Obs: Não confundir este conto com o título homônimo The Road to Dune dado à compilação de textos e contos tanto de Frank Herbert quanto de Brian Herbert e Kevin J. Anderson, organizada por Brian Herbert e lançada em setembro de 2005.
Apesar de merecidamente mais conhecido por Duna e pelos cinco livros posteriores que se passam nesse fascinante universo de um futuro distante da Terra que ele criou, Frank Herbert foi um escritor prolífico, criador de diversos outros universos diferentes. Autor de muitos romances e também de contos, estes publicados em diferentes revistas americanas especializadas em ficção científica e também na forma de livro, com um ou dois expandidos para ganhar forma de romance, Herbert nunca deixou Arrakis para trás, com o ano de 1984 sendo particularmente especial por ele não só ter publicado Hereges de Duna, quinto capítulo de sua saga que, infelizmente, acabaria sendo o penúltimo, como pelo lançamento da famosa – mas mal recebida – adaptação cinematográfica de David Lynch.
Para não perder oportunidades, Herbert foi instado pela Berkley Books a publicar uma compilação de contos que já haviam sido publicados antes separadamente e que não tinha relação com Duna. Para tornar a proposta ainda mais atraente para seus fãs na época, o autor propôs-se a escrever um conto passado no universo de Duna, uma verdadeira raridade e que seria o único se descontarmos os capítulos que ele escreveu, mas acabou não inserindo em Duna e Messias de Duna e que foram publicados mais tarde por seu filho na citada compilação The Road to Dune. No entanto, diferente do que poderia se imaginar, o que Herbert escreveu talvez sequer possa ser chamado de conto, pois o texto ilustrado de 20 páginas é, literalmente, algo que poderia muito bem ser – e foi escrito para ser – um folheto ou um guia para peregrinos que desejam conhecer Arrakis durante o império de Paul Atreides, perfazendo o único conto inédito da referida compilação e, também o único que se passa nesse universo.
Trata-se, sem dúvida alguma, de uma proposta inusitada e razoavelmente interessante para aqueles que fazem questão de ler tudo relacionado a esse universo, especialmente tudo o que foi escrito pelo autor original e não por seu filho ao lado de Kevin J. Anderson. Com linguagem em 2ª pessoa (do discurso), ou seja, com o uso constante de “você”, o breve guia leva o leitor – ou, mais precisamente, o peregrino que acabou de chegar no planeta – pelos detalhes de uma Arrakis sob o jugo do Messias, com comentários sobre grandes estruturas como o palácio imperial de Arrakeen e o Templo de Alia, detalhes como o ornitóptero particular de Muad’Dib e artefatos ixianos, e também figuras relevantes como a Reverenda Madre Gaius Helen Mohiam e Duncan Idaho, dentre menções à possibilidade de o peregrino adquirir “lembrancinhas” de sua viagem.
Sob o ponto de vista literário, há pouco valor em O Caminho para Duna. A linguagem é simplista e básica como um guia dessa natureza deveria ser mesmo. Sob o ponto de vista da mitologia de Duna, porém, diria que o guia mais do que cumpre sua função de ser uma bem pensada peça ficcional que se encaixa perfeitamente na tecitura geral do universo que Frank Herbert criou. E esse encaixe torna-se ainda mais interessante com as ilustrações que acompanham o guia, feitas por Jim Burns sem se basear no filme lançado no ano anterior e que criam uma visão rara – aprovada diretamente por Herbert – de como o autor imagina locais e personagens.
O Caminho para Duna é, portanto, uma curiosidade descompromissada de fácil leitura e digestão por fãs do universo de Duna que desejam absorver absolutamente tudo o que Herbert Pai escreveu. Há diversão em imaginar-se um peregrino chegando em Arrakis, assim como há prazer em ler algo desse universo por Herbert que não está inserido em sua hexalogia e que, ainda por cima, é acompanhado de ilustrações sancionadas pelo autor que não sejam capas de seus livros.
O Caminho para Duna (The Road to Dune – EUA, 1985)
Contido em: Eye
Autor: Frank Herbert
Editora original: Berkley Books
Data original de publicação: 1985 (a compilação Eye e também o conto O Caminho para Duna)
Páginas: 20