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Crítica | O Cão dos Baskervilles (1959)

O Sherlock Holmes da Hammer.

por Rafael Lima
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Terence Fisher foi um diretor que em seu trabalho com a Hammer Film, teve a chance de trabalhar com alguns dos maiores ícones da literatura, como Drácula, Frankenstein, Dr. Jekyll e Sr. Hyde ou o Fantasma da Ópera. Com este filme, Fisher e a Hammer decidiram adicionar o mais famoso detetive da ficção, Sherlock Holmes, a sua coleção, ao adaptar aquele que talvez seja o trabalho mais célebre de Sir Arthur Conan Doyle, o romance O Cão Dos Baskerville, que não por acaso, foi a obra mais adaptada do escritor escocês.

Na trama, Sherlock Holmes (Peter Cushing) e o Dr. Watson (Andre Morell) são contratados pelo Dr. Mortmer (Francis De Wolff) para proteger a vida de Sir Henry Baskerville (Christopher Lee), que estaria sendo ameaçado por uma antiga maldição de família, que diz que todos os Baskerville serão exterminados por um cão demoníaco. Viajando para as charnecas britânicas de Dartmoor, Holmes e Watson devem descobrir se existe algo de sobrenatural na ameaça que ronda a vida de Sir Henry ou se alguém estaria se valendo da lenda para extinguir a família Baskerville.

Diferente do que havia feito anteriormente com as obras de Mary Shelley e Bram Stoker, Fisher mantém-se relativamente fiel ao texto de Doyle, apenas acrescentando algumas reviravoltas no clímax que são bem interessantes, e honestamente, talvez até mais envolventes do que a do material original. No mais, o filme segue a estrutura básica conhecida por todos aqueles que já leram o livro ou assistiram algumas de suas adaptações, com a apresentação inicial do problema para o detetive e seu parceiro em Londres; Watson assumindo sozinho a investigação por um tempo quando assuntos urgentes impedem Holmes de ir a Dartmoor, e o desfecho, quando Sherlock Holmes mais uma vez assume o centro da investigação.

O desenho de produção segue o padrão Hammer de qualidade. As charnecas pantanosas que cercam o Solar dos Baskerville surgem enevoadas e intimidadoras, como se a qualquer momento o cão do título pudesse saltar sobre uma vítima ou alguém pudesse afundar nos traiçoeiros pântanos da região. A arquitetura gótica presente tanto no Solar dos Baskerville, como na capela abandonada onde ocorreram a maioria dos ataques do cão (um acréscimo do roteirista Peter Bryan) também dão aos cenários da história uma atmosfera misteriosa e imponente. Apesar de aparecer pouco, essa foi a primeira versão em que o famigerado Cão dos Baskerville me meteu medo, sendo essa talvez a melhor versão live action do famigerado animal.

Quanto ao elenco, confesso que o retrato que Peter Cushing, (um ator que admiro muito) fez de Sherlock Holmes me incomodou um pouco. Cushing parece dar um ar exageradamente teatral as típicas grosserias do detetive, um recurso que apesar de ter funcionado com atores que antecederam e sucederam Cushing no papel, como Basil Rathbone e Benedict Cumberbatch, não funcionou com um dos mais competentes atores da Hammer. André Morell vive o Dr. Watson com dignidade, e apesar de seu personagem não ser lá muito profundo, Morell dá pequenos toques ao personagem que evidenciam de forma sutil a sua longa convivência com o detetive, como o fato de parecer mais se divertir com as demonstrações de intelecto de Holmes do que ficar espantado, caminho que muitos atores que interpretam o personagem escolhem.

Por fim, fechando o elenco principal, Christopher Lee tem aqui a chance de interpretar um tipo de personagem que raramente vivia nos filmes da Hammer, o de um homem simpático e galanteador, longe da persona sinistra que geralmente assumia. Lee interpreta Sir Henry como um jovem viajado, que não acredita nas besteiras supersticiosas pregadas pela lenda. Ao mesmo tempo, é um cavalheiro que gosta de flertar, que não perde a chance de arrastar asa para cima de Cecile Stapleton (Marla Landi) filha de um fazendeiro pobre da região.

Infelizmente, falta algo a O Cão dos Baskerville para que ele esteja entre os grandes filmes de Terence Fisher na Hammer. Embora toda a atmosfera e o climão presente nos longas da Hammer esteja presente (especialmente nos projetos comandados por Fisher), falta aquele momento acachapante em que o espectador fica na ponta da cadeira, que o cineasta sabe entregar tão. Todo o núcleo da investigação é conduzido de forma um pouco cansada, com os momentos de revelação não tendo a força dramática que poderia, ou a ironia que poderiam

Para ser justo, a obra tem a atmosfera de um típico filme da Hammer, e Terence Fisher está jogando com seus pontos fortes de direção na condução do suspense e no uso dos elementos de horror, ainda que esteja ciente de que esta é uma história consideravelmente mais leve do que as que estava acostumada a contar naquele período. Apesar dos elementos sobrenaturais sugeridos e da atmosfera gótica, estamos diante de um thriller e não de uma trama de horror. A atmosfera do filme é um dos seus grandes trunfos, mas eu esperava que o lado investigativo da história fosse conduzido de forma um pouco mais engajante.

Embora hoje seja considerado por muitos críticos como um dos melhores filmes da Hammer, O Cão dos Baskerville se saiu mal nas bilheterias na época, o que encerrou a ideia que o estúdio tinha de lançar uma franquia estrelada pelo detetive, como fez com Drácula e Frankenstein. Apesar de não ter ficado totalmente satisfeito com o filme, acho uma pena, pois fiquei curioso para ver como o estúdio adaptaria outras obras de Doyle, como Um Estudo em Vermelho e O Signo dos Quatro, além de ver a versão Hammer para célebres personagens sherlockianos, como Irene Adler e o Professor Moriarty. Teríamos leituras mais góticas para essas histórias e personagens? Nunca saberemos.

O Cão dos Baskerville (The Hound of Baskerville) -Reino Unido, 1959
Direção: Terence Fisher
Roteiro: Peter Bryan (Baseado em romance de Sir Arthur Conan Doyle)
Elenco: Peter Cushing, André Morell, Christopher Lee, Francis De Wolff, Maria Landi, Ewen Solon, David Oxley, John Le Mesurier, Helen Goss, Miles Malleson, Sam Kydd, Michael Mulcaster, Judi Moyens, Michael Hawkins
Duração: 87 min.

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