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Crítica | O Defensor, de G. K. Chesterton

por Luiz Santiago
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Podemos definir O Defensor como o início da produção mais relevante e bojuda do britânico G. K. Chesterton na literatura (ou seja, sua obra em prosa). Antes da chegada dessa coletânea de ensaios leves às livrarias, o autor havia publicado dois livros de poemas, Greybeards at Play e The Wild Knight and Other Poems, ambos de 1900. Mas foi no final de 1901, após revisão pessoal de textos inicialmente publicados no jornal The Speaker (apenas partes de Em Defesa da Publicidade foram publicadas no jornal The Daily News) que o autor atingiu o público com algo verdadeiramente marcante em termos de ideias e que foi um sucesso de imediato. Após O Defensor, Chesterton se sentiria muito mais à vontade para teorizar sobre coisas que de gostava e que lhe chamavam a atenção, pensamento que o empurraria para o seu próximo livro, Doze Tipos (1902) e uma versão ampliada e também revisada desta coletânea de artigos com “biografias críticas” de personalidades, o volume que hoje conhecemos como Tipos Variados (1903).

O Defensor tem uma proposta interessante. Na coluna em que esses textos foram originalmente publicados, Chesterton pretendia discutir instituições, ações, objetos, pensamentos, coisas e tipos de pessoas que ele considerava ser de grande importância para a civilização, mas que a maioria considerava inútil e desprezava, em diferentes intensidades. Como são produções do início da carreira do autor, vemos algumas ideias que posteriormente ganhariam melhor contorno em sua produção (especialmente coisas relacionadas à política ou a pensamentos que podem ir para esse lado, sendo o principal caso Em Defesa do Patriotismo — onde eu mais discordo do ponto de vista dele) e daí também podemos apontar uma série de confusões referenciais que comete ao se referir a algumas obras e conceitos, algo que a edição da Ecclesiae faz muitíssimo bem em apontar no rodapé de cada página em que o problema aparece.

Nesses pensamentos, Chesterton começa de modo bastante lírico ou despreocupado, criando uma espécie de figura geral, de cena geral para o leitor e, a partir do impacto dessa cena é que começa a sua defesa da vez. A tríade de escritos que abre o livro (Em Defesa das Novelas de Um Centavo, Das Promessas Temerárias e Dos Esqueletos) são incríveis exemplos de como criar um argumento importante a partir de algo extremamente simples ou até banal. No terceiro ensaio ele consegue até uma cadência poética, levando a conversa para uma “defesa dos esqueletos” de tudo quanto existe — é muito engraçado como ele cria o argumento a partir das árvores sem folhas — , e claro, chegando à condição humana, que é onde o texto ganha sua maior força e exprime a sua maior lição.

Por falar em humor, este é um ponto que está o tempo inteiro no livro, mesmo nos ensaios mais sérios ou nos mais chatinhos, que são bem poucos, e mais para o final do livro. A escrita de Chesterton tem um elemento delicioso de captura do leitor. Sua escolha de palavras é muito bem pensada para ser irônica, para ter conteúdo, para às vezes fazer rir e constantemente fazer pensar, o que torna os seus textos uma verdadeira caixinha de surpresas, com exemplos diretos, metáforas e comparações que nos pegam de surpresa. Algo como Em Defesa dos Planetas poderia ser facilmente publicado com a data de hoje, onde a fanfic doente sobre a Terra plana voltou a ganhar milhares de adeptos e tudo o que ele diz ali faria (ainda mais!) sentido e lançaria (ainda mais!) carapuças para muita gente vestir em nosso tempo.

Já o caso dos incomparáveis Em Defesa do Absurdo, Das Coisas Feias e principalmente Da Veneração Pelos Bebês (meu favorito da coletânea, junto com Em Defesa dos Esqueletos) vemos uma construção que não só nos faz rir, mas nos faz viajar, nos faz sentir um certo calor humano, nos faz ver uma certa essência de viver a vida que raramente um autor consegue fazer a gente encontrar fora de uma tese filosófica ou de um grande romance. A elegância mista de ideias instigantes e expostas de forma clara e dinâmica prende o nosso olhar e o nosso pensamento ao livro, deixando-nos, ao final, com um novo pensamento sobre muita coisa simples (algumas bem próprias do tempo do artista, mas que a gente consegue facilmente ver e se relacionar pela defesa que ele faz) e uma nova mania de defender supostas inutilidades.

O Defensor (The Defendant) — Reino Unido, outubro de 1901
Autor: G. K. Chesterton
Publicação original: The Speaker e The Daily News
No Brasil: Ecclesiae, 2015 (Edição contendo O Defensor e Tipos Variados)
Tradução: Mateus Leme
144 páginas

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