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Crítica | O Enxame (1978)

por Leonardo Campos
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As abelhas são insetos fascinantes, vitimados constantemente pela ação humana. Responsáveis pela polinização e por oferta de mel, substância útil para tantos segmentos farmacêuticos e também a criação de iguarias no bojo da gastronomia, as rainhas, zangões e operárias sofrem cotidianamente com o extermínio provocado por substâncias químicas dispersadas na natureza. Como um ser tão dócil pode ser tão mortal? Essa é a pergunta que o espectador se faz nos primeiros minutos de O Enxame, questão respondida em poucos instantes, prolongados durante a extensa jornada de matança destes insetos que aqui, mergulhados na onda dos animais assassinos do cinema da década de 1970, ocupam um pomposo lugar de monstros. Bem maior que a maioria das narrativas do segmento, chamado de horror ecológico, a produção de 150 minutos é tediosa, amarrada e desinteressante em vários aspectos, tradução do romance de Arthur Herzog, A Invasão das Abelhas, obra ponto de partida que já não era “grande coisa”. Com a sua estrutura de épico, a aventura de horror entedia vertiginosamente e não funciona por se levar demais à sério, algo que não é nem no discurso científico que se propõe a abordar.

Dirigido por Irwin Allen, tendo como base o roteiro de Sterling Silliphant, O Enxame nos apresenta um entomologista que ao lado de uma força-tarefa, busca deter um enxame gigantesco de abelhas africanas, rumo ao esquema instintivo de destruição que pode devastar o território estadunidense em menos tempo do que se imagina. Imunes, fortes e resistentes aos pesticidas, tais insetos passaram por pesquisas descontroladas que as tornaram mais agressivas e mortais. Bradford Crane (Michael Caine) é quem está na frente da ação, acompanhado de Helena (Katharine Ross), especialista que o ajuda a contar adequadamente a história de origem desta devastação para as autoridades, tendo em vista contar com o apoio ideal para conter o desastre que em seus primeiros registros, já devastou vidas de maneira assombrosamente violenta. Como já é de se esperar, os militares inicialmente duvidam da dupla, até que a crise com as abelhas ganha um rumo desesperador e corpos são empilhados com maior frequência.

Para piorar, a cidade foco da história, Marysville, organiza a festa anual das flores, um evento que aquece a economia local e está longe do interesse de cancelamento por parte da prefeitura, dos comerciantes, etc. No meio disso tudo se desenvolve vários dramas pessoais, captados pela direção de fotografia de Fred J. Koenekamp, imagens guiadas pela condução musical eficiente de Jerry Goldsmith, sincopada ao design de som irritante, tomado por sons de abelhas, sinalização da ameaça constante. Uma espécie de aviso para os espectadores. Dentre as histórias que forma o mosaico humano de O Enxame, temos um jovem médico apaixonado por uma paciente grávida, mulher que por sua vez, é cheia de questões, principalmente por ser viúva. Uma professora, dividida entre dois homens, terá de decidir entre essa situação melodramática ou sobreviver diante da ameaça de picadas mortais das abelhas que tinha de ser africanas, exóticas, uma representação cabal do “outro”, estereótipo comum na ficção estadunidense.

Há ainda um pai em luto, marcado pela morte do filho na guerra, além de outras pequenas situações que envolvem crises familiares e amores não resolvidos. Diante da crise, no entanto, como dizem alguns personagens, “saiam das ruas, entrem em suas casas”. Com a morte anunciada por zumbidos pavorosos das abelhas, as coisas do coração ganham menor importância aqui, situação que pede as pessoas que salvem as suas vidas. Numa escola, um ataque de abelhas nos faz lembrar o quanto os pássaros orquestrados por Alfred Hitchcock e sua equipe ainda são referências basilares para os filmes com monstros e situações decorrentes da fúria da natureza. Com um final bastante anticlimático, O Enxame não consegue ser divertido o suficiente para esquecermos que a sua estrutura dramática é ruim. O design de produção assinado por Stan Jolley cumpre bem o seu trabalho situacional, a edição de Howard Jensen tenta sem sucesso, dar ritmo ao filme, mas o resultado é muito insatisfatório. Ademais, apenas um caso de entretenimento abaixo da média sobre ataque de abelhas transformadas em perigosos monstros assassinos. Fosse menor, talvez envolvesse mais. Mas é longo. E chato.

O Enxame — (The Swarm – Estados Unidos, 1978)
Direção: Irwin Allen
Roteiro: Stirling Silliphant, Arthur Herzog
Elenco: Michael Caine, Katharine Ross, Lee Grant,  Richard Widmark, Richard Chamberlain,  Olivia de Havilland
Duração: 150 min.

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