Em 2001, a carismática e atrapalhada Bridget Jones, interpretada com garra pela atriz Renée Zellweger, surgiu na cena cinematográfica, traduzida da literatura para a linguagem da era da maior amplitude na reprodutibilidade técnica. O Diário de Bridget Jones chegou de mansinho e acabou conquistando um contingente considerável de público, além de agradar aos críticos, algo que rendeu à sua interprete a primeira indicação ao Oscar na categoria Melhor Atriz. Divertido, dominado por piadas bem construídas e situações de fácil identificação, pelo fato de serem essencialmente humana e, englobarem encantos e desencantos nos relacionamentos entre homens e mulheres, o filme garantiu uma sequência, também inspirada no romance homônimo de Helen Fielding, mas sem o mesmo tom. Bridget surgiu em cena em meio ao roteiro desequilibrado e foi colocada em situações vexatórias que não eram mais tão engraçadas, porque se apresentaram como exageradas, oriundas de um roteiro baseado em um livro de escrita preguiçosa. Foi preciso, no entanto, dar mais uma chance para a protagonista após o desastroso Bridget Jones: No Limite da Razão. É nesse processo de novos caminhos que entra o interessante e atrativo O Bebê de Bridget Jones, terceira incursão da personagem no cinema.
Ao longo de seus 120 minutos de narrativa, o filme consegue criar conexões narrativas com as propostas do ponto de partida de 2001, mantendo ainda algumas trapalhadas e desacertos para Bridget, mas sem forçar o tom. Muito disso foi possível graças ao trabalho de Sharon Maguire na direção, cineasta que toma como ponto de partida, o texto dramático de Dan Mazer e Emma Thompson, atriz que também surge em cena como a obstetra com algumas falas cômicas para intensificar a carga dramática do que o filme nos oferta enquanto entretenimento. Apesar de ser mais longo do que aparentemente precisava, numa proposta que se resolveria tranquilamente em torno de 90 minutos, O Bebê de Bridget Jones faz rir, emociona, mantém o seu elenco dentro de equilibradas linhas de diálogo, sem precisar apostar no histrionismo para fazer graça. Nada contra uma boa comédia física, mas os excessos, em alguns casos, podem comprometer a integridade do que é narrado, como ocorreu em 2004 com a nossa querida personagem.
Lançado em 2016, o filme continua a narrativa da protagonista, agora embarcando em uma nova fase de vida: a maternidade. A trama se concentra nos desafios enfrentados por Bridget ao descobrir que está grávida e não sabe exatamente quem é o pai de seu filho. Ela trafega enquanto por sua vida amorosa complexa entre dois homens significativos: Mark Darcy (Colin Firth) e Jack Qwant (Patrick Dempsey). A estrutura narrativa combina elementos de comédia romântica com questões contemporâneas sobre maternidade, identidade e a busca pela felicidade, tal como os antecessores, sendo dessa vez, a maternidade como um tema central da produção, capturando as ansiedades e as alegrias que vêm com a preparação para a chegada de um novo ser. Bridget reflete sobre sua adequação para ser mãe, lidando com inseguranças e expectativas sociais. A competente Renée Zellweger, como de hábito, traz uma genuína vulnerabilidade à personagem, permitindo que o público se identifique com sua luta, gargalhando nos momentos das trapalhadas, mas sendo empático e solidário com suas inquietações.
Como mensagem, podemos interpretar que O Bebê de Bridget Jones reflete a complexidade das relações amorosas, especialmente em um contexto moderno. A interação entre Bridget, Mark e Jack exemplifica as diversas formas de amor e compromisso, enquanto questiona o que significa realmente estar em um relacionamento. O dilema de Bridget em escolher entre um parceiro que ela conhece intimamente, mas que é emocionalmente reservado, e outro mais espontâneo, mas menos comprometido, reflete uma escolha que muitas mulheres enfrentam, retratando a ideia de que o amor não é sempre simples. Ademais, a narrativa ainda continua em sua abordagem comum na franquia: abordar a pressão que as mulheres enfrentam em relação à sua imagem e sucesso, explorando a autocrítica que muitas sentem ao atingirem certa idade. Bridget, que enfrenta estigmas de como uma mulher “deve” se comportar ou alcançar determinadas expectativas, navega por essas questões com humor e autenticidade, ecoando dilemas que muitas mulheres contemporâneas reconhecem.
A direção de Sharon Maguire mantém o tom humorístico dos anteriores, em especial, do primeiro, colhendo algumas derrapadas do segundo para melhor utilizá-las nessa terceira incursão. As situações embaraçosas, os diálogos espirituosos e a ironia, com o uso do humor não só para dar leveza à narrativa, mas também permitir que os temas mais pesados sejam abordados de forma acessível continuam nessa jornada que também acerta em seus elementos estéticos. A textura percussiva de Craig Armstrong, associada aos habituais clássicos e contemporâneos da cultura pop, deixam o filme dentro de um ritmo atraente. A direção de fotografia de Andrew Dunn entrega movimentação e enquadramentos elegantes, tal como o cuidadoso design de produção de John Paul Kelly. Mais uma vez, somos colocados diante do humor autodepreciativo de Bridget, um dos seus principais traços, o que a torna uma personagem cativante e de fácil identificação conosco, os seus espectadores também tomados por inseguranças, dúvidas, dentre outras características que nos tornam seres humanos. A jornada, que continua no mais recente Bridget Jones: Louca Pelo Garoto, ainda tem o que nos falar sobre essa personagem “doidona”, mas cativante.
Bridget Jones: Louca Pelo Garoto (Bridget Jones: Mad About The Boy) – Inglaterra/França, 2025
Direção: Michael Morris
Roteiro: Dan Mazer e Abi Morgan, baseado no romance homônimo de Helen Fielding
Elenco: Renée Zellweger, Chiwetel Ejiofor, Hugh Grant, Helena Rivers, Leo Woodall, Colin Firth, Sally Phillips
Duração: 124 min.