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Crítica | O Clube de Leitores Assassinos

Fanficando o slasher.

por Felipe Oliveira
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Já se passa mais de duas décadas desde que Pânico revitalizou um subgênero desgastado aos olhos da crítica e público, e o choque do que Kevin Williamson e Wes Craven fizeram causou uma incerteza quanto aos filmes que surgiram na era pós-Ghostface pois, de ficção científica, a longas sobre vampiros e lobisomens, era nítido a intenção de levar a linguagem meta de Scream para essas histórias. E como qualquer outro filme que queira parecer inteligente, subversivo da linha que se propõe, o slasher espanhol El Club de los Lectores Criminales não nega seu objetivo de emular Scream, mas no caminho, também pega um pouco de It: A Coisa, Cry Wolf: O Jogo da Mentira e Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado e reflete em um filme que não se esforça para ter personalidade, e sim, de parecer inovador enquanto copia um argumento que continua intacto e serve de modelo… ao menos, para quem aprendeu alguma coisa.

De uma forma estranha, o roteiro de Carlos García Miranda tinha um potencial que poderia ser explorado ao imaginar o slasher pelo viés da literatura do terror, lançando um assassino oriundo do amadorismo do universo das fanfics. Porém, a suposta inspiração cai por terra quando a sátira sobre casos de plágios e inveja entre fanfiqueiros é desperdiçada por um slasher metalinguístico que quer o todo tempo ser Scream. Logo, os livros de terror seriam o nicho em questão enquanto as fanfics seriam como Stab, uma criação meta pra falar de livros dentro do filme. Pior do que esse paralelo, são as cenas que imitam momentos específicos da franquia, a exemplo da discussão sobre sequências em Pânico 2, Billy e Stu e até o icônico desfecho entre Kirby e Charlie em Pânico 4.

A impressão é que ao ver a tendência de requels e como o slasher está em um momento sólido, Miranda quis participar da ação replicando tudo o que consegue de Scream ser soar como um plágio descarado, mas ao contrário de ter uma metalinguagem de terror literária, O Clube de Leitores Assassinos é uma fanfic sem inspiração reproduzindo uma história de prestígio. A trama poderia ser um slasher sobre um fanfiqueiro aspirante a escritor, fã de filmes de terror que faz sua versão do Ghostface com máscara de palhaço, mas Miranda não aceitaria ser menos que uma cópia do original, jogando uns elementos diferentes como se ninguém nunca tivesse conhecido o filme lançado em 1996, nem mesmo sua paródia que chegou quatro anos depois fazendo uma sátira sobre filmes de terror, tendo como base Scream e I Know What You Did Last Summer.

Acompanhado de um design de produção voltado para cores e variações vibrantes, o visual do longa parece entregar uma experiência muito mais atraente do que a trama consegue convencer – até nos takes mais apelativos com gore gráficos, o que resta um choque visual para degustação. Há trechos em que essa ambição de tons fortes são evidentes, e de longe, se fazem os momentos mais inspirados na fraca direção de Carlos Alonso Ojea. Em suas referências rasas do que seria uma cena de perseguição, o diretor se resume a aparição do assassino e da vítima correndo sem nenhum toque de clímax ou tensão, o que deixa as chace scenes desconexas, sem soarem que, de fato, pertencem a esse universo de terror sem personalidade. 

Qualquer caminho que fosse no mínimo divertido – pois teria elementos para isso, como o assassino lançar o capítulo da fanfic logo após abater suas vítimas – Ojea e Miranda seguem para o lado oposto, caindo em uma das ambições mais ridículas para o slasher.  Entre reconhecer que outros filmes emularam Scream de forma criativa e tentar oferecer qualquer argumento fresco em cima disso, a dupla prefere explicar risivelmente os tropos do terror para um público que tem em mãos uma nova trilogia da famigerada franquia, ou eles acharam que ninguém nunca tentou escrever uma fanfic do Ghostface?

Diferente de Most Likely to Die, filme lançado em 2015 que fazia uma espécie de cópia aos slashers dos anos 90 mas se assumia como uma homenagem, O Clube de Leitores Assassinos oscila entre um mimetismo tosco em parecer inteligente e de fracassar na possibilidade de cumprir suas promessas, pois, em vez de intimidar os personagens com ligações, o Ghostface vestido de palhaço se infiltra no clube dos universitários, rotula os integrantes, aterroriza as vítimas com os capítulos sobre suas mortes, e no fim, a sátira com ares de subversão é só um remix de referências do terror que não tem nada a dizer.

O Clube de Leitores Assassinos (El Club de los Lectores Criminales – Espanha, 2023)
Direção: Carlos Alonso Ojea
Roteiro: Carlos García Miranda
Elenco: Veki Velilla, Álvaro Mel, Iván Pellicer, Priscilla Delgado, Ane Rot, Hamza Zaidi, María Cerezuela, Carlos Alcaide, Daniel Grao
Duração: 88 min.

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