Obs.: o texto conta com inevitáveis spoilers do início do filme, nada mais do que foi mostrado nos trailers.
A vida dá voltas. Quando iniciamos um caminho, por mais planejada que seja a jornada, não há como saber aonde terminaremos e são poucas as franquias que demonstram isso com maior clareza que a iniciada em O Diário de Bridget Jones. O problema da história em questão, porém, é que ela dá voltas demais, sem verdadeiramente sair do lugar, ao ponto que o resultado de O Bebê de Bridget Jones é apenas mais uma pura repetição do longa-metragem original e, como No Limite da Razão, temos aqui mais uma oportunidade perdida para abordar temáticas bastante comuns de nossa sociedade.
Anos se passaram desde que Mark Darcy (Colin Firth) pediu Bridget Jones (Renée Zellweger) em casamento. Os anos, porém, não foram bons para o casal, visto que agora estão separados. A projeção tem início com Jones em uma situação igual ao que vimos no primeiro capítulo, com a protagonista se entregando à solidão. Após a repentina morte de Daniel Cleaver (Hugh Grant), Bridget novamente reavalia sua vida e, naturalmente, suas resoluções não chegam a ser concretizadas, visto que ela acaba engravidando sem sequer saber quem é o pai: Mark ou Jack (Patrick Dempsey), com quem recentemente fizera sexo casualmente.
De todos os possíveis caminhos que O Bebê de Bridget Jones poderia ter seguido, aparentemente a equipe de roteiristas composta por Helen Fielding, Dan Mazer e Emma Thompson escolheu o pior, colocando como o maior problema da obra a identidade do pai, ao invés da protagonista ter de encarar a vida de uma mãe solteira, que, mesmo nos dias atuais, não é nada fácil. Evidente que toda a carga dramática presente entre Darcy e Jones não poderia ser desperdiçada e o texto, como o fechamento de um ciclo, buscou criar paralelos com o primeiro filme, mas, visto que a sequência anterior seguiu por um caminho praticamente idêntico, não podemos deixar de sentir como se um pouco mais de inovação fosse necessária. O que é bastante curioso, visto que, mesmo com Cleaver morto, encontraram uma maneira de substituir seu personagem, fazendo uso de Jack como o outro interesse romântico de Bridget.
Dito isso, o longa consegue, sim, ser divertido como uma comédia romântica dentro do que consideramos normal. As cenas que não envolvem humor exagerado conseguem trazer boas risadas para a audiência. Junto disso, temos um uso ainda mais pontual de canções pré-existentes, uma diminuição considerável do que vimos em No Limite da Razão, que já reduzira a dose em relação ao primeiro filme. Chega ao ponto em que muitas dessas músicas aparecem de forma diegética dentro da narrativa, criando menos quebras de imersão e potencializando o drama de muitas cenas, que são preenchidas pelas notas da trilha sonora original.
Outro ponto interessante é como, mesmo depois de tantos anos e de terem envelhecido consideravelmente, a química entre Firth e Zellweger permanece inabalada. No olhar dos dois sentimos como se estivessem diante de uma relação amorosa muito importante e consideravelmente mal-resolvida. Evidente que isso transborda para o espectador e chega a ser praticamente impossível que não torçamos por Darcy, ansiando a cada momento para que o casal se reúna mais uma vez. Esse sentimento cria um vínculo inegável entre o espectador e a obra e, por mais que tenhamos completa consciência de que estamos assistindo um longa-metragem bastante genérico, não temos como não mergulhar na projeção.
Dito isso, eu não poderia afirmar que O Bebê de Bridget Jones não funciona, pois ele cumpre a função de entreter, ainda que não dê um passo além disso. Trata-se de um filme cuja problemática central é praticamente um espelho da primeira entrada da trilogia, uma pura repetição que traz mais um desfecho, sendo que os dois longas anteriores haviam encerrado muito bem a jornada de Bridget. O que temos aqui, portanto, nada mais é que uma ode aos fãs que tanto se apegaram a esses personagens e que ainda não estão prontos para deixá-los de lado.
O Bebê de Bridget Jones (Bridget Jones’s Baby) – Reino Unido/ Irlanda/ França/ EUA, 2016
Direção: Sharon Maguire
Roteiro: Helen Fielding, Dan Mazer, Emma Thompson
Elenco: Renée Zellweger, Colin Firth, Patrick Dempsey, Gemma Jones, Jim Broadbent, Sally Phillips, Shirley Henderson, Sarah Solemani, James Callis
Duração: 123 min.