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Crítica | O Continental: Do Mundo de John Wick – 1X01: Brothers In Arms

Um hotel perigoso.

por Kevin Rick
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios da série.

Eu adoro a franquia John Wick. Junto com Missão Impossível e The Raid, são minhas cinesséries favoritas do gênero de ação da última década. Portanto, a expansão do universo do Baba Yaga é algo que chama a minha atenção, apesar de ficar com o pé atrás para qualquer produção da franquia que não tenha o envolvimento direto de Keanu Reeves e principalmente do diretor Chad Stahelski. Aqui em O Continental, Stahelski, David Leitch e Derek Kolstad, trio responsável pelo início do mundo de Wick, servem apenas como produtores do spin-off desenvolvido por Greg Coolidge, Kirk Ward e Shawn Simmons, que acompanha a história de origem de Winston Scott (Colin Woodell), personagem conhecido na franquia como o gerente do hotel que abriga os assassinos do submundo do crime, interpretado nos filmes por Ian McShane.

Em linhas gerais, a minissérie quer explorar um pouco mais da mitologia da franquia, que ficou famosa por suas facções, sistema de assassinos, regras, moeda corrente e todo o mundo secreto bem caracterizado e divertido dos filmes. Para isso, somos levados aos anos 70, quando um chefão do submundo que comanda o Continental de Nova York chamado Cormac (Mel Gibson), sequestra Winston para fazê-lo encontrar seu irmão perdido, Frankie Scott (Ben Robson), que roubou um objeto valioso da Alta Cúpula. O dispositivo roubado é um mero macguffin que dá pontapé à jornada de Winston eventualmente assumir a gerência do hotel.

Meu primeiro receio com essa expansão de mundo da franquia é justamente o fato de não haver nada realmente interessante para expandir. Os personagens excêntricos, os cenários secretos e as regras mortais são apenas artifícios para construir as encenações elegantes da franquia e levar John Wick para a próxima fase, para o próximo desafio e para mais capangas que serão mortos. Em suma, a mitologia deste universo serve ao espetáculo imagético da ação, e não o contrário. Então, querer dar foco a essas informações do submundo não é algo exatamente fascinante e, de muitas formas, vai na contramão do que a linguagem da franquia propõe ao público.

Mas claro que entendo algumas dessas escolhas criativas, começando pela simples ideia de explorar um novo tipo de narrativa no mundo de Wick. Aqui, estamos menos no gênero de ação e mais numa história inspirada em thrillers de crime dos anos 70, com referências diretas à ascensão da máfia e consequências de um pós-guerra. Inclusive, a escolha do diretor Albert Hughes é inteligente nesse sentido, considerando que é um cineasta conhecido por obras sobre cenários urbanos violentos. A recriação de uma Nova York suja, mórbida e que parece ter um bandido em cada esquina é ambientação de qualidade, até levemente evocando o noir numa trama secundária com a detetive KD (Mishel Prada).

A questão é que não há nada particularmente cativante na história do piloto. O drama em torno dos irmãos é relativamente batido e não ganha nenhuma dimensão dramática para nos fazer emocionar com a morte de Frankie ou seus sacrifícios, apesar dessa porta continuar aberta quando o passado da família Scott for revelado. Mais problemático do que isso, porém, é o desenvolvimento indiferente da trama de mistério e de poder em torno do hotel e da sociedade de assassinos, com andamentos corridos para situar Winston em Nova York e levá-lo rapidamente a seu irmão com pouco estabelecimento de uma história de crime de qualidade ou até mesmo de heist, tampouco há tempo para criar interesse na subtrama investigativa de KD, que parece extremamente deslocada no episódio.

O passeio pela cidade com suas figuras coloridas e bizarras tem seu humor visual e sarcástico dos filmes, principalmente com o grupo de contrabandistas de armas que são donos de um dojo, mas a maneira como a narrativa é desenvolvida gera pouca intriga com a exploração deste submundo secreto, caindo numa impressão genérica com a velha história do vilão que quer um objeto de valor. A direção de Hughes até tenta criar algum tipo de sentimento visual com tudo isso, só que o diretor parecer ter dificuldade em equilibrar algumas dessas ideias de um drama acentuado de crime com camadas familiares com o lado de ação, que ganha uma set-piece legalzinha com Frankie no início do episódio, mas que sempre parece trazer a pancadaria com um certo desconforto em tela. As cenas de ação com Winston não funcionam (até porque ele é um protagonista mais burocrático do que lutador), e algumas sequências aqui, como a perseguição de carro picotada mostram pouca criatividade com o lado eletrizante deste mundo.

O Continental, ironicamente, não parece ter vindo do mundo de John Wick. As referências dos combates rápidos sem cortes aparecem e o palco da história de Winston é o mesmo, mas o estilo de direção, a abordagem narrativa e a personalidade da produção é completamente diferente dos filmes. Enxergo valor na tentativa de algo diferente, mas penso que essa não é uma franquia com substância dramática ou narrativa para segurar uma história de crime nos anos 70 com conflitos de poder, mistérios do passado e investigação de um universo secreto. Aplaudo a novidade, mas ao ir na contramão do que fez a franquia se tornar célebre, a minissérie nega as melhores qualidades dos filmes.

O Continental: Do Mundo de John Wick (The Continental: From the World of John Wick) – 1X01: Brothers In Arms (EUA, 22 de setembro de 2023)
Desenvolvimento: Greg Coolidge, Kirk Ward, Shawn Simmons
Direção: Albert Hughes
Roteiro: Greg Coolidge, Kirk Ward, Shawn Simmons
Elenco: Mel Gibson, Colin Woodell, Mishel Prada, Ben Robson, Hubert Point-Du Jour, Nhung Kate, Jessica Allain, Ayomide Adegun, Jeremy Bobb
Duração: 87 min.

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