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Crítica | O Fantasma de Frankenstein (1942)

Os tropos da franquia começam a mostrar sinais de cansaço em filme divertido, mas sem brilho.

por Rafael Lima
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O Fantasma De Frankenstein, quarto exemplar da franquia iniciada pelo clássico Frankenstein, é considerado um ponto de virada dentro da série. Esse, afinal, é o primeiro filme do Frankenstein da Universal a não contar com Boris Karloff na pele do Monstro, além de possuir um investimento muito mais baixo que os seus antecessores, pois os produtores acreditavam que a marca garantiria um investimento baixo para um retorno rápido. Estes fatores fazem com que muitos apontem essa produção como o início do declínio de qualidade da cinessérie, que a partir dos filmes seguintes, se perderia em Crossovers com os outros Monstros da Universal. É verdade que O Fantasma De Frankenstein fica muitos degraus abaixo de seus antecessores em termos de qualidade, mas ainda existem boas ideias nele, mesmo que não totalmente desenvolvidas.

Na trama, a aldeia onde residia o infame Dr. Frankenstein resolve explodir o castelo do cientista para apagar de vez o histórico de traumas que os Frankenstein deixaram naquele lugar. A explosão, entretanto, acaba libertando o enfraquecido Monstro de Frankenstein (Lon Chaney Jr) do poço de enxofre onde ele havia sido jogado ao fim de O Filho De Frankenstein, e o psicótico Ygor (Bela Lugosi), que também sobreviveu aos eventos do filme anterior, resgata a criatura para que eles possam fugir juntos. Para restabelecer a saúde do Monstro, Ygor e a criatura viajam até o pequeno vilarejo de Visaria, onde o corcunda pretende forçar o filho mais velho de Frankenstein, o Dr. Ludwig Frankenstein (Cedric Hardwicke) a retomar o trabalho que o seu pai e o seu irmão começaram.

Dirigido por Erle C. Kenton, a partir do roteiro de Scott Darling, O Fantasma de Frankenstein traz elementos familiares para a cinessérie, desde a presença da multidão enfurecida, até as cenas de tensão envolvendo o Monstro e uma menina. A própria base do projeto revela essa natureza derivativa, já que assim como em O Filho De Frankenstein, vemos um filho de Frankenstein lidando com o legado do pai, e mergulhando na mesma obsessão de criar o ser perfeito. Verdade seja dita, dentre as franquias do ciclo de monstros da Universal, a série Frankenstein sempre foi a que teve a fórmula mais rígida, mas ainda assim, o roteiro de Darling trabalha com os tropos da franquia de forma pouco cuidadosa, bastando observar que o que convence Ludwig a tentar corrigir o monstro, é a aparição do fantasma do pai, em uma gambiarra narrativa bem sem-vergonha.

Por outro lado, existem ideias bem curiosas nesse projeto, como o conceito de troca de cérebros, uma forma que Ludwig encontra para trazer de volta um colega morto pelo monstro e, ao mesmo tempo, redimir a criatura dando a ela um cérebro normal, o que é um bom ponto de retorno para o primeiro filme. Esse conflito sugere uma ótima discussão filosófica sobre imortalidade e identidade, mas a obra mal arranha essa discussão, seja no texto ou no subtexto. Da mesma forma, o longa sugere camadas mais profundas do Monstro, ao desenvolver a relação da criatura com uma menininha da aldeia, que revela impulsos conflitantes no personagem de Chaney JR, mas mais uma vez, falta um certo desenvolvimento para este tópico. As coisas parecem acontecer rápido demais no filme, me deixando com a impressão de que os parcos sessenta e sete minutos do filme poderiam ter se beneficiado de algum tempo a mais para explorar melhor alguns dos conflitos.

A direção é pouco inspirada quando comparada à de seus antecessores, mas cumpre bem a sua função. Na parte do elenco, Bela Lugosi é mais uma vez o destaque, tornando Ygor uma presença sempre ameaçadora e inquietante em cena. Lon Chaney Jr, por sua vez, tinha um desafio em mãos ao substituir Karloff, e infelizmente, não consegue fazer muito com o personagem. Chaney Jr opta por viver a criatura de forma apática, mesmo quando o roteiro exige que o personagem demonstre alguma emoção, como em suas interações com a garotinha, por exemplo, o que se revela uma escolha infeliz. Fechando o trio principal, Cedric Hardwicke concede a Ludwig Frankenstein a respeitabilidade apropriada, mas falta algo na construção do personagem que realmente nos convença do porquê esse homem acha uma boa ideia seguir o caminho que trouxe tanta desgraça para a sua família.

Apesar desses problemas, não dá para dizer que O Fantasma de Frankenstein é um filme que não funciona como entretenimento, pois funciona. Ainda que não tenha a mesma elegância de James Whale, ou a inventividade visual de Rowland V. Lee, Erle C. Kenton ainda consegue conceder alguma atmosfera para o projeto, que deve agradar especialmente os fãs do estilo clássico de horror da Universal. A curta duração da obra, por sua vez, concede ao longa uma agilidade que beneficia o ritmo da narrativa, sem tornar a história truncada. Por fim, o ótimo trabalho de Bela Lugosi como o traiçoeiro Ygor também merece ser exaltado, em um dos desempenhos mais subestimados do clássico ciclo de horror da Universal.

O Fantasma De Frankenstein realmente inicia o declínio de qualidade da franquia, ao reciclar uma série de ideias vistas nos filmes anteriores, sem o mesmo brilho de antes, em um filme apressado demais para realmente desenvolver as próprias ideias, confiando demais nos elementos já conhecidos pelo público. Por outro lado, o filme de Erle C. Kenton ainda consegue ser uma matinê divertida, e manter um pouco da tensão que sempre permeou os dramas e conflitos do Frankenstein da Universal. Sendo esse o último filme solo estrelado pelo monstro, e o último a realmente tratá-lo como um personagem ao invés de um truque de parque de diversões, podemos dizer que O Fantasma de Frankenstein consegue encerrar a série-solo de Frankenstein com alguma dignidade, mesmo que bem longe de ser brilhante.

O Fantasma de Frankenstein (The Ghost of Frankenstein) — Estados Unidos, 1942
Direção: Erle C. Kenton
Roteiro: Scott Darling (Baseado em personagens de Mary Shelley)
Elenco: Bela Lugosi, Lon Chaney Jr, Cedric Hardwicke, Ralph Bellamy, Lionel Atwill, Evelyn Ankers, Janet Ann Gallow, Barton Yarborough, Doris Lloyd, Leyland Hodgson, Olaf Hytten
Duração: 67 minutos

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