- Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios da série.
Loyalty to the Master solidifica que O Continental não é uma minissérie de ação, mesmo que tenha pequenas cenas de combate. O que vemos ao longo do episódio é efetivamente uma história genérica de crime, com pitadas superficiais de thriller e investigação. É uma pena que os desenvolvedores da obra não quiseram capitalizar na linguagem da franquia, mas é o que temos para hoje. Não dá pra ficar reclamando da proposta da produção, então vamos analisar o que estamos assistindo: uma guerra criminosa entre Winston e Cormac, com participação tangencial da Alta Cúpula em seu interesse pela máquina de moeda.
O segundo capítulo da temporada serve para estabelecer os dois lados do conflito, mais especificamente com parte do roteiro focado em reunir o exército de Winston e a outra parte destinada a nos apresentar as características insanas do antagonista vivido por Mel Gibson. É uma história extremamente protocolar em todos os sentidos, levando o protagonista e seus parceiros à pequenas vinhetas em que conhecem e conquistam diferentes aliados (o sniper cegueta; o submundo dos mendigos; o amigo de Charlie), enquanto a série nos dá um falso senso de construção de mundo. A mitologia aqui é mais focada em referências (a juíza, a rainha do subterrâneo, Charon) do que realmente algum tipo de exploração verdadeiramente cativante dos elementos próprios deste universo.
Essas reuniões de Winston me soaram forçadas e descontextualizadas na forma súbita e irritantemente fácil que o personagem conquista aliados e rapidamente monta um pequeno exército para enfrentar o hotel de assassinos, além de que esses momentos não têm qualquer nível de tensão ou até mesmo charme para capturar nossa atenção. Notem aquela sequência ridícula de Winston saindo pela porta dos fundos do QG subterrâneo ao som de rock como se tivéssemos visto uma grande descoberta de um mundo desconhecido… é tudo muito enfadonho, isso sim. E nem quero debruçar muito na deslocada subtrama investigativa de KD, que parece ir para lugar nenhum.
Ademais, toda a ginástica dramática que o episódio faz para estabelecer o antagonismo de Cormac é puro desperdício de tempo. O personagem de Gibson é só mais um bandido lunático convencional que precisa de gore gratuito para deixar uma impressão no espectador, o que estaria tudo bem se estivéssemos vendo uma série de ação em que o personagem é só um alvo, mas que perde força numa história de crime que naturalmente precisa de outras camadas para ganhar substância. O teatrinho com o músico, a manipulação de Charon e o discurso de lealdade não funcionaram para mim.
As poucas partes interessantes do episódio envolvem… ação! Quem imaginaria, não é mesmo? O bloco com Yen traz aquelas características bacanas dos filmes: conexão emocional simples e direta como meio de justificar pancadaria bem coreografada, com destaque para as mortes violentas no cinema abandonado. O outro bloco com Lou batendo na máfia chinesa também é extremamente divertido, evocando um pouco de blaxploitation tanto no estilo narrativo quanto no exagero visual, ainda que a subtrama da personagem também soe um tanto deslocada na narrativa geral.
O Continental: Do Mundo de John Wick realmente veio para negar a ação estilosa da franquia e para nos entregar um produto comum que tem intuito de expandir uma construção de mundo que ninguém pediu e que parece cada vez menos inspirada quando não faz parte do frenesi da pancadaria. Num episódio de ritmo ruim e de muita enrolação em suas manipulações cafonas e estratagemas bregas, essa empreitada soa cada vez mais como uma furada em sua historinha ordinária e protocolar de Winston tomando conta do território nova-iorquino. Veremos o que o episódio final e o clímax da minissérie nos reserva.
O Continental: Do Mundo de John Wick (The Continental: From the World of John Wick) – 1X02: Loyalty to the Master (EUA, 29 de setembro de 2023)
Desenvolvimento: Greg Coolidge, Kirk Ward, Shawn Simmons
Direção: Charlotte Brändström
Roteiro: Greg Coolidge, Kirk Ward, Shawn Simmons, Ken Kristensen
Elenco: Mel Gibson, Colin Woodell, Mishel Prada, Ben Robson, Hubert Point-Du Jour, Nhung Kate, Jessica Allain, Ayomide Adegun, Jeremy Bobb
Duração: 79 min.
