Home LiteraturaConto Crítica | O Antinatal de 1951, de Carlos Sussekind

Crítica | O Antinatal de 1951, de Carlos Sussekind

Confusões demarcam o período natalino de um misterioso homem neste conto importante, mas tedioso.

por Leonardo Campos
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O Natal, como sabemos, é um período muito específico do nosso calendário, culto milenar que se transformou ao longo da história da humanidade e encontrou, no terreno da ficção, espaço profícuo para o desenvolvimento de muitas situações que delineiam as relações humanas diante dos desdobramentos desta festividade. Há o lado ideal que todos aqueles envolvidos desejam: encontros e reencontros, as trocas de presentes, beijos e abraços, compartilhamento de experiências ocorridas ao longo do ano, uma mesa, de preferência, farta, mesmo que isso não seja uma realidade diante do cenário socioeconômico quando falamos de literatura brasileira, dentre outras coisas almejadas por qualquer pessoa que anseia por dignidade. Mas, há também, o lado caótico e confuso, aquele que faz a ficção se esbaldar com personagens literários, cinematográficos, teatrais ou televisivos expostos aos mais diversos obstáculos para permitir que a tal magia natalina aconteça. É o caso de O Antinatal de 1951, de Carlos Sussekind.

Apesar de ser parte da coletânea Cem Contos Brasileiros do Século XX, organizada por Ítalo Moriconi, publicada pela primeira vez em 2000, não considerei o conto uma obra-prima do autor, para figurar numa seleção tão importante. Literatura, como sabemos, é algo muito subjetivo. Depois de ler e reler algumas vezes, podemos reconhecer a sua importância enquanto estrutura literária fragmentada, bem ao estilo de sua época, encaixado na seção Anos 90 da coletânea. Há, no texto de Carlos Sussekind, uma visão pessimista em relação ao período natalino, material com potencial para um conto, talvez, mais fluente, mas o processo de contemplação da história se transforma em algo técnico na pavimentação da caminhada de leitura, deixando de lado, ao menos, para quem vos escreve, a perspectiva diletante.

No conto, dinâmico, mas excessivamente pontuado e fragmentado, acompanhamos a jornada de dois personagens tentando driblar a burocracia para viajar. Conhecido por manipular textos alheios para criar algo novo e trabalhar as relações entre ficção e realidade, Carlos Sussekind traz em O Antinatal de 1951, o dia de um pai que tenta viajar de trem com o seu filho, mas não consegue fluência no empreendimento. Sabemos, inicialmente, a sua atribuição de pai, depois de curador, para enfim entender que é um funcionário do estado. Bifurcado, o conto nos mostra um dia natalino sem abraços, troca de presente, bem como a ausência de todos os outros itens mencionados anteriormente sobre o período em questão. Na verdade, os próprios personagens não se envolvem com o Natal, sequer estão imbuídos do sentimento da festividade.

O que se passa, então, são momentos de estresse diante dos entraves para conseguir entregar a tal passagem e realizar o embarque. No conto, vislumbramos o lado caótico abordado no começo desta análise. Guirlandas, música específica, árvores decoradas, dentre outros, estão de fora da materialidade do texto. O que se estabelece aqui é o conflito humano em seu estado puro, evidenciado na escrita do autor, um recurso que, mesmo sendo prejudicial para a experiência de leitura, permite que entendamos o estado de espírito de seus personagens. Os acadêmicos, por sua vez, devem amar, e sentir-se diante de um Feliz Natal diante da análise do conto, afinal, se tornou uma convenção exaltar até mesmo aquilo que não se entende direito, mas é supostamente complexo de se fazer. Ademais, tradutor e também artista plástico, Carlos Sussekind atravessou uma vida múltipla artisticamente, tendo publicado pouco material no âmbito da literatura, comparado ao que realizou em suas outras atuações. O conto, publicado na coletânea de Ítalo Moriconi, também esteve anteriormente em Contos Para Um Natal Brasileiro, de 1996.

É, em linhas gerais, uma história estruturalmente interessante, mas pouco atrativa no sentido “o prazer da leitura”.

O Antinatal de 1951 (Brasil, 1996)
Autor: Carlos Sussekind
Editora original: Objetiva
4 páginas

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