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Crítica | O Ex-Mágico

por Guilherme Coral
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estrelas 5,0

É triste enxergar o quanto um curta-metragem tem pouco espaço nos dias atuais. Anteriormente exibidos antes dos longa-metragens nas sessões de cinema, eles foram, aos poucos, jogados para o escanteio e atualmente sobrevivem única e exclusivamente através de festivais e, mais recentemente, o canal Curta!, uma ótima adição às nossas televisões, que valoriza esse lado do cinema enquanto nos oferece a possibilidade de conhecer fascinantes obras de ótimos cineastas. O Ex-Mágico, de Olímpio Costa e Maurício Nunes é uma dessas obras que tive a sorte de assistir no Festival do Rio 2016, uma animação com forte teor surrealista que nos faz mergulhar nas desilusões da vida.

Nela acompanhamos um ex-mágico, que abandonara sua profissão e passara a viver uma vida de funcionário público. A magia de seu trabalho anterior fora substituída pela mesmice, por uma rotina que consiste em acender seu cigarro e digitar em sua máquina de escrever do escritório. Com uma narração em off de Paulo Laurindo, que funciona como a materialização do psicológico do protagonista, enxergamos o quanto ele sente falta de sua vida antiga e constantemente ele é assolado por visões que o relembram disso, como leões, pássaros e coelhos em seu apartamento ou na rua.

O trabalho de animação realizado aqui é certamente o ponto que mais se destaca. Ao adotar uma linguagem surrealista, ele retoma as origens da animação, com formas que se esticam ou se transformam em outras, fazendo total uso das possibilidades oferecidas pelo desenho. O preto e branco perfeitamente reflete a disposição do personagem, um mundo que perdera toda sua cor quando se tornara funcionário público, algo que descreve como “morrer aos poucos”. Mesmo suas visões que o remetem ao passado são tristes, com animais desanimados. Ele vê nessas imagens mentais, sua única companhia nesses anos de solidão, algo perfeitamente simbolizado pelo coelho que fuma ao seu lado em uma ocasião.

Em poucos minutos, Olímpio Costa e Maurício Nunes conseguem nos mostrar toda a monotonia dessa vida do ex-mágico e demonstram perfeitamente como a válvula de escape desse homem está justamente em sua própria cabeça. Sua necessidade de libertação gera os momentos surreais que assistimos e eles trazem até um alívio ao espectador, que é colocado em uma posição de claustrofobia, conforme assiste a tristeza do protagonista e de sua repetitiva rotina. O som desempenha um ótimo papel aqui e com tons graves aumenta essa nossa tensão, criando um quadro de insustentabilidade dentro da trama.

É uma verdadeira pena que O Ex-Mágico não ganhe o espaço que deveria dentro do cinema. Trata-se de uma obra angustiante, simples, porém marcante, que perfeitamente resume a vida de inúmeros profissionais que largaram seus sonhos para buscar uma vida mais estável. Essa figura do ex-mágico simboliza a perda da magia da vida quando nos acomodamos, quando deixamos de ousar e escolhemos o caminho óbvio ou o mais fácil. Uma animação com forte teor surreal que certamente merece ser assistida, evidenciando o talento de animadores em nosso próprio país, que de forma alguma os valoriza como devia.

O Ex-Mágico — Brasil, 2016
Direção:
Olímpio Costa, Maurício Nunes
Roteiro: Olímpio Costa, Maurício Nunes
Vozes: Paulo Laurindo
Duração: 11 min.

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