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Crítica | O Colosso de Rodes (1961)

por Guilherme Coral
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estrelas 2

Neste primeiro filme dirigido exclusivamente por Sergio Leone, o italiano aposta em um épico de sandálias e espadas, seguindo o exemplo de sua experiência anterior com Os Últimos Dias de Pompéia. O Colosso de Rodes é um dos poucos filmes a retratar o período entre a morte de Alexandre e domínio do Império Romano da região. Infelizmente, contudo, a retratação exibida na obra não chega, nem de perto, a ser historicamente precisa, mesclando o romano com o grego, constituindo um anacronismo que, de fato, não chega a atrapalhar a narrativa, somente tira sua riqueza historiográfica.

Analisar este primeiro trabalho de Leone por tal lado seria, contudo, um equívoco. Lançado em 1961 o filme faz parte de uma onda de épicos passados na antiguidade clássica, ao exemplo de Ben Hur e Spartacus. Sob esta ótica, podemos, então, relevar a presença de uma arena romana em plena Grécia, ou até que o protagonista em questão possui o nome do Persa que não muito tempo atrás visou a dominação do mediterrâneo.

Deixando, portanto, de lado tais detalhes, chegamos à história do longa-metragem propriamente dito. Na ilha de Rodes, após a construção de seu colosso, uma rebelião começa a se formar – cidadãos insatisfeitos com a escravidão pela qual seu povo é submetido. Com o intuito de obter apoio do continente, os rebeldes decidem pedir ajuda a Dario (Rory Calhoun), um comandante ateniense atualmente presente na ilha. A narrativa, então, passa a focar no homem ainda ignorante aos esquemas que seria, em breve, submetido. Trata-se de um clássico exemplo de trama cujo protagonista não tem escolha, sendo tragado para eventos dos quais não consegue escapar. Como um bom herói dos anos 1960, contudo, o ateniense não hesita, se tornando não somente central para a trama, como para os eventos que se desenrolam em Rodes.

Não demora muito, porém, para o roteiro começar a confundir seu espectador. Buscando tornar o filme cada vez mais épico, vemos um abandono da simplicidade, que a cada sequência introduz novas problemáticas dentro de sua narrativa. Vale ressaltar que a história em si não é complexa, o problema está na forma como é conduzida, dando pouco espaço para a audiência se acostumar com os eventos ou personagens apresentados. Para piorar a situação, a arte não ajuda, colocando figurinos e maquiagens que pouco se diferenciam entre si. Somente no terço final da projeção conseguimos ter uma ideia de quem é quem.

Quando, enfim, o texto começa a ganhar um certo foco, já se passou metade da duração do longa e, até então, fomos deixados sem tensão ou sequer uma linha narrativa efetiva. Tal fator é ainda mais prejudicado pela revelação da trama logo nos primeiros minutos – se simplesmente seguíssemos a história pelo ponto de vista de Dario, teríamos um suspense para nos manter presos à obra. Esse lento desenrolar da trama acaba levando à uma demasiado extensa duração do filme e, mesmo com isso, não temos personagens bem construídos, somente agentes do roteiro, a fim de promover a progressão da história.

Mesmo as cenas de ação não conseguem atrair a atenção do espectador, resultado das coreografias pouco criativas – em geral vemos uma repetição de movimentos, mesmo em sequências bastante espaçadas entre si. O único ponto que podemos considerar uma exceção é o combate nos braços do colosso, que se destaca pelo realismo da cena. Este efeito somente é produzido graças ao trabalho de fotografia de Antonio L. Ballesteros, que opta por planos mais extensos, a fim de garantir o deslumbramento da audiência pela gigantesca produção do longa, que, apesar dos anacronismos, nos transporta diretamente à Grécia antiga.

Não podemos falar de épicos, porém, sem falar da trilha sonora. O experiente Angelo Francesco Lavagnino, em seu segundo trabalho ao lado de Leone (o primeiro tendo sido Os Últimos Dias de Pompéia), nos traz melodias grandiosas e chamativas, que não hesita em chamar a atenção do espectador quando a imagem em si não consegue. O destaque vai para a música tema, recorrente ao longo da obra, que transmite perfeitamente a temática desejada pelo diretor italiano.

Apesar de sua longa duração, O Colosso de Rodes não consegue trazer um efetivo desenvolvimento para sua trama ou personagens, exibindo situações forçadamente grandiosas, quando a alternativa mais simples produziria um resultado mais efetivo. Seu encerramento conta com o mesmo problema do primeiro épico que Leone participou na direção, ao ponto que introduz uma resolução preguiçosa e pouco criativa, como se o roteiro estivesse esgotado de alternativas. O longa-metragem é um evidente produto de sua época, genérico e sem vida. Busca o épico, exagera e cai no lugar comum, por pouco entretendo seu público.

O Colosso de Rodes (Il Colosso di Rodi – Itália/ Espanha/ França, 1961)
Direção: Sergio Leone
Roteiro: Ennio De Concini, Sergio Leone, Cesare Seccia, Luciano Martino, Ageo Savioli, Luciano Chitarrini, Carlo Gualtieri
Elenco: Rory Calhoun, Lea Massari, Georges Marchal, Conrado San Martín, Ángel Aranda, Mabel Karr, Mimmo Palmara, Roberto Camardiel.
Duração: 127 min.

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