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Crítica | O Castelo Assombrado (1963)

O encontro de quatro gigantes.

por Fernando Campos
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Roger Corman, Francis Ford Coppola, H.P. Lovecraft e Edgar Allan Poe. Esses quatro gigantes da arte têm um ponto de convergência. Chama-se O Castelo Assombrado, obra que reúne quatro grandes mentes da narrativa. Na direção, temos Roger Corman, o mestre dos filmes de baixo orçamento, com imensa habilidade em fazer muito com pouco. No roteiro, encontramos um jovem Francis Ford Coppola, já demonstrando sua habilidade para criar atmosferas densas e explorar personagens sombrios. Por trás da inspiração da história, há a influência literária de dois gigantes: Edgar Allan Poe, com seu fascínio por decadência, loucura e morte, e H.P. Lovecraft, cujas explorações do desconhecido e do inominável encontram eco nos seres monstruosos da obra. Juntos, esses quatro ajudam a moldar uma obra que, mesmo com problemas, mergulha nas profundezas da psique humana e permitindo que a gente veja, aqui e ali, um pouco do que cada um possui de melhor.

O filme narra a história de Charles (Vincent Price), dono de um castelo em um vilarejo chamado Arkham, condenado à morte por bruxaria. No momento derradeiro de sua morte, ele roga uma praga dizendo que voltará dos mortos para matar seus algozes. Cem anos depois, o tataraneto de Charles chega à cidade com o desejo de retomar a propriedade de seu ancestral e precisa lutar para manter a sanidade em meio a tantas influências sobrenaturais. 

Embora o filme não consiga criar um vínculo emocional profundo com o público, em parte devido ao distanciamento com que os personagens são tratados, ele compensa ao mergulhar numa atmosfera psicológica densa e inquietante. O clima de terror é construído com uma sutileza que evoca as narrativas de Poe, especialmente na forma como a decadência e a loucura permeiam o cenário e as interações entre os personagens, enquanto alguns se amam muito, outros nutrem uma repulsa quase irracional. 

Já por parte de Corman, o diretor consegue construir uma mansão opressiva, com tons pesados, e detalhes que remetem a uma textura deteriorada. O palco é construído e filmado para a exploração dos medos internos, com os personagens parecendo sempre pequenos em uma trama maior do que eles. Como diz Charles em determinado momento, “nós mesmos não temos muita ideia do nosso trabalho aqui, só obedecemos”. Isso ainda se assemelha à maneira como Lovecraft lidava com o incompreensível, ao mesmo tempo que inevitável quanto aterrorizante. Portanto, se há um claro distanciamento emocional na obra, por outro lado o filme consegue manter nossa curiosidade com a causa de toda aquela insanidade.

Corman ainda faz um trabalho eficiente ao transportar o espectador para um estado de inquietude, onde a fronteira entre o real e o imaginário se dissolve. Esse tom é reforçado pela trilha sonora de tons graves e pela fotografia sombria que, juntas, intensificam a sensação de isolamento. Contudo, ao manter os personagens à distância, o filme carece de um impacto emocional mais direto, o que o distancia de algumas das obras mais comoventes de Poe.

Ainda assim, o mérito de O Castelo Assombrado está em sua habilidade de, mesmo sem grandes arcos emocionais, fazer o espectador refletir sobre os mistérios e horrores da mente humana, criando uma experiência que é menos sobre sustos e mais sobre uma introspecção perturbadora. Aqui, o caso é do protagonista lutando contra a influência maligna do tataravô, uma luta que se dá na mente dele e convence graças a uma atuação inspirada de Vincent Price, intercalando com maestria um tom mais afável com uma voz impaciente e rouca. Nisso, ainda é possível identificar um pouco de Coppola, que sempre tratou em suas obras sobre o peso da herança familiar, como em O Poderoso Chefão, ou os lados mais obscuros da ambição humana, como em Apocalypse Now.

O Castelo Assombrado se destaca não apenas como uma obra atmosférica e inquietante, mas também como um encontro histórico entre quatro mestres de diferentes áreas criativas. A combinação da visão cinematográfica ousada de Roger Corman, o talento emergente de Francis Ford Coppola, e as influências literárias profundas de Edgar Allan Poe e H.P. Lovecraft, resulta em uma obra que vai além do simples terror. Mesmo que o filme falhe em criar uma conexão emocional direta com o público, sua importância reside no fato de unir esses nomes significativos, proporcionando uma exploração estética e psicológica do medo. 

O Castelo Assombrado (The Haunted Palace) – EUA, 1963
Direção: Roger Corman
Roteiro: Charles Beaument, Francis Ford Coppola (com base na obra de Edgar Allan Poe e H. P. Lovecraft)
Elenco: Vincent Price, Debra Paget, Lon Chaney Jr., Frank Maxwell, Leo Gordon, Elisha Cook Jr., John Dierkes, Cathie Merchant
Duração: 87min

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