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Crítica | O Ataque dos Tomates Assassinos

por Fernando Annunziata
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Em 1963, Hitchcock fez um filme mostrando um selvagem ataque de criaturas aladas a seres humanos… As pessoas riram. Em 1975, 7 milhões de pássaros invadiram uma cidade americana, resistindo a todo esforço para expulsá-los… Ninguém está rindo agora. Este é um filme sobre tomates assassinos.

Um clássico do gênero trash, O Ataque dos Tomates Assassinos não hesita em explicitar a metalinguagem como forma de satirizar a si mesmo. Não para menos, se considerarmos que a pauta não demonstra algo que deseja ser sério, ou seja, a ideia inicial é a própria piada. Felizmente, o absurdo presente na narrativa e o excesso de irrealidade não deixaram o diretor esquecer que um trash ainda precisa ser inteligente e bem pensado para se tornar um clássico, embora um erro muito simples o afasta de uma nota maior. Com um humor leve e boas sacadas, a trama conta a história de misteriosos tomates que começam a assassinar humanos sem motivos aparente.

A frase que abre o filme e faz alusão à uma obra de Hitchcock já demonstra um dos pilares da narrativa: a “auto-sátira”. Esse é o elemento que mais beneficia a película. Grande parte da comicidade está presente nessas pequenas tiradas, arrancando um pequeno riso em cada piada. Claro que O Ataque dos Tomates Assassinos não é projetado para que morrermos de rir, e em nenhum momento a trama demonstrou essa premissa. Entretanto, os vários pequenos risos tornam o filme no mínimo divertido e interessante, ainda levando em conta o absurdo presente na pauta. Convenhamos que é engraçado dizer que está assistindo a um projeto baseado em tomates assassinos.

Positivamente, o diretor não quis ultrapassar o limite do orçamento e se apropriou disso para aumentar ainda mais a comicidade. Por exemplo, nenhum tomate esbanja qualquer tipo de CGI para assassinar as pessoas; pelo contrário, vemos literalmente as frutas aparecendo na câmera, normais, sem rosto ou falas. Esse elemento alavanca ainda mais a base do roteiro, que pretendia algo simples e que só é engraçado porque é muito irreal. Claro que para alcançar esse objetivo não bastava apenas a metalinguagem e o excesso de absurdo, como citados. A trama também é recheada de pequenos momentos que se pararmos para analisar arrancaria, no mínimo, um riso. A exemplo dos militares e os cientistas discutindo como combaterão os tomates em uma minúscula sala, e quando o roteirista pensou em minúscula, ele imaginou algo com 1m².

Claro que há muitos erros narrativos, em especial na continuidade da história. Contudo, o gênero perdoa esses desvios. No entanto, há um defeito que nem o trash perdoa: a falta de aprofundamento nos personagens presentes. Explorar os personagens não significa construir uma história complexa para cada um deles, mas sim se apropriar das características de cada um para que eles também se tornem alvos da sátira. No longa, são apresentados elementos que individualizam cada um: Gretta Attenbaum (Benita Barton), uma nadadora anabolizada, e Greg Colburn (Steve Cates), um perito em mergulho, por exemplo. Entretanto, esses dois personagens não têm suas funcionalidades sequer utilizadas. Por outro lado, quando a trama resolveu explorar uma especificidade, como o especialista em disfarces Sam (Gary Smith) se fantasiando de tomate para “entrar no território inimigo”, a película consegue puxar sequências cômicas eficientes. Essa questão derruba bastante a nota atribuída, visto que a obra deixou de ser algo muito melhor por um erro que, francamente, é muito bobo.

O Ataque dos Tomates Assassinos é um eficiente clássico do gênero trash. Leve, engraçado e diferente, a narrativa também se destaca por reconhecer o excesso de absurdo e, então, brincar consigo mesma. Infelizmente o filme peca em deixar personagens pouco aproveitados, tornando-os objetos inúteis para a construção da ideia do projeto. De mais, não riam dos tomates!

O Ataque dos Tomates Assassinos (Attack of the Killer Tomatoes!) – EUA, 1978
Direção: John De Bello
Roteiro: John De Bello, Costa Dillon
Elenco: David Miller, George Wilson, Sharon Taylor, J. Stephen Peace, Ernie Meyers, Eric Christmas, Ron Shapiro, Al Sklar, Jerrold Anderson, Don Birch, Tom Coleman, Art K. Koustik, Jack Nolen, Paul Oya, John Qualls, Benita Barton, Gary Smith, Steve Cates
Duração: 83 minutos.

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