mostra assertivo pela forma criativa em que traçou representações e críticas a ilusória busca pela perfeição.

Por Fora (The Outside – EUA, 2022)
Direção:
Ana Lily Amirpour
Roteiro:
Haley Z. Boston (baseado no conto de Emily Carroll)
Elenco:
Kate Micucci, Martin Starr, Dan Stevens, Kylee Evans, Sabryn Rock , Diana Bentley, Shauna MacDonald, Julia Juhas, Lize Johnston
Duração:
64 min.

6º Lugar:
A Inspeção
(The Viewing)

A Inspeção é um episódio que me decepcionou demais. O começo é tão intrigante, te promete tanta coisa, te faz ficar curioso e instigado pela história, os personagens e o item misterioso que um bilionário recluso quer apresentar para um grupo excêntrico e diverso de pessoas. Mas o final é qualquer coisa, uma conclusão anticlimática e com muito gore que não faz jus a construção enigmática do primeiro ato.

É uma pena viu, porque o trabalho de Panos Cosmatos por trás das câmeras continua fazendo dele um nome a ser seguido no gênero de horror, desde seu distinto Mandy. Podemos ver características de seus trabalhos anteriores aqui, como as encenações hipnóticas e psicodélicas, focando em trocas estranhas de conversações dos personagens e diálogos com sutilezas bizarras, tudo acompanhado por uma rica partitura de sintetizador e uma fotografia cheia de filtros e luzes amarelas que criam essa sensação de surrealismo e absurdismo de uma história movida a drogas.

Há uma queima lenta narrativa que me lembra Argento, e um trabalho com esquisitice que parece resgatar Twin Peaks. É bizarro, mas te faz indagar. Você quer saber a história da AK-47 de ouro, do porquê Hector está chorando e de como esse ricaço excêntrico “coleta” diferentes talentos. Mas não ganhamos nenhuma recompensa, com o ato final se tornando um filme de monstro arbitrário. Não é nem que eu queria “respostas”, algo bobo para surrealismo, mas a cena com o item misterioso me soou gratuita e incompleta, sem muito nexo com o que vimos anteriormente. Tudo ainda é muito visceral para continuar entretendo, porém, dando dimensão ao perigo da curiosidade.

A Inspeção (The Viewing), EUA, 2022
Direção: Panos Cosmatos
Roteiro: Panos Cosmatos, Aaron Stewart-Ahn
Elenco: Peter Weller, Steve Agee, Eric André, Sofia Boutella, Charlyne Yi, Michael Therriault, Saad Siddiqui
Duração: 56 min.

5º Lugar:
Ratos de Cemitério
(Graveyard Rats)

Fechando o ciclo inicial, é notório que os dois primeiros episódios de O Gabinete de Curiosidades de Guillermo Del Toro compartilha dos mesmos temas: ganância. Se para Nick a ideia de explorar os itens mais valiosos em depósitos o levou para a própria condenação, para o persistente e manipulador Masson (David Hewlett), o coveiro, a ganância o levou para o próprio inferno. Enquanto o pano de fundo em Lote 36 se passava após a Segunda Guerra Mundial, Graveyard Rats nos transporta para Salem, depois do polêmico julgamento das bruxas.

Trazendo a direção de Vincenzo Natali, do categórico O Cubo, é interessante como o roteiro costura sua síntese por meio da lógica da lição de moral, e os desdobramentos, funcionam como uma profecia que não poderia ser evitada. Um exemplo disso, é como a trama desenha os paralelos que mais tarde irão se relacionar com a trajetória de Masson, seja por meio de diálogos ou durante os episódios de paranóia. O que bem, este último, é consequência das dívidas que ele adquiriu ao perder apostas em jogos de cartas. A forma arranjada por ele para quitar, é retirando os pertences de valor de defuntos.

O que temos aqui é uma dinâmica que o tempo todo contrapõe as ações de Masson; sujeito malandro, que tenta sobressair nas situações através do papo argiloso e intimidador. E trazer os elementos de fé oferece para a observação da relação profana que Masson transita: viola o lugar de descanso dos mortos e só pede por intervenção divina quando se sente encurralado, prometendo servir todos os dias ao Senhor. Assim, tudo o que ele trata é como se fosse moeda de troca, uma forma de barganhar.

Embora Graveyard Rats seja um episódio que dedica mais tempo de tensão além de pistas e sugestões, termina apresentando uma narrativa afetada e menos empolgante. Ainda assim, o que se destaca é a abordagem claustrofóbica que representa Masson encontrando o próprio inferno em meio a busca por ambição — a cena em que ele se vê entre um rato gigante e o defunto de uma bruxa, é um eficiente exemplo que resume seu dilema moral —, mais uma vez sendo personificado com a ideia de um labirinto, mas que agora se estende por passagens verticais e horizontais, invertendo a concepção de chegar ao abismo. Longo e árduo é o caminho que conduz o inferno à luz.

Ratos de Cemitério (Graveyard Rats – EUA, 2022)
Direção:
Vincenzo Natali
Roteiro:
Guillermo Del Toro (baseado num conto de Henry Kuttner)
Elenco:
David Hewlett, Alexander Eling, Ish Morris, Julian Richings, Nabeel El Khafif
Duração:
39 min.

4º Lugar:
O Murmúrio
(The Murmuring)

Dirigido por Jennifer Kent, de O Babadook, o último episódio da série antológica não é uma daquelas histórias de terror que são apavorantes ou tensas. Somos apresentados a um casal (interpretados por Essie Davis e Andrew Lincoln) que compartilha o amor por ornitologia, mais especificamente pela ave pilrito e seus belos voos em grupo. No entanto, para além dessa paixão profissional, o casal também compartilha a dor de uma tragédia impossível: perder um filho.

Nesse sentido, temos outro episódio focado em luto, como ocorreu em Sonhos na Casa das Bruxas. Vejo problemas similares entre os dois episódios, uma vez que O Murmúrio também se mostra fraco como exercício de gênero de horror, considerando seus jumpscares batidos e direção comum para qualquer história genérica de casa assombradas. As cenas com os fantasmas e os barulhos ao fundo são simples ao ponto de serem bobos. Gosto, porém, da estética gótica e das belíssimas tomadas amplas dos personagens vislumbrando o grupo dos pássaros, sempre com um tato melancólico por parte de Kent.

Isso acontece porque a cineasta/roteirista Kent está mais interessada em emoção. Temos uma reflexão perturbadora sobre luto e maternidade, principalmente com o conceito por trás das assombrações, e muito momentos tristes sobre um casamento quebrado, pais perdidos e uma impressão geral de tristeza vaga. Kent é muito sensível, assim como Davis e Lincoln extraem o máximo de substância da curta minutagem da história. A cena da mãe sendo coberta pela dança dos pássaros, em uma metáfora/simbologia de liberdade e expurgação, está entre uma das sequências mais bonitas e desoladoras que assisti esse ano.

O Murmúrio (The Murmuring), EUA, 2022
Direção: Jennifer Kent
Roteiro: Jennifer Kent (baseado em história de Guillermo Del Toro)
Elenco: Essie Davis, Andrew Lincoln
Duração: 10 min.

3º Lugar:
Lote 36
(Lot 36)

Em sua introdução para o episódio, Guillermo Del Toro descreve um depósito como “um velho lugar onde se mantém o passado vivo. Coisas que nos lembram das nossas ações, do nosso lado sombrio ou pecados”. Se atendo aqui a ideia de “ações e pecados do passado”, é como ironicamente o roteiro de Regina Corrado e Del Toro conecta o questionável protagonista Nick (Tim Blake Nelson) ao solitário idoso (James Neely) em sua monótona rotina de fazer uma refeição e em seguida cortar pedaços de animais. Aliás, com a morte do “homem velho” é como Lot 36 nos diz sutilmente que o quer que ele fizesse antes disso, será da conta de Nick, supremacista, veterano de guerra dos EUA e que adquire as chaves do chamado lote durante um leilão.

Todo detalhe aqui é importante, e não é atoa que o discurso de George W. Bush que o homem velho acompanhava na TV, serve para ele e Nick, inclusive, quando recita a frase de Thomas Paine: “Estes são os tempos que se testam as almas dos homens“. E para Nick, um homem misógino, racista e intolerante, nada fica no seu caminho para quitar as dívidas, agora que já serviu ao seu país, por isso, ele vive comprando lotes a fim de revender os itens armazenados.

Para o início de uma antologia, Lot 36 mostra a que veio ao entregar um desfecho horripilante que poderia ser evitado, ou não, afinal, essa não é uma história de redenção e sim como o carma pode voltar das piores maneiras. Apesar da forma espessa com a qual a narrativa acontece, há um esquema funcional que capta rapidamente a atenção e apresenta os personagens e informações satisfatoriamente. Muito desse acerto se concentra em como Nick é apresentado e a série de desconfortos que ele causa no caminho.

Em paralelo a isso, fica a espreita até onde sua hostilidade acabará o levando a trilha composta por Tim Davis é excepcional em reforçar a presença de algo sobrenatural quando Nick entra em contato com itens do lote, além da cinematografia de Jeremy Benning que brinca com a percepção do ambiente. Com uma sagaz alegoria e um jogo claustrofóbico, o final de Lot 36 representa um abismo, uma prisão (atenuado com a corrida entre corredores, as luzes se apagando) que Nick não viu chegar durante todo o dia que foi intolerante, xenofóbico e agressivo. Poderia esta alma ser salva?

Lote 36 (Lot 36 – EUA, 2022)
Direção:
Guillermo Navarro
Roteiro:
Regina Corrado, Guillermo Del Toro (baseado em um conto original)
Elenco:
Tim Blake Nelson, Elpidia Carrillo, Sebastian Roché, Demetrius Grosse, Martha Burns, Lize Johnston
Duração:
42 min.

2º Lugar:
Modelo de Pickman
(Pickman’s Model)

Baseado na história homônima de Lovecraft, Modelo de Pickman é uma das adaptações lovecraftianas que melhor captura a essência do trabalho do autor e seus temas. O episódio segue Thurber (Ben Barnes), um estudante de arte genial que acaba conhecendo Richard Upton Pickman (Crispin Glover), outro artista incrível, mas cujas obras parecem horríveis criaturas e eventos de pesadelos.

É interessante os paralelos que a narrativa faz com a arte. No período diegético da história, a maioria do mundo da arte focava no realismo da década de 1920, em modelos humanos e locais. Portanto, as pinturas macabras de Pickman são obras de fantasia sombria que transformam o imaginário de quem as vê, mesmo que com repulsa. Para Thurber, elas são particularmente perturbadoras, uma vez que parecem se mexer e ganhar vida, com belíssima direção artística da equipe criativa e uma condução gradualmente apreensiva do diretor Keith Thomas.

É por isso que a reviravolta de Lovecraft é tão fantástica: Pickman estava pintando a realidade, assim como seus artistas contemporâneos, porque ele tinha contato com verdadeiros monstros. É uma metáfora tão perturbadora e cínica sobre a humanidade, contada dentro de um molde narrativo do homem se tornando insano. É interessante como o episódio é diferente do temas morais, de ganância e autodestruição de outros episódios do seriado, já que Thurber está apenas dentro de um espiral de loucura que só vai crescendo e crescendo até chegar num ato final aterrorizante.

Modelo de Pickman (Pickman’s Model), EUA, 2022
Direção: Keith Thomas
Roteiro: Lee Patterson (baseado em conto de H. P. Lovecraft)
Elenco: Ben Barnes, Crispin Glover
Duração: 61 min.

1º Lugar:
A Autópsia
(The Autopsy)

Deixando de lado o escopo com linhas morais, o terceiro episódio da antologia de Del Toro traz uma história relativamente simples, mas que se destaca pela narrativa cativante, lenta e inquietante. Apesar de somar em sua filmografia alguns projetos documentais, o que David Prior imprime em The Autopsy se mostra interessante ao utilizar de acenos óbvios ao O Exorcista além da atmosfera que lembra o estranhismo de Twin Peaks em trabalhar com tramas investigativas.

Essa combinação referencial também diz muito sobre o modo que o episódio brinca em como o mistério dos desaparecimentos e corpos encontrados sem sangue diante da chegada do excêntrico legista Dr. Carl Winters (F. Murray Abraham): um conceito sobrenatural ou um complexo mistério que foge da resolução humana? 

A introdução de Del Toro resume muito bem o esquema seguido no roteiro de David S. Goyer (indo além do que deveria ser uma pista), então, o que sobreleva essa simplicidade é como a narrativa organiza os acontecimentos, trazendo uma abordagem não linear que segura o mistério para um desfecho com reviravolta. Outro destaque é como o terror se faz pela construção de atmosfera e jogo de movimentação de câmera — a exemplo da tensa sequência que o cadáver se desloca pelo chão do necrotério improvisado, além do apelo para o horror body.

Mesmo que The Autopsy se coloque como um dos melhores episódios desse segmento inicial, é perceptível uma recorrência na série de trabalhar com fobias, o que promove um desconforto cada vez mais mórbido e intenso. A direção de Prior encontra êxito ao transitar por esses recursos numa história que prende com facilidade. No mais, vale pontuar como elementos de Lovecraft são mais notórios aqui, o que é evidente com a presença do Cthulhu e o cosmicismo como temática.

A Autópsia (The Autopsy – EUA, 2022)
Direção:
David Prior
Roteiro:
David S. Goyer (baseado no conto de Michael Shea)
Elenco:
F. Murray Abraham, Glynn Turman, Luke Roberts, Dan Beirne, Calwyn Shurgold
Duração:
57 min.

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