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Crítica | O Escorpião Negro (1957)

Um clássico do horror B dos anos 1950.

por Leonardo Campos
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Ao contrário do que muitos pensam, eles não são insetos. Os escorpiões, artrópodes com mais de 2 mil espécies espalhadas pela natureza, entre a selva e os espaços urbanos, são criaturas conhecidas por seus hábitos noturnos e bastante discretos. Geralmente, estas criaturas se escondem em troncos e cascas de árvores, mas também se fazem presentes em aglomerações de zonas urbanas com planejamento abaixo do esperado. Constantemente lemos ou acompanhamos reportagens televisivas com menções à infestação destas criaturas observadas com temor pelos humanos, haja vista a possibilidade de óbito, a depender do veneno injetado numa pessoa durante um incidente que gera dor e desconforto. Todos eles são venenosos, e o cinema, ciente do poder desta criatura no imaginário, já investiu em sua presença como animal assassino, mas em menor dose que outras criaturas mais frequentes, tal como a aranha e até mesmo as infames baratas. O impacto de sua ferroada é semelhante ao da abelha e de todas as espécies, 25 são mortais aos seres humanos. Nada agradável, não é mesmo?

Mais alegórico que presença física pronta para promover a destruição, os escorpiões são criaturas que provocam nas pessoas as mesmas sensações experimentadas no indesejado contato com aranhas e baratas. Da primeira, tememos o perigoso veneno, da segunda, sentimos o nojo diante da monstruosidade deste ser asqueroso. Em O Escorpião Negro, clássico trash de 1957, dirigido por Edward Ludwing e escrito por David Duncan e Robert Blees, ambos inspirados no argumento de Paul Yawitz, um terremoto atinge uma região mexicana e um vulcão se estabelece para deixar todos preocupados. O problema é que esse é o menor dos problemas, caso levemos em consideração um monstro artrópode que sai das profundezas geológicas do acontecimento e começa o seu processo de destruição massiva ao longo dos 88 minutos desta aventura que diverte de maneira ágil, sem as enrolações excessiva diante de supostos debates sobre ciências, etc. Aqui, o foco dos realizadores é o excesso. E com pitadas generosas de humor involuntário, afinal, a própria premissa de um escorpião mutante e gigante já é risível.

Quem protagoniza a ação de investigação e descobertas é a equipe de geólogos composta por Dr. Hank Scott (Richard Denning) e Arturo Ramos (Carlos Rivas), enviados para observação e análise. Entra na história a fazendeira Teresa Alvarez (Maria Corday), mulher que se tornará interesse amoroso de um dos pesquisadores, conteúdo para acrescentar cenas ao filme com estrutura dramática limitada, diálogos bem razoáveis e personagens arquetípicos para os padrões atuais. O vulcão faz surgir esta ameaça, originada de um esconderijo que também habita aranhas e vermes gigantes. Dr. Velasco (Carlos Músquiz), outro especialista, é chamado para ajudar na saga de eliminação dos bichos. A questão é saber como. Será que uma descarga elétrica dá jeito? É isso que o grupo precisa descobrir. Enquanto isso, cenas toscas, mas divertidas, engendram a estrutura narrativa desta produção, em especial, a cena de ataque ao trem. Hoje o CGI seria dominante em cenas assim, mas naquela época as miniaturas e outros truques davam conta da construção de trechos deste tipo nas narrativas do gênero. E convenciam.

Como em outras produções do tipo, gados aparecem mortos de maneira incomum, situação que desperta os envolvidos para a anormalidade do caso. Se a história é genérica, não podemos dizer o mesmo dos detalhes técnicos. Mesmo com as diversas limitações da época, O Escorpião Negro possui um cuidadoso aporte de animatrônicos e outros recursos utilizados para criar o máximo de cenas com a criatura delineada para o público. Esse lance de esconder o monstro durante o filme todo não acontece por aqui. Com o mesmo produtor do King Kong “original”, uma prótese de cabeça de escorpião em larga escala para ser usada em closes e os efeitos sonoros das formigas de outro clássico contemporâneo, O Mundo Em Perigo, a produção contou com Lionel Lindon na direção de fotografia, Paul Sautell na trilha sonora (repleta de cornetas altas), Mondine Rogne no design de som e Edward Fitzgerald no design de produção, adequado para os espaços cenográficos por onde a história destes imensos escorpiões assassinos se desenvolvem.

Com menor oferta de emprego que a sua parente distante, as aranhas, essas criaturas estiveram mais recentemente em Escorpiões a Bordo, terror na linha do filme sobre serpentes, sequestradores, Samuel L. Jackson e um avião. Na trama, um grupo de passageiros de um voo comercial se tornam vítimas de escorpiões geneticamente modificados, transportados ilegalmente. Ao escapar do pacote que os embala, um festival de horror se estabelece. Ademais, com forte presença no imaginário, os escorpiões representam forte personalidade, traição, ciúme, vingança, luxúria, dentre outros traços culturais e comportamentais da humanidade. Já simbolizaram deuses e mitos nas civilizações antigas, além de permaneceram conectados com significações acerca das dualidades entre luz e sombra, morte e renascimento, bem como coisas ligadas ao fenômeno da criação. Eu, como cinéfilo apaixonado pelas temáticas do horror ecológico, ainda acho que falta um filme de escorpiões ao estilo Aracnofobia.

O Escorpião Negro (Black Scorpion –  Estados Unidos, 1957)
Direção: Edward Ludwig
Roteiro: Robert Blees, David Duncan, Paul Yawitz
Elenco: Richard Denning, Mara Corday, Carlos Rivas, Mario Navarro, Carlos Múzquiz, Pascual García Peña, Fanny Schiller, Pedro Galván, Arturo Martínez
Duração: 62 min.

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