Home FilmesCríticasCatálogos Crítica | O Cão do Diabo (1978)

Crítica | O Cão do Diabo (1978)

Um cão utilizado como máquina de matar por forças diabólicas.

por Leonardo Campos
1,3K views

Esse é um filme que não faz parte exatamente do horror ecológico, sendo mais especificamente uma abordagem sobrenatural do demoníaco, tendo um animal como catalisador das desgraças empreendidas por um grupo que busca, através da criatura, estabelecer um reinado de horror entre a humanidade. O Cão do Diabo trafega por essas vias, dialogando entre um ponto e outro com a lógica do animal assassino que deixa um longo rastro de corpos e sangue. Lembra bastante as estratégias narrativas de Stanley e O Jogo da Morte, filmes sobre o uso de animais para a perpetuação de projetos audaciosos de vingança, no caso destes exemplares, serpentes perigosas e mortais. Aqui, sob a direção de Curtis Harrington, cineasta que se guia pelo roteiro de Stephen Karpf e Elinor Karpf, temos o uso de um canino por um grupo de adoradores do diabo, numa trama rocambolesca que entretém e até assusta para a sua época, apesar de ter envelhecido. Com trilha sonora de Artie Kane, direção de fotografia de Gerald Perry Finnerman e design de produção de William Cruse, o filme é uma travessia audiovisual eficiente, apesar dos fatores mencionados anteriormente sobre o anacronismo de sua estrutura em determinados aspectos narrativos.

Basicamente, o argumento trabalha com a ideia de um cão satânico que aterroriza uma família. Os efeitos? Medianos. O desenvolvimento dos personagens? Interessante. O ritmo da narrativa? Razoável, na linha do “podia ser melhor”. Ademais, uma trama bem a cara de sua época, com todas as características muito próprias do terror sobrenatural dos anos 1970. Ao longo de seus 95 minutos, acompanhamos um grupo de satanistas que se desloca para um canil no interesse de comprar um cão para um ritual. Logo na abertura, contemplamos o animal inocente sendo ludibriado a se tornar uma máquina assassina. No ritual, os personagens utilizam roupas encapuzadas, velas exóticas, imagens demoníacas que nos remetem à semiótica do terror, além do pastor alemão colocado dentro de um pentagrama, acorrentado, pronto para ser possuído pelas forças do além.

Com a câmera subjetiva, somos guiados pelo processo de fecundação e surgimento de uma nova entidade, aparentemente mansa e meiga, mas na verdade, como o próprio titulo do filme denomina, o “cão do diabo”. Para o filme funcionar e não se tornar um exercício aleatório de mortes, dependemos de conflitos para o desenvolvimento narrativo. É quando entra a família gerenciada por Mike (Richard Crenna) e Betty (Yvette Mimilux), casal que retorna para casa pensando no aniversário de 10 anos de Bonnie (Kim Richards). Enquanto dialogam sobre o presente que darão para a pequena, descobrem ao estacionar que o cachorro de estimação da família foi atropelado. Com a morte do mimoso Skipper, o leitor já tem uma ideia geral do esquema narrativo: em algum momento, a família vai adotar o cão satânico e com isso, colocarão uma entidade infernal dentro de casa. E, de fato, é assim que as coisas se encaminham. O que descobriremos depois é a motivação da morte do cão Skipper, atropelado por um misterioso furgão preto.

Por qual motivo a família em questão ganhou o cãozinho novo? Há algo de errado com isso e o nosso trabalho enquanto espectador é sentar e interpretar as coisas, conforme as informações vão chegando. Algumas perguntas são vãs, pois não encontramos respostas esquematizadas de acordo com o que pregam os manuais de dramaturgia mais recorrentes. Assim, certo dia, a tristeza de Bonnie vai passar, principalmente com o apoio de seu irmão, Charlie (Ike Eisenamann). Ele incentiva a irmã a aceitar o cão doado pelo vendedor de legumes que passa pela rua e para em na porta da casa desta família que vivenciará momentos de puro horror. Morre o vizinho, a empregada doméstica, outros incautos pela rua e imediações, numa trama sobre um animal assassino guiado por forças diabólicas que incentivam até mesmo os jovens Bonnie e Charlie na arte de cultua-la. Divertido, com bons momentos, mas um pouquinho mais lento do que deveria ser, Cão do Diabo mescla subgêneros do terror e se apresenta melhor que muitos exemplares do seu tipo pelo fato de desenvolver adequadamente seus personagens, diálogos e desfecho da história.

O Cão do Diabo (Devil Dog: The Hound of Hell, EUA – 1978)
Direção: Curtis Harrington
Roteiro: Elinor Karpf, Steven Karpf
Elenco: Richard Crenna, Yvette Mimieux, Bob Navarro, Daniel Selby, Ike Eisenmann, Charlie Barry, Ken Kercheval, Kim Richards (I), Lou Frizzell, Martine Beswick, R.G. Armstrong, Victor Jory
Duração: 95 minutos

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais